Amira, ex-cristã, EUA
Descrição: Como a filha de um ministro batista abraçou o Islã.
- Por Amira
- Publicado em 21 Jul 2014
- Última modificação em 21 Jul 2014
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Nasci no Arkansas, EUA, de pais cristãos, que também nasceram no Arkansas. Até onde consigo rastrear, toda a minha família vêm dos estados do sul aqui nos Estados Unidos. Cresci e vivi aqui toda a minha vida em uma fazenda, onde se levanta pela manhã, tira-se leite das vacas, alimentam-se as galinhas e se faz o resto das obrigações. Meu pai era um ministro batista, que é uma denominação do Cristianismo, como os católicos, metodistas, etc.
Todas são religiões "cristãs", mas com doutrinas diferentes. Pode se explicar melhor a um muçulmano como as diferenças entre os sunitas e xiitas. A propósito, sou sunita. A cidade que morava era completamente de raça branca e todos cristãos. Essa era o cenário em um raio de mais de 500 quilômetros. Então, nunca fui exposta a outras culturas ou religiões. Mas sempre me ensinaram que todos foram criados iguais aos olhos de Deus e que não havia diferença em raça, cor ou práticas culturais ou religiosas. Depois descobri que era fácil para eles pregar e ensinar, desde que continuassem de mente fechada e essas outras pessoas não invadissem seu mundo.
A primeira vez que vi um muçulmano foi cursando a universidade, na Universidade de Arkansas. Admito que a princípio fitei as mulheres em suas "roupas diferentes" e os homens com toalhas enroladas em suas cabeças e usando roupão de dormir. Entretanto, quando me senti confortável o suficiente para perguntar sobre o Islã, começou uma "reação em cadeia", uma busca interminável para buscar conhecimento que não seria saciada. Alhamdulillah (Todos os louvores são para Allah)!
Encontrei uma mulher da Palestina, que nunca esquecerei. Conversava comigo sobre seu país e cultura. Estava especialmente fascinada pelo que ela me contava sobre o Islã. Era maravilhoso. Nunca tinha visto uma pessoa com tamanha paz interior! Embora nunca tivesse falado para ninguém, sempre tinha questionado em minha mente o conceito do que os cristãos chamavam de "trindade", por que tínhamos que orar para Jesus, que Deus o exalte, e não diretamente para Deus e por que tanta ênfase em "Cristo", não em Deus.
Minha amiga fez tudo que pode para me convencer que o Islã era a única religião que me levaria ao paraíso e que não era apenas outra religião, mas um modo de vida. Minha amiga se graduou seis meses depois e voltou para a Palestina. Foi morta duas semanas depois fora de sua casa. Fiquei devastada. Era como se parte de mim tivesse morrido com ela. Sabíamos que quando ela retornasse para casa nossas chances de voltarmos a nos ver nessa vida eram improváveis, mas ela me disse que o importante para ela era me ver na outra vida, no "paraíso".
Durante esse período tinha encontrado e feito amizade com muitas pessoas do Oriente Médio. Também me ajudaram a lidar com a perda de minha amiga. Foi quando passei a amar a língua árabe. Era bonita.
Ouvia as fitas do Alcorão por horas, mesmo que não tivesse nenhuma ideia do que estava sendo dito. Até hoje, amo quando alguém lê para mim do Alcorão e embora ainda não possa entender o que está sendo dito, ainda toca meu coração e alma. Não tive tempo de aprender árabe na universidade. Tinha sorte de lembrar-se das tarefas de cada disciplina. Mas estou tentando bastante agora aprender como falar e ler, Insh’Allah (pela vontade de Allah). E aqueles que já me ouviram falar árabe ou digitar em "inglês árabe" podem dizer que ainda tenho um longo caminho a percorrer. E agradeço a eles por sua paciência e tutoria.
Depois que sai da universidade e voltei para minha comunidade, não tive mais a honra de ter muçulmanos ao meu redor. Mas a sede para adquirir conhecimento não tinha acabado e nem meu amor e desejo pela língua árabe. O que, devo acrescentar, enfureceu meus pais e outros amigos. Isso me confundiu, porque sempre tinha sido ensinada de que éramos iguais aos olhos de Deus. Acho que havia algumas poucas exceções a esse conceito para meus amigos e minha família.
