Katherine Bullock, ex-cristã, Canadá (parte 1 de 2)
Descrição: Uma mulher educada se debate entre o que ouviu do Islã e o que é realmente o Islã e também sobre a existência de Deus.
- Por Katherine Bullock
- Publicado em 18 Jan 2016
- Última modificação em 18 Jan 2016
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O que estou fazendo aqui? Meu nariz e testa pressionados no chão enquanto me ajoelho em oração. Minhas rótulas doem, os músculos do meu braço se estiram enquanto tento liberar a pressão de minha testa. Ouço murmúrios estranhos da pessoa orando ao meu lado. É árabe e eles entendem o que estão dizendo, mesmo que eu não entenda. Então. Uso minhas próprias palavras esperando que Deus seja gentil comigo, muçulmana por apenas 12 horas. OK. Deus, me converti ao Islã porque acredito em Ti e porque o Islã faz sentido para mim. Eu realmente disse isso? Eu me pego caindo em lágrimas. O que meus amigos diriam se me vissem assim, ajoelhada, nariz pressionado ao chão?... Ririam de mim. Você ficou maluca? Perguntariam. Não pode de verdade me dizer que é religiosa. Religiosa... Já fui uma "ateia especulativa" feliz. Como me transformei em uma crente e em uma muçulmana? Pergunto a mim mesma. Volto minha mente para o passado e tento fazer um tour pela minha viagem. Mas onde ela começou? Talvez quando encontrei muçulmanos praticantes pela primeira vez . Foi em 1991 na Universidade de Queen, Kingston, Ontário, Canadá.
Era uma mulher de mente aberta, tolerante e liberal. 24 anos. Via muçulmanas caminhando ao redor do Centro Internacional e sentia pena delas. Sabia que eram oprimidas. Minha tristeza aumentava quando as perguntava por que cobriam os cabelos, por que usavam mangas longas no verão, por que era tão maltratadas nos países muçulmanos e elas me diziam que usavam o véu e se vestiam daquela forma porque Deus as pediu que o fizessem. Coitadas. E sobre o tratamento nos países muçulmanos? Isso é cultura, respondiam. Sabia que tinham sido iludidas, socializadas e sofrido lavagem cerebral desde crianças para acreditarem nessa maneira perversa de tratar as mulheres. Mas notei o quanto eram felizes, amigáveis e como pareciam firmes. Via muçulmanos caminhando ao redor do Centro Internacional.
Havia até um homem da Líbia - a terra de terroristas. Tremia quando os via, caso fizessem algo comigo em nome de Deus. Lembrava-me das imagens na televisão de massas de homens árabes esbravejando e queimando efígies do presidente Bush, tudo em nome de Deus. Que Deus devem ter, pensei. São coitados até por acreditarem em Deus, acrescentava, segura na verdade de que Deus era uma projeção antropomórfica de nós, seres humanos fracos. Mas notei que esses homens eram muito amigáveis. Notei o quanto estavam dispostos a ajudar. Percebi uma aura de tranquilidade. Que fé devem ter, pensei. Mas isso me intrigou. Tinha lido o Alcorão e não tinha detectado nada de especial sobre ele. Isso foi antes, quando começou a guerra do Golfo. Que tipo de Deus persuadiria homens a ir para a guerra, matar cidadãos inocentes de outro país, estuprar mulheres e fazer passeatas contra os EUA?
Decidi que era melhor ler o livro sagrado em nome do qual alegavam estar agindo. Li um clássico da Penguin, com certeza um livro confiável, e não consegui terminá-lo porque tive muita aversão. Aqui estava um paraíso descrito com virgens para os virtuosos (o que uma mulher virtuosa faria com uma virgem no paraíso?); aqui estava um Deus destruindo cidades inteiras de uma só vez.
Não me admira que as mulheres fossem oprimidas e esses fanáticos vivessem queimando bandeiras dos EUA, pensei. Mas os muçulmanos para quem apresentava isso pareciam perplexos. O Alcorão deles não dizia as coisas dessa forma. Talvez eu tivesse uma tradução ruim?
