A Carta de Meca de Malcom X

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Descrição: Uma experiência tão profunda, que Malcom X muda sua percepção sobre racismo e a Nação do Islã, e entra no verdadeiro Islã devido ao Hajj.

  • Por IslamReligion.com
  • Publicado em 04 Jan 2009
  • Última modificação em 07 Jan 2009
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Malcolm_X_s_Letter_from_Mecca_001.jpgMuitos muçulmanos que foram abençoados com a realização do Hajj falam com freqüência de como a jornada é uma experiência que muda as suas vidas.  Isso acontece mais com uns do que com outros.

Malcom X, ou Al-Hajj Malik El-Shabazz, é um muçulmano que viu a luz do verdadeiro Islã através de seu Hajj em abril de 1964. Como um ex-membro e porta-voz da Nação do Islã, um movimento negro espiritual e nacionalista, ele acreditava que o homem branco era o mal e que o homem negro era superior.

Após deixar a Nação do Islã em março de 1964, ele fez o Hajj, que ajudou a mudar completamente sua perspectiva sobre os brancos e o racismo.

Aqui está um excerto de uma carta que Al Hajj Malik El Shabazz escreveu para seus leais assistentes no Harlem... do fundo de seu coração, contando a eles sua experiência.  Nela, ele explica o que aconteceu durante sua abençoada jornada que fez com que ele mudasse profundamente sua perspectiva sobre raça e racismo.  Nós devemos ter em mente que esta carta foi escrita numa época em que a história dos afro-americanos na América estava em construção, uma época em que séculos de opressão estavam sendo discutidos e condenados em público.[1]

“Eu nunca tinha testemunhado tal sincera hospitalidade e irresistível espírito de verdadeira irmandade como é praticado por pessoas de todas as cores e raças nesta antiga Terra Sagrada, o lar de Abraão, Muhammad e todos os profetas das Escrituras Sagradas.  Ao longo da última semana, eu fiquei sem palavras e fascinado pela benevolência que vejo demonstrada ao meu redor por pessoas de todas as cores.

“Eu fui abençoado em visitar a Cidade Sagrada de Meca. Eu fiz os sete circuitos em torno da Caaba, levado pelo jovem Mutawaf chamado Muhammad, e bebi da água do poço de Zam-Zam.  Eu corri sete vezes indo e vindo entre os montes de Al-Safa e Al-Marwah.  Eu orei na antiga cidade de Mina e eu orei no monte Arafat.

“Havia dezenas de milhares de peregrinos, do mundo inteiro.   Eles eram de todas as cores,  de louros de olhos azuis a africanos de pele negra.  Mas estavam todos participando em um mesmo ritual, demonstrando o mesmo espírito de unidade e irmandade que minhas experiências na América me levaram a acreditar que nunca poderia existir entre o branco e o não-branco.

“A América precisa entender o Islã, porque esta é uma religião que apaga da sociedade o problema da raça.  Através de minhas viagens no mundo islâmico, eu tenho encontrado, falado, e mesmo comido com pessoas que na América seriam consideradas brancas – mas a atitude ‘branca’ foi removida de suas mentes pela religião do Islã.  Eu nunca tinha visto antes uma irmandade verdadeira e sincera praticada por todas as cores juntas, independentemente de suas cores.

“Você pode estar chocado por estas palavras virem de mim.  Mas nesta peregrinação, o que eu tenho visto, e experimentado, me forçou a reorganizar muito dos padrões de pensamento que mantive anteriormente, e deixar de lado algumas de minhas prévias conclusões.   Não foi muito difícil para mim.  Apesar de minhas convicções firmes, eu sempre fui um homem que tenta enfrentar os fatos, e aceitar a realidade da vida quando uma experiência nova e conhecimento novo revelam isto.   Eu mantive sempre uma mente aberta, que é necessária para a flexibilidade que deve andar de mãos dadas com toda busca inteligente pela verdade.

