Melissa Riter, ex-cristã, EUA
Descrição: Aproximadamente 27 anos em busca da verdadeira religião. Como ela finalmente encontrou o Islã.
- Por Melissa Riter
- Publicado em 13 Jan 2014
- Última modificação em 13 Jan 2014
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Cresci em uma família tristemente disfuncional. Meu pai era antirreligião (todas as religiões) e minha mãe era uma batista não praticante. Do lado da família do meu pai, a religião era algo ridículo se a pessoa era “direita” e a adotar quando se era um bêbado ou drogado. Do lado da família da minha mãe, a religião era “compreendida”, mas nunca se falava a respeito. O pai de minha mãe tinha sido um ministro batista em um período, mas fé era algo apenas para os sermões de domingo.
Muito cedo (com nove ou dez anos de idade), comecei a me interessar a “ir à igreja”. Permitiam que fosse à escola bíblica de férias durante o verão, desde que isso desse um descanso a meus pais e que fosse à igreja aos domingos, desde que servissem um almoço depois. Aprendi a cantar canções como “Jesus me ama” e “Essa minha pequena luz”. Era bom e divertido. Quando cheguei aos 12 anos meu pai começou a me proibir de ir à igreja. As aulas na escola dominical estavam ficando muito sérias. Comecei a aprender sobre moral. Não beba! Não fume! Fique longe das drogas! Nunca fale sobre o que acontece entre marido e esposa! Trazia essas morais para casa e tentava ensiná-los. Foi quando a igreja foi banida. Felizmente tinha aprendido o suficiente para fortalecer meu desejo de aprender mais.
Meus pais se divorciaram quando estava com 12 anos e meio. Fiquei com minha mãe e foi então que começou minha busca pela verdadeira religião. Comecei a frequentar a igreja pentecostal todos os domingos. Aprendi a como me vestir - sem calças compridas, maquiagem, não cortar o cabelo - e como cantar. Aprendi como citar a Bíblia. Aprendi como adorar Jesus. Que Deus me perdoe! A ideia da misericórdia de Deus era intrigante. Foi a primeira lição realmente importante que aprendi em minha busca por orientação. Quanto mais me aprofundava nisso, mais achava que algo estava fundamentalmente errado com o conceito. De acordo com essa crença, estava salva não importava o que fizesse. Não iria para o inferno! Não parecia certo. Além disso, a Bíblia não falava de punição para nossos pecados. Não havia mandamentos a seguir. Onde estava o incentivo?
Deixei a igreja e comecei a estudar outras crenças. Foquei nas religiões monoteístas por puro instinto. Sabia em minha alma que Deus era a chave e que Jesus tinha que se encaixar em algum lugar. Estudei o Judaísmo, mas o fato de que ignoravam Jesus me fez descartar essa religião muito rapidamente. Segui em frente para denominações cristãs diferentes. Tentei a Batista, mas não havia misericórdia ali. Se fizesse qualquer coisa errada, ia para o inferno! Sem chance. Sem esperança. Estudei o catolicismo, mas algo sobre orar para santos (inclusive Maria, que Deus esteja satisfeito com ela) não se deu muito bem comigo. A metodista e a presbiteriana não ajudaram muito também. Por fim voltei para as igrejas pentecostais apenas porque me ofereciam esperança de redenção.
Havia duas grandes perguntas que me mantinham confusa a maior parte do tempo. A primeira era se Jesus era filho de Deus, como também podia ser Deus? A segunda era muito semelhante à primeira. Se Jesus era Deus, então para quem ele orava no jardim de Getsêmani? Fiz essas duas perguntas ao meu pastor e a resposta foi: “Se fizer essas perguntas, irá para o inferno por falta de fé.” Fiquei chocada! Citando Galileu: “Não me sinto obrigado a acreditar que o mesmo Deus que nos dotou com bom senso, razão e intelecto tivesse a intenção de que abríssemos mão de seus usos.” Deixei a igreja pentecostal para nunca mais voltar.
