Metodologia Histórica Moderna vs. Metodologia dos Hadiths (parte 3 de 5): Metodologia dos Hadiths

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Descrição: Uma comparação entre métodos modernos de registro da história e os usados nos hadiths.  Parte 3: A metodologia dos hadiths.

  • Por Reem Azzam
  • Publicado em 12 Sep 2011
  • Última modificação em 12 Sep 2011
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Modern_Historical_Methodology_vs._Hadeeth_Methodology_(part_3_of_5)_PT-BR_001.jpgUm hadith profético é uma narração de ou sobre o profeta Muhammad (que a misericórdia e as bênçãos de Deus estejam sobre ele) e é através dos hadiths que os muçulmanos sabem sobre o modo de vida do profeta, a Sunnah.  Esse conhecimento é um pré-requisito necessário para cumprimento das exigências religiosas mais básicas do muçulmano e o profeta naturalmente fez dele um ponto para propagar esse conhecimento sobre si mesmo durante sua vida.

O profeta procurou ensinar seus Companheiros através de diferentes formas como repetição, questionamento, ditado e demonstração prática.  Após ensiná-los ele ouvia o que tinham aprendido.  Junto com seus Companheiros, delegações do exterior foram educadas tanto no Alcorão quanto na Sunnah.  O profeta os questionava também para ver o que tinham aprendido (Azami 9) [1] .  Além disso, as cartas enviadas pelo profeta, algumas das quais eram muito longas e lidavam com uma ampla gama de assuntos legais, também constituíam meios de ensinar sua Sunnah.  Aparentemente deve ter havido uma grande produção escrita no geral, uma vez que é dito que ele teve pelo menos quarenta e cinco escribas em um momento ou outro (Azami 10). Ele também ditava para diferentes companheiros como Ali b. Abu Talib e é sabido que enviou cópias de seus sermões para certas pessoas.  Por fim, era o exemplo prático que ele transmitia aos seus seguidores com instruções claras para fazer como ele fazia (ou seja, “ore como me viram orar” [Bukhari, Vol. 1, Livro 11, No. 604] e “aprendam de mim os rituais da peregrinação” [Sahih Muslim, Livro sobre o Hajj, No. 310]).  Era conhecido por aconselhar o questionador a ficar com ele e aprender observando-o (Azami 10).

Outras medidas foram tomadas pelo profeta para propagar o conhecimento de sua Sunnah, como o estabelecimento do que pode ser considerado como escolas.  É sabido que foram estabelecidas em Medina logo após sua chegada e que ele enviava professores para vários locais fora da cidade.  Enfatizava a seus Companheiros para passarem adiante o conhecimento sobre ele e entre seus ditos está “Passe adiante o conhecimento obtido de mim, mesmo que seja somente um versículo” (Azami 10). Em seu famoso sermão de despedida relata-se que ele disse: “Aqueles que estão presentes (aqui) devem transmitir a mensagens para os ausentes.” [Sahih Muslim, Livro sobre o Hajj, No. 310]). Consequentemente, era uma prática comum entre seus Companheiros informar aos ausentes sobre os ditos e ações do profeta.  Adicionalmente, o profeta especificamente instruía delegações a ensinarem seu povo o que tinham aprendido no seu retorno.  Encorajava toda essa atividade informando sobre as grandes recompensas pelo ensino e aprendizado e sobre a possível punição por se recusar a fazê-lo (Azami 12).

Da parte dos Companheiros do profeta, deve-se lembrar de como as pessoas tomavam cuidado em observar e imitar as ações e ditos daquele que amavam e admiravam.  É bem conhecida a extensão do amor que os Companheiros do profeta tinham por ele e que muitos morreriam sem hesitar para protegê-lo.  Devido a isso e às suas excelentes memórias e também aos vários métodos que o próprio profeta empregou para ensinar sua Sunnah, seria seguro supor que eles realmente conheciam sua Sunnah.  De fato, relatos mostram que não somente tentaram aprende-la como tentaram preservá-la através de vários meios como memorização e registro escrito.  Existem vários exemplos dos Companheiros do profeta memorizando juntos e cultivando o que tinham acabado de aprender do profeta (Azami 13). Muitos deles são conhecidos por terem registrado os hadiths e, seguindo instruções do profeta, o imitavam com base no que tinham aprendido.  Após a morte do profeta existem vários relatos mostrando que continuaram em seus esforços para memorizar, praticar e preservar o que tinham aprendido dele.  Além disso, existem relatos mostrando Companheiros como Ali b. Abu Talib, Ibn Masud e Abu Sa’id al-Khudri aconselhando as pessoas que vieram depois deles (os Sucessores) a memorizarem os hadiths, o que faziam individualmente ou em grupos (Azami 15).