“Durante os últimos onze dias aqui no mundo muçulmano, eu tenho comido do mesmo prato, bebido do mesmo copo, e dormido no mesmo tapete – enquanto oro para o mesmo Deus – com irmãos muçulmanos, cujos olhos eram os mais azuis dos azuis, cujo cabelo era o mais louro dos louros, e cuja pele era a mais branca das brancas.  E nas palavras e nas ações e nos atos dos muçulmanos brancos, eu senti a mesma sinceridade que senti entre os muçulmanos negros africanos da Nigéria, Sudão e Gana.

“Nós éramos verdadeiramente todos os mesmos (irmãos) – porque sua crença em um Deus tinha removido o branco de suas mentes, o branco de seu comportamento, e o branco de suas atitudes.

“Eu pude ver disso, que talvez se os americanos brancos pudessem aceitar a Unicidade de Deus, então, talvez, eles pudessem aceitar na realidade a Unicidade do Homem – e parar de medir, e obstruir, e prejudicar outros em termos de suas ‘diferenças’ na cor.

“Com o racismo tomando conta da América como um câncer incurável, o coração dos supostos ‘cristãos’ americanos brancos devia ser mais receptivo a uma solução aprovada para esse problema destrutivo.  Talvez isso salvasse a América de um desastre iminente – a mesma destruição que aconteceu com a Alemanha por causa do racismo que eventualmente destruiu os próprios alemães.

“Cada hora aqui na Terra Sagrada me permite ter percepções espirituais maiores sobre o que está acontecendo na América entre negros e brancos.  O negro americano nunca poderá ser responsabilizado por suas animosidades raciais – ele está apenas reagindo a quatrocentos anos de racismo consciente dos brancos americanos.  Mas como o racismo leva a América para o caminho do suicídio, eu acredito, das experiêncis que tenho tido com eles, que os brancos da geração mais jovem, nos colégios e universidades, verão os escritos nas paredes e muitos deles se voltarão para o caminho espiritual da verdade – a única saída deixada para a América se livrar do desastre que o racismo inevitavelmente levará.

“Eu nunca fui tão honrado.  Eu nunca me senti tão humilde e sem valor.  Quem acreditaria nas bênçãos que têm jorrado sobre um negro americano?  Poucas noites atrás, um homem que seria chamado na América de branco, um diplomata das Nações Unidas, um embaixador, e companheiro de reis, me deu sua suíte de hotel, sua cama.  Eu nunca nem pensaria em sonhar que um dia eu seria o recipiente de tamanha honra – honra que na América seria concedida a um Rei – não a um negro.

“Todos os louvores são para Deus, o Senhor de todos os Mundos."

Malcom X viu e experimentou muitas coisas positivas.  A generosidade e grandeza de coração foram qualidades que o impressionaram pelas boas vindas que ele recebeu em muitos lugares.  Ele viu irmandade e a irmandade de diferentes raças e isso o levou a renunciar ao racismo e dizer:

“Eu não sou um racista... No passado eu me permiti ser usado...fazer acusações generalizadas a todas as pessoas brancas, à raça branca inteira, e essas generalizações causaram muitas injúrias a alguns brancos que talvez não merecessem ser magoados.  Por causa da iluminação espiritual que eu tive a bênção de receber como resultado de minha recente peregrinação à cidade sagrada de Meca, eu não aprovo mais acusações generalizadas à nenhuma raça.   Eu estou agora me empenhando em viver a vida de um verdadeiro muçulmano sunita.  Eu devo repetir que eu não sou um racista e nem aprovo os princípios do racismo.  Eu posso declarar com toda a sinceridade que eu não desejo nada além de liberdade, justiça e igualdade, vida, liberdade e busca da felicidade para todas as pessoas.”



Footnotes:

[1] From The Autobiography of Malcolm X with assistance from Alex Haley, the author of Roots.

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