Com 19 anos abri minha porta para um par de missionários mórmons. Minha busca pela verdadeira religião começou novamente. Deixei-os entrar e prontamente comecei os estudos. Aqui estava uma religião que fazia sentido! Disseram que Jesus e Deus não eram o mesmo personagem. Que aqueles que verdadeiramente se empenhassem para viver a verdadeira religião seriam recompensados com o paraíso e os que cometessem grandes erros, mas ainda tivessem fé seriam punidos apenas por pouco tempo. O inferno não era eterno para os crentes. Contaram sobre os profetas e como Moisés não foi o último, afinal de contas. Explicaram que, embora amassem Jesus e o considerassem seu irmão mais velho, oravam apenas para Deus. Gostei do que disseram e parecia verdadeiro. Entrei na igreja e permaneci como membro por 16 anos.
Durante esses 16 anos me vi passando por tempos difíceis. Houve muitas vezes em que parei de praticar minha religião. Tornei-me alcoólatra e fiz as coisas que os alcoólatras fazem. Divorciei-me de meu marido e comecei a “ter encontros”. Eu me degradei. Entretanto, a crença sempre estava lá. Sempre acreditei no que os mórmons me ensinaram. Eu me iludi com o pensamento de que não importava o que fizesse. O inferno era apenas para as pessoas que não acreditavam. Podia apenas ir para a prisão do espírito após a morte, me arrepender e então no fim iria para o paraíso.
Houve momentos durante esses 16 anos em que me arrumei e fui para a igreja. Quando se progride nas lições na igreja mórmon, começa-se a ouvir coisas que são mantidas longe de “investigadores” da religião e de novos convertidos. Foi por volta do final de 2003 ou início de 2004 que me foi “revelado” que Deus tinha sido um humano em um planeta diferente e que Ele tinha adorado um deus diferente. Também foi revelado que qualquer humano da terra se tornaria um deus, se fizesse as coisas certas. Isso me incomodou um pouco. Ainda assim, o mormonismo era o mais próximo que tinha chegado de qualquer coisa que achasse correto dos pontos de vista espiritual e lógico. Tentei afastar as ideias de outros deuses dizendo a mim mesma que de fato significavam outra coisa. Entretanto, não estava muito certa do que era essa outra coisa.
Em maio de 2004, depois de ter me casado novamente e deixado mais uma vez (pela última vez) meu marido anterior, fiquei acordada até tarde uma noite, brincando na internet. Visitei uma sala de bate-papo em que a conversa parecia um pouco decente e lá encontrei um jovem muito agradável do Egito. Seu nome era Samy. Samy era muito agradável e sempre discutia assuntos apropriados. Foi a primeira vez em minha experiência e procurava por ele online com bastante frequência. Conversávamos sobre a casa dele, minha casa, família. Compartilhávamos nossas esperanças e sonhos para o futuro. Também falávamos sobre Deus de maneira bem geral. Conversávamos muito sobre Ele. Descobri que nossas crenças básicas sobre Deus eram as mesmas. Em agosto de 2004 começamos a falar sobre casamento. Foi então que decidi estudar a religião dele - o Islã.
Nunca foi minha intenção me converter. Afinal, era cristã - uma mórmon - e negar Jesus ou o Espírito Santo era danação instantânea. (De fato, acreditava que era a única coisa pela qual uma pessoa poderia ir para o Inferno para sempre). Minha única intenção era aprender o suficiente da religião dele para evitar ofendê-lo com a minha.
Samy delegou meus estudos para seu amigo Ahmed, que tinha muito conhecimento sobre o Islã. Disse que não queria que nossa relação me influenciasse. Muitas mulheres se convertem apenas para agradar seus maridos. Comecei aprendendo a natureza de Deus. Existe um único Deus. Não precisa de nada de Sua criação, mas toda a criação precisa Dele. Não gerou e nem foi gerado. E nada é semelhante a Ele. Isso foi fácil de aceitar. Minha alma se apegou àquela informação o máximo que pode. Ainda assim, não podia me converter. Havia toda a ideia de Jesus e o Espírito Santo. Não ousava negá-los.
