Viviana Espin, ex-cristã, Equador
Descrição: Uma equatoriana encontra o Islã.
- Por Viviana Espin
- Publicado em 14 Sep 2015
- Última modificação em 14 Sep 2015
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Meu nome é Viviana Espin. Tenho 21 anos e sou do Equador.
A vida sempre tem bons e maus momentos. Às vezes quando penso sobre o passado sinto uma dor profunda. Gostaria que as coisas tivessem sido diferentes, talvez ter uma família normal, talvez pais cuidadosos. Não sei, mas tenho certeza que tudo tem uma razão.
Minha infância foi muito dura, meu pai era um homem violento, minha mãe era muito submissa, tínhamos problemas financeiros e muitas outras coisas que influenciaram meu irmão e minha própria saúde mental. Em minha infância minha mãe costumava me ensinar em casa algumas vogais, algumas palavras em inglês e outras coisas. Tornei-me tão boa no aprendizado que com a idade de 4 anos minha mãe decidiu me mandar para a escola.
Meus pais me mandaram para uma escola católica. Minha mãe gostava porque queria que eu tivesse uma boa fé em Deus e também uma boa educação. Meu pai gostava também porque era uma das melhores escolas na cidade em que morávamos e como ele sempre foi arrogante e vaidoso, gostava de contar com orgulho a seus amigos onde eu estava estudando.
Desde o início era mais jovem que meus colegas de classe e eles costumavam abusar de mim. Costumavam colocar goma de mascar em meu cabelo e roubar minhas coisas, jogar minha comida no lixo e muitas outras coisas.
Como era a mais jovem, a diretora executiva da escola decidiu cuidar de mim. Então, no intervalo não ficava no pátio com as outras crianças. Costumava passar esse tempo na sala da diretora ou na secretaria da escola. A propósito, como era uma escola católica, quase todas as professoras, a diretora executiva e demais diretoras eram freiras.
Comecei a ficar muito próxima delas e elas também começaram a gostar muito de mim, a ponto de me deixarem ficar com elas em suas casas, que era no terreno da escola. Tinham suas casas ao lado do prédio da escola, dentro do mesmo perímetro de terra.
Eu já era diferente do resto de meus vizinhos e crianças de minha idade.
Meus pais eram divorciados quando eu estava com quase 8 anos de idade e isso foi de longe um dos eventos mais traumáticos de minha vida. Quando passo muito tempo sozinha em um ambiente fechado, minha mente começa a divagar e começo a pensar sobre coisas para as quais às vezes não encontro respostas.
Minha mãe se tornou mais religiosa, mas começou a me controlar muito. Às vezes era bom e às vezes não era. Cresci sempre com medo, insegurança e dúvidas.
Comecei a apreciar lugares calmos, com menos barulho ao redor, mas de maneira que estivesse em contato com a natureza. Esses eram momentos em que gostava de estar sozinha.
O único lugar onde costumava encontrar isso, era com as freiras. A escola tinha um grande pátio verde e eu costumava deitar lá e desfrutar de olhar o céu e sentir o vento me cobrindo. Era tão tranquilo.
As freiras me apreciavam muito e eu gostava do tempo que passava com elas. Também sentia que a única forma que tinha de escapar dos problemas de minha casa era buscando refúgio em Deus.
Com a idade de 12 anos disse a minha mãe que gostaria de ficar no convento com as freiras de minha escola e ser uma delas.
Minha mãe ficou aborrecida e disse que estava feliz de eu querer ficar perto de Deus, mas ao mesmo tempo queria que eu lhe desse netos um dia e não deixou que eu me juntasse às freiras. Já estava no meu último ano com as freiras.
Depois da reposta negativa de minha mãe, decidi me aproximar de Deus, estudar e entender melhor o que a Bíblia diz. Depois que comecei a lê-la conscientemente percebi que havia muitas coisas que não faziam sentido, muitas contradições, e em algumas partes parecia que a ideia não estava completa. Então tive a necessidade de saber onde estava o resto e as respostas às minhas perguntas que, em minha opinião, não eram claras e nem lógicas.
Comecei a ler livros sobre religiões e a internet também foi de muita ajuda na busca.
Encontrei informação sobre Judaísmo, Budismo, Agnosticismo, Hinduísmo, o próprio Cristianismo e suas diferentes denominações e assim por diante. Nenhuma deles satisfez minha lógica. Não estava interessada em pesquisar sobre o Islã por causa de todas as coisas ruins que ouvia a respeito. Mas no final decidi verificar o Islã para ver do que se tratava como minha opção final para tentar encontrar uma resposta lógica.
