Jerald F. Dirks, Ministro da Igreja Unida Metodista, EUA (parte 4 de 4)
Descrição: A vida pregressa e educação de um bolsista Hollis de Harvard e autor do livro “A Cruz e o Crescente”, desiludido pelo Cristianismo devido à informação aprendida em sua Escola de Teologia. Parte 4: “Da Cruz para o Crescente.”
- Por Jerald F. Dirks
- Publicado em 04 Oct 2010
- Última modificação em 04 Oct 2010
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Agora era março de 1993 e minha esposa e eu estávamos desfrutando de umas férias de cinco semanas no Oriente Médio. Também era o mês islâmico de Ramadã, quando os muçulmanos jejuam da alvorada ao pôr-do-sol. Como estávamos sempre acompanhados por membros das famílias de nossos amigos muçulmanos dos Estados Unidos, minha esposa e eu tínhamos decidido que também jejuaríamos, pelo menos por uma questão de cortesia. Durante esse período também comecei a realizar as cinco orações diárias do Islã com meus novos amigos muçulmanos do Oriente Médio. Afinal de contas, não havia nada naquelas orações com o qual eu discordasse.
Era um cristão, ou assim me dizia. Tinha nascido em uma família cristã, recebido uma educação cristã, frequentado a igreja e a escola dominical quando criança, me graduado em um seminário de prestígio e fui ordenado ministro em uma grande denominação protestante. Entretanto, também era um cristão que não acreditava em uma divindade trina ou na divindade de Jesus, que Deus o louve, que sabia muito bem o quanto a Bíblia tinha sido corrompida, que tinha dito o testemunho islâmico de fé em minhas próprias palavras cuidadosamente escolhidas; que tinha jejuado durante o Ramadã; que estava fazendo as orações islâmicas cinco vezes ao dia; e que estava profundamente impressionado pelos exemplos comportamentais que tinha testemunhado na comunidade muçulmana, tanto na América quanto no Oriente Médio. (Tempo e espaço não me permitem o luxo de documentar em detalhes todos os exemplos de moralidade e ética pessoal que encontrei no Oriente Médio.) Se perguntado se era muçulmano, fazia um monólogo de cinco minutos detalhando o que disse acima e basicamente deixava a pergunta sem resposta. Estava jogando jogos intelectuais e sendo muito bem-sucedido.
Era o final de nossa viagem ao Oriente Médio. Um amigo idoso que não falava inglês e eu estávamos andando por uma pequena estrada sinuosa em algum lugar em uma das