Após a morte do profeta o Islã se propagou além da Arábia para terras distantes.  Como os Companheiros do profeta foram os pioneiros dessa expansão, o conhecimento que tinham dos hadiths foi levado com eles e nem todo ele permaneceu em Medina.  Portanto, é possível que certa Sunnah seja conhecida de um grupo particular de Companheiros que tinha partido para alguma terra distante.  Como mencionado anteriormente, os Companheiros cuidaram para que os que vieram depois deles, os Sucessores, continuassem o aprendizado e preservação dos hadiths para que o conhecimento não fosse perdido.   Entretanto, a partir do momento que o conhecimento da Sunnah não estava mais concentrado em um lugar, mas havia se espalhado para diferentes partes do mundo muçulmano, a probabilidade de cometer erros aumentou e, consequentemente, técnicas de criticismo tiveram que ser desenvolvidas, especialmente após a primeira fitnah (Azami 49). Adicionalmente, com a propagação da Sunnah, novas técnicas tiveram que ser desenvolvidas para o aprendizado dos hadiths.

Embora todas as técnicas fossem importantes na preservação dos hadiths, a prática de um professor ler para seus alunos era uma técnica particularmente significativa que foi desenvolvida muito cedo.  Isso incluía a leitura pelo professor do livro do aluno, que era uma cópia completa ou parcial do livro do professor (Azami 17). Alunos e sábios testavam o conhecimento de seu professor pela inserção de hadiths ao longo do livro antes de dá-lo ao professor para leitura.  Os professores que não reconheciam as adições eram “denunciados e declarados não confiáveis” (Azami 17). Adicionalmente, diz-se que a partir do começo do segundo século, a técnica de leitura pelos alunos para seus professores se tornou a prática mais comum (Azami 19). Isso era feito na presença de outros alunos que então comparavam o que tinham em seus livros ou ouviam cuidadosamente.  Ao copiar é dito que geralmente faziam um círculo após cada hadith e que uma vez que o hadith tivesse sido lido para o professor uma marca era feita no círculo ou em outro lugar como indicação.  E cada vez adicional que um hadith era lido para o professor outra marca era feita como indicação e às vezes os sábios liam o mesmo livro muitas vezes.  A razão provavelmente era contrabalançar os desafios apresentados pelo manuscrito árabe e o relator tinha que ouvir um hadith particular da pessoa a partir da qual estava transmitindo e transmitir exatamente o que ouviu (assim a gradação dos relatores se tornou necessário para saber que fez isso melhor) (Burton 110-111) [2] .  Além disso, desde o princípio, a necessidade de revisar cópias se tornou evidente e é relatado que os professores ajudavam seus alunos nessa tarefa para eliminar erros de cópia.  É importante saber que quem não seguia os métodos adequados no ensino ou compilação de seu próprio livro podia ser acusado de roubar hadiths, mesmo que o material fosse autêntico.  Então, era crítico que o hadith fosse obtido de forma adequada.  Existem várias outras técnicas, mas para o propósito desse trabalho é importante saber que os sábios dos hadiths usavam termos especiais na transmissão de um hadith, dependendo da técnica empregada em ensiná-lo.  Também vale destacar que esses termos especiais como “haddathana,” “akhbarana” e “an” são frequentemente confundidos como significando que a transmissão foi estritamente oral, embora tenha sido demonstrado que não era esse o caso.



Footnotes:

[1] Azami, Muhammad. Studies in hadeeth Methodology and Literature (Estudos em Metodologia e Literatura de hadiths, em tradução livre). Indiana: American Trust, 1977.

[2] Burton, John. An Introduction to the hadeeth (Uma Introdução aos hadiths, em tradução livre). Edinburgo: Edinburgh UP, 1994.

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