A Trindade nunca foi clara para mim. Então, quando comecei a investigar o Islã, vi as respostas para muitas de minhas perguntas. O Islã fez sentido para mim, respondeu à minha pergunta sobre o número de deuses e afirmou claramente no Alcorão que só havia Um. Isso respondeu minhas perguntas sobre Jesus. Entendi que a Bíblia havia sido mudada e não estava mais em sua forma original, e senti que finalmente tinha encontrado a verdade.
Li brevemente sobre o profeta Muhammad, que a misericórdia e bênçãos de Deus estejam sobre ele, e o achei muito próximo de Moisés. Por não devia acreditar em um último mensageiro de Deus, quando ele tinha a mesma mensagem que todos os outros profetas? Tudo isso me fez sentir que finalmente tinha encontrado a religião verdadeira.
Estava com 17 ou 18 anos, não me lembro, quando disse a minha mãe que queria mudar minha religião e me tornar muçulmana. Contei a ela que gostava de ir ao centro islâmico em minha cidade e aprender mais. Minha mãe ficou aborrecida e disse que só cristãos podiam morar na casa dela e que se eu estivesse pensando seriamente em mudar minha religião, devia deixar a casa. Então disse a ela que estava brincando, para fazê-la esquecer do assunto.
Ela contatou minha tia e minha tia me trouxe um livro sobre o Islã. Li o livro, que me assustou e deixou em minha mente temores e dúvidas. Parei com a ideia de me tornar muçulmana, mas também não queria voltar para o Cristianismo porque já não me sentia confortável como antes.
Minha mãe mudou a religião dela de católica para evangélica, depois de um milagre com um dos irmãos dela. Ele teve câncer e os médicos disseram que ele não viveria mais que uma semana ou talvez um mês. Dois anos se passaram desde então e meu tio ainda estava conosco.
O dia em que minha mãe decidiu se converter tentei conversar novamente com ela sobre o Islã e pedi que viesse comigo ao centro islâmico para esclarecer as dúvidas e temores do livro. Minha mãe estava muito aberta aquele dia e aceitou. Mas isso foi de manhã. À noite voltou para casa como evangélica e com uma forte convicção a respeito e tornou-se impossível para mim falar com ela sobre o Islã de novo. Poucos meses depois encontrei um muçulmano com quem me casei logo em seguida e depois me mudei para o Egito com ele.
Os dois maiores sonhos de minha vida eram vir para o Egito e casar com um homem bom que me amasse, cuidasse de mim e fosse romântico; o tipo charmoso de príncipe que estou certa todas as garotas sonham quando são crianças. Mas sempre achei que nenhum desses sonhos fosse se realizar. Por um lado, minha situação financeira tornava impossível viajar para o Egito e, por outro lado, não achava que o homem que desejava pudesse estar em algum lugar no mundo real, só em meus sonhos.
Deus me deu tudo que eu desejava. Mas honestamente, nunca fui grata por tudo que Ele me deu.
Depois de vir para o Egito ainda não estava certa se queria me converter. Meu novo marido me apresentou a uma senhora maravilhosa, com muito conhecimento, paciência e fé. O nome dela era Raya. Ela me ajudou a analisar melhor minha situação e esclareceu todas as dúvidas e conceitos errados que costumava ter sobre o Islã.
Finalmente fiz minha shahada no sábado, 30 de agosto de 2009. Fiz a shahada somente porque estava convencida sobre a existência de um Deus Único e que Muhammad, que a misericórdia e bênçãos de Deus estejam sobre ele, era Seu último mensageiro e profeta. Mas disse que começaria a praticar quando sentisse que era o momento certo. Concordaram comigo e naquela época não tinha a intenção de começar logo um aprendizado real.
Na segunda-feira seguinte tudo mudou. Meu marido e eu ficamos em uma situação muito difícil por minha culpa e ele se divorciou de mim. Senti que meu mundo tinha se partido em pedaços.
Em meu desespero não sabia a quem recorrer além de Raya. Desde aquele dia ela vem me dando apoio e me tomou como sua filha na casa dela.
Minha mãe costumava me dizer que os humanos nunca aprendem até que coisas ruins aconteçam. Isso é uma grande verdade. Todos os problemas com meu marido me fizeram sentir a necessidade de buscar ajuda em Allah (Deus) e pedir perdão a Ele.
Estou apenas começando o processo, mas tenho o sentimento real de que quero servir meu Senhor e ser grata a Ele. Comecei a mudar meu modo de vestir e agora uso o hijab e sinto que quero mudar toda a minha vida. Quero provar a Deus, ao homem que amo e a mim mesma que sou uma pessoa nova agora.
Depois do divórcio, graças a Deus, meu marido me deu uma esperança de que com a ajuda de Deus podemos ficar juntos novamente em breve.
Agora preciso ficar forte em minha religião e ele precisa de tempo para me perdoar. De qualquer maneira, espero que até o final desse ano Deus me dê a força que preciso para aceitar qualquer decisão Dele.
Foi uma lição que mudou toda a minha vida.
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