Jenny, ex-cristã, Austrália (parte 2 de 2)

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Descrição: Uma adolescente protestante australiana, incomodada com o conceito de Trindade, que abraçou o Islã depois de um ano na escola secundária budista, no Japão. 

  • Por Jenny
  • Publicado em 14 Dec 2015
  • Última modificação em 14 Dec 2015
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Quando voltei para a Austrália do Japão tinha ficado próxima de uma menina com a qual ia para a escola.  Ela sempre estava com alguém que eu considerava ser uma boa amiga, mas não estava em "meu grupo de amigas" com a qual sentava na aula ou almoçava.  Não tinha ouvido falar ou visto algumas pessoas naquele grupo desde que retornei.  Percebi que essa outra garota e eu tínhamos muito mais em comum do que tinha pensado inicialmente.  Talvez fosse porque eu tinha mudado muito no Japão ou talvez porque tinha aprendido que ser "aceitável socialmente" e popular não era importante, porque as pessoas que fazem esses julgamentos não estão sempre corretas moralmente.  Não me importava com quem era meu amigo e quem não era, mas me importava em ser verdadeira comigo mesma e me recusava a mudar para me adequar às outras pessoas.  Sentia como se tivesse descoberto quem eu realmente era, ao perder tudo que antes considerava importante. 

A menina da qual tinha ficado próxima era muçulmana, não que eu pensasse sobre isso na época.  Uma noite sentamos no McDonald’s, tirando vantagem da oferta do "refil grátis de café" e conversamos sobre religião, principalmente sobre a maneira na qual acreditávamos em Deus.  Era ela quem fazia a maioria das perguntas, sobre como eu achava que Deus "era".  Gostei da discussão e senti que de alguma forma estava fazendo sentido para ela, com minha "religião da Jenny".  Quando chegamos em casa ela pegou os 40 hadiths Qudsi e os leu em silêncio.  Leu alguns deles para mim e, claro, fiquei interessada.  Pedi para pegar os livros emprestados para que pudesse sentar e lê-los, o que fiz.  Ler os livros era um pouco assustador.  Para mim, exemplos do Islã podiam ser encontrados nas notícias da TV e nos livros como "Princesa" e "Não sem minha filha".  Certamente, pensei, os hadiths eram apenas a parte boa, mas a parte ruim estava lá também. 

Mudei-me para minha universidade para o início do semestre e não pude mais pegar os livros da minha amiga. Então, comecei a procurar na internet; Já tinha "encontrado" alguns muçulmanos no IRC, mas os considerava meus amigos também e achava que não me diriam a "verdade" sobre o Islã.  Achava que só me contariam as partes boas.  Mas fiz algumas perguntas a eles e, Masha’Allah, eles ajudaram bastante.  Ainda me lembro de perguntar a um muçulmano se ele acreditava em anjos.  Os anjos eram parte de minha "religião da Jenny" e certamente não acreditava que um muçulmano admitiria acreditar na existência de anjos!! Meu entendimento limitado e ignorante de um homem muçulmano era o que ele batia em sua esposa, matava bebês do sexo feminino e era um terrorista em seu tempo livre.  Esse tipo de pessoa não podia acreditar em anjos! Fiquei chocada quando ele disse: "Claro que acredito em anjos".  A partir de então fiquei interessada em saber no que mais os muçulmanos acreditavam. 

Frequentemente penso que inicialmente continuei a ler sobre o Islã pela internet para provar que era errado.  Sempre procurava por aquela "parte ruim".  Não era possível que todos tivessem uma opinião ruim do Islã se não houvesse uma razão.  Sempre tinha encontrado uma parte ruim ou ilógica em todas as religiões sobre as quais tinha lido a respeito. Então, porque o Islã seria diferente? Lembro-me de achar um site de bate-papos islâmico pela primeira vez e esperava ver mulheres reprimidas apenas lendo o que os homens diziam.  Esperava que não tivessem opinião. Esperava a "típica menina muçulmana" da qual sempre tinha sentido pena.  Para minha surpresa vi meninas alegremente batendo papo, expressando opiniões. Essas meninas muçulmanas eram de certa forma mais liberadas que eu.

Meu aprendizado sobre o Islã na internet continuou por meio de bate-papo com muitas pessoas e da impressão do conteúdo de vários sites.  Quanto mais aprendia, mais assustada ficava.  Não contei a nenhum dos meus amigos que estava lendo sobre o Islã, nem mesmo para minha melhor amiga.  A princípio foi porque não queria que ficassem me contando apenas as "partes boas" e, então, mesmo quando percebi que não encontraria as partes ruins, não queria que se empenhassem em me converter ao Islã.  Queria que essa "decisão" fosse feita por mim mesma - sem pressão. 

Essa "decisão" não foi de fato decisão nenhuma.  Com frequência me perguntam "o que a levou à decisão de se tornar muçulmana?", mas quando algo tão claro e lógico como o Islã é colocado na sua frente, não há escolha.  Isso não torna a decisão de dizer a Shahada (o testemunho de fé) mais fácil.  Muitas coisas me impediram a princípio.  Primeiro, não achava que conhecesse o Islã o suficiente, mas não importava porque sabia que nunca encontraria algo ilógico ou "mau".  Passei a me dar conta de que dizer a Shahada não é a etapa final, mas a primeira.  Inshallah (pela vontade de Allah) continuarei a aprender.  Outra coisa que me deixou hesitante era separar a palavra "Islã" de todas as coisas ruins com o qual eu o tinha associado.  Sempre achei que não poderia ser muçulmana! E então aprender que minha "religião da Jenny" e crenças, por exemplo, de Deus ser Único, eram de fato Islã foi difícil, a princípio.  O Islã reuniu tudo, tudo fez sentido.  Para mim, encontrar o Islã era como viagem de ônibus - tinha parado e olhado em todas as paradas ao longo do caminho, pego um pedaço de todas elas e continuei com a viagem.  Quando encontrei o Islã sabia que era a "última parada" da minha longa viagem. 

Em outubro de 1997, minha melhor amiga foi comigo para eu dizer a Shahada no Centro Islâmico em Melbourne.  Ainda estava com medo na época, mas depois que uma das minhas irmãs me explicar os artigos de fé e eu colocar uma etiqueta mental ao lado de cada um deles, soube que não havia nada a fazer, mas dizê-la com minha boca.  Ainda choro quando penso no momento em que disse "Sim, farei." Finalmente derrubei a parede mental que estava me impedindo.  Repeti em árabe, depois da minha irmã.  Com a primeira palavra dela, chorei.  É um sentimento que não consigo explicar.  Minha amiga estava sentada ao meu lado, mas um pouco atrás de mim. Não percebi na hora, mas ela já estava chorando.  Senti muito poder ao meu redor e nas palavras, mas eu mesma me sentia muito fraca. 

Às vezes acho que minha família se pergunta se essa é uma fase pela qual estou passando... assim como minhas outras fases.  Fui até vegetariana até que minha mãe me disse qual era o jantar aquela noite - um assado.  Ainda tenho muito que aprender, mas uma coisa que gostaria que as pessoas compreendessem é que sei, Alhamdulillah (todo o louvor é para Allah), que o Islã é uma bênção para a humanidade.  Quanto mais você aprender, insh’Allah, mais beleza você verá no Islã.

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