De repente, a pessoa que orava e que eu estava seguindo se levanta. Também me levanto, meus pés prendendo na saia longa que uso, quase tropeço. Fungo, tentando parar as lágrimas. Devo focar em orar para Deus. Querido Deus, estou aqui porque acredito em Você e porque durante minha pesquisa sobre o Cristianismo, Judaísmo, Islã, Hinduísmo, Sikhismo e Budismo, o Islã fez mais sentido.
Curvo-me, minhas mãos nos meus joelhos, me esforço para me acalmar. Deus. Por favor me ajude a ser uma boa muçulmana. Uma muçulmana! Kathy, como você pode - uma mulher branca ocidental que é educada - se converter a uma religião que faz de suas mulheres cidadãs de segunda classe!
Mas os muçulmanos de Kingston se tornaram meus amigos, protesto. Receberam-me calorosamente em sua comunidade, sem fazer perguntas. Esqueci que eram oprimidos e terroristas. Isso parece o início de minha viagem. Mas ainda era ateia. Ou não?
Tinha olhado para a noite estrelada e contemplado o universo. As estrelas de diamante espalhadas pelo céu escuro enviavam mensagens misteriosas para mim. Senti-me atraída por algo maior que mim mesma. Era uma consciência humana coletiva? Paz e tranquilidade fluíram para mim, a partir das estrelas. Podia me desvencilhar desse sentimento e declarar que não há um ser superior? Nenhuma consciência mais elevada? Alguma vez duvidou da existência de Deus? Perguntava aos meus amigos cristãos e muçulmanos. Não, respondiam. Não? Não? Isso me intrigava.
Deus era tão óbvio? Como eu não conseguia ver Deus? Parecia muita imaginação. Um ser afetando a forma como eu vivia. Como Deus podia ouvir bilhões de pessoas orando e lidar com cada segundo da vida daquela pessoa? É impossível. Talvez uma Primeira Causa, mas intervir? E a persistência da injustiça no mundo? Crianças morrendo na guerra. Um Deus bom e justo não pode permitir isso. Deus não fazia sentido. Deus não podia existir. Além disso, evoluímos e isso dispensava uma Primeira Causa.
Ajoelhamo-nos de novo e aqui estou, fungando, olhando de lado para meus dedos sobre o verde de meu novo tapete de oração. Gosto de meu tapete de oração. Tem um toque aveludado e algumas das minhas cores favoritas: uma mesquita púrpura sobre um fundo verde. Há um caminho que leva a uma entrada negra da mesquita que me chama a atenção. A entrada para a mesquita parece conter a verdade, é elusiva, mas está lá. Estou feliz de ter atentado para essa entrada.
Quando era muito mais jovem tinha uma visão do mundo como um quebra-cabeça. Ele se desfez durante o terceiro ou quarto ano de minha graduação. Em Kingston tinha me lembrado de que já tinha sido uma frequentadora regular da igreja, um pouco constrangida, uma vez que sabia que as pessoas religiosas eram sentimentalóides, pitorescas, entediantes e antiquadas. Ainda assim Deus tinha parecido auto evidente para mim, na época. O universo não fazia sentido sem um Ser Criador que também era onipotente.
Ao sair da igreja sempre tinha um sentimento de leveza e felicidade. Senti a perda daquele sentimento. Pode ser que tivesse tido uma conexão com Deus que tinha agora terminado? Talvez esse fosse o início de minha viagem? Tentei orar novamente, mas achei extraordinariamente difícil. Os cristãos me disseram que as pessoas que não acreditavam no Senhor Jesus Cristo estavam condenadas. E as pessoas que nunca tinham ouvido sobre Jesus? Ou as pessoas que seguem suas próprias religiões? E a sociedade historicamente alegava que as mulheres eram inferiores porque o Cristianismo nos disse que era a punição de Eva; as mulheres eram impedidas de estudar, votar e ter propriedades. Deus era um homem terrível com uma longa barba branca. Não podia falar com ele. Não podia seguir o Cristianismo e, portanto, Deus não podia existir.
Mas então descobri feministas que acreditavam em Deus, cristãs que eram feministas e muçulmanas que acreditavam que o Islã não admite muito do que eu achava que era parte integrante de sua religião. Comecei a orar e a chamar a mim mesma de "crente feminista pós-cristã."
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