Então aprendi sobre os profetas. Aprendi que todos os profetas eram iguais e que Muhammad, que a misericórdia e bênçãos de Deus estejam sobre ele, foi o último profeta. Também aprendi que Jesus, que a misericórdia e bênçãos de Deus estejam sobre ele, foi um profeta, não o filho de Deus. Tive uma pequena dificuldade com esse ensinamento e o amigo de Samy me mostrou várias passagens na Bíblia em que outros profetas, além de Jesus, tinham sido chamados de filho gerado de Deus, Seu único filho e Seu primogênito. Também me mostrou onde o próprio Jesus proibiu seus discípulos de chamá-lo Filho de Deus e destacou que Jesus chamou a si mesmo de filho do homem. Isso eliminou parte do meu problema, mas ainda havia a questão dos profetas mórmons. Isso foi um pouco mais difícil de eliminar, mas ficou entre as diferenças e não entre as semelhanças. Os profetas na Bíblia tinham uma mensagem para toda a humanidade e aquela mensagem foi sempre a mesma. Adorar somente a Deus, sem parceiros. Os profetas mórmons tinham uma mensagem apenas para a igreja Mórmon e geralmente tinha a ver com coisas como armazenagem de alimentos e autonomia. Uma vez que me foi apontado, me perguntei como podia ter deixado isso passado.
Prosseguimos dessa forma, aprendendo um novo ponto e refutando outros (do mormonismo) por sete meses. Todo o tempo insisti que não estava querendo me converter e Samy e Ahmed disseram “Eu sei”. Exigi provas na Bíblia para o que estavam dizendo e as apresentaram, incluindo uma revelação obscura sobre Muhammad. Até me mostraram onde o nome de Muhammad tinha estado na Bíblia em uma época e removido através de edição. O nome dado era Ahmed, que se equivale a Muhammad da mesma forma que John e Jack são geralmente usados intercambiavelmente em inglês. Só o nome foi removido. O resto ainda está lá. Foi predito pelo próprio Jesus e também por Moisés.
Em março de 2005 aprendi a lição final que me permitiu eliminar o medo do Inferno e aceitar o Islã com todo o meu coração, mente e alma. Aprendi sobre o Espírito Santo. Como mórmon, acreditava que se negasse a existência do Espírito Santo seria instantaneamente condenada ao inferno eterno. Não havia chance de arrependimento. Felizmente não tenho que fazê-lo e, de fato, nunca poderia, negar essa existência. Aprendi que o Espírito Santo também é conhecido no Velho e Novo Testamentos como o Espírito do Senhor. Mais uma vez, provaram com a Bíblia. Todos conhecemos a história. O Espírito do Senhor apareceu para Maria... O Espírito Santo ou o Espírito do Senhor não é outro senão o anjo Gabriel - e os muçulmanos sabem sobre a existência dos anjos. Foi Gabriel quem revelou o Alcorão de Deus a Muhammad.
No dia seguinte falei com uma amiga online e disse a ela que queria me converter. Tinha em mente uma surpresa para Samy e Ahmed. Ela contatou minha mesquita local e arranjou para que uma irmã e dois irmãos viessem à minha casa para que eu pudesse dizer a shahada. Foi muito fácil. Eles me orientaram primeiro em inglês e depois em árabe e repeti depois deles dizendo: “Testemunho que não há divindade além do Deus Único (Allah, em árabe) e que Muhammad é Seu mensageiro”. A irmã me deu meu primeiro lenço de cabeça (hijab) e me ajudou a colocá-lo como símbolo de minha conversão.
Aquela noite encontrei Samy e Ahmed online, onde sempre batíamos papo. Ficaram ambos muito satisfeitos em ver que eu tinha me convertido, mas não surpresos. E descobri por que sempre diziam “Eu sei”, quando eu dizia que não me converteria. Sabe, um muçulmano é quem submete espontaneamente sua vontade à vontade de Deus. Todas as crianças nascem nesse estado de submissão e são tiradas dele por forças externas. Ainda assim, nossas almas buscam o “rosto de Deus” e um retorno àquela submissão. Minha alma começou essa busca em 1978 e em março de 2005, com a idade de 34 anos, não me converti. Eu me reverti.
A propósito, melhorei totalmente meu comportamento no momento em que me converti. O incentivo está lá. Deus vê e sabe de tudo. Samy e eu casamos em julho de 2005 e ele assumiu a responsabilidade de me ensinar sobre o Islã. Sempre existe algo a aprender.
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