Então, na primavera de 1995, Deus colocou alguém em minha vida. Essa pessoa era um exemplo maravilhoso do que um muçulmano deve ser e do que era o Islã e, mais uma vez, comecei a fazer perguntas. Até fui levada à minha primeira mesquita. Essa é uma memória que ficará para sempre gravada em minha memória.
Por oito meses estudei tudo que pude encontrar e lia e ouvia as fitas continuamente. Então, em 15 de fevereiro de 1996 abracei o Islã oficialmente. ALHAMDULILLAH!!!!!!!! [Todos os louvores e agradecimentos são devidos a Deus].
Nosso noivado foi rompido porque os pais dele eram contra a ideia de ele se casar com uma americana. Mesmo que não estejamos mais noivos, eu o respeito e admiro muito. E nunca abandonarei meu Islã.
Desde 15 de fevereiro minha vida tem passado por muitas mudanças. Quando fiquei noiva de um "árabe" ou "estrangeiro", minha família ficou em choque e raramente falava comigo. Perdi quase todos os meus amigos americanos. Mas quando abracei o Islã, primeiro minha família tentou me internar em um hospital psiquiátrico e, quando não funcionou, me rejeitaram completamente. Ligavam frequentemente para expressar o desejo de que eu apodrecesse no Inferno. Também recebia ligações de meus supostos amigos que afirmavam o mesmo. Sim, isso magoava. Embora eu e minha família tivéssemos muitas diferenças, eu os amava profundamente.
Alhamdulillah wa "Subhanaallah" meu Eeman (fé no Islã) era forte.
A última vez que falei com minha família foi dois dias depois do bombardeio na Arábia Saudita. Meu tio e meu primo foram mortos no bombardeio... minha família ligou novamente para me contar as notícias e me "assegurar" de que os membros da minha família mortos no bombardeio me amavam. MAS que o sangue deles estava sobre minha cabeça e sobre a cabeça de todos os meus amigos terroristas. Chorei por dias, mas, mais uma vez, meu Eeman se manteve forte e continuei.
A próxima virada em minha vida foi quando voltei para casa uma tarde quatro dias depois do bombardeio e constatei que alguém tinha atirado nas janelas e pintado com spray "AMANTE DE TERRORISTA" na lateral de um dos meus carros. A polícia não me ajudou em nada. Na mesma noite, enquanto estava batendo papo no "Muslim Chat", ouvi tiros do lado de fora. Tinham voltado e acabado com quase todas as janelas restantes em minha casa e matado meus animais domésticos do lado de fora.
Com a chegada da polícia me disseram que a menos que pudesse fornecer identificações positivas dessas pessoas e dos veículos que dirigiam, era quase impossível que fossem encontrados. Implorei para que checassem se meus carros tinham sofrido danos, porque queria ir para um motel para me sentir mais segura. Disseram que de forma alguma, porque estavam preocupados com o fato de que meus amigos "TERRORISTAS" poderiam ter plantado uma bomba em um deles como armadilha para a polícia. Ajoelhei-me clamando a Deus por misericórdia e orientação.
Allah me respondeu muito fielmente. Fui atacada uma noite em um estacionamento por um desconhecido que me espancou, esfaqueou, quebrou meu punho e fraturou algumas de minhas costelas. Essa pessoa foi pega e está aguardando julgamento, mas no momento está apenas prestando serviços comunitários para essa cidade. Semana passada fui pegar minha roupa na lavanderia e fui informada que as tinham perdido. Os artigos perdidos incluíam todos os meus hijabs, jilbabas, abaias e khimars. Como era conveniente para eles perderem esses itens!
A cidade em que moro é muito pequena e não existem outros muçulmanos ou árabes próximos. A mesquita mais próxima fica a mais de 300 quilômetros de distância. Embora esteja sozinha por não ter outros muçulmanos para visitar e com quem aprender, Alhamdulillah, Deus está sempre lá!!
O pouco conhecimento que tenho sobre o Islã foi obtido por meio de leitura de tudo que posso encontrar na internet e meus amigos e família verdadeiros na internet. Nunca desistirei... mas gostaria de agradecer a um irmão palestino muito especial por seu amor, apoio, amizade e orações durante essas últimas semanas. Você sabe que falo de você. Que Deus o abençoe imensamente. Aos meus outros irmãos e irmãs muçulmanos na internet, amo vocês e os agradeço.
Não escrevo essa história na esperança de despertar pena. Peço a todos que continuem a orar por mim ou quem estiver lendo, esteja certo de que Deus nunca o abandonará.
Amo todos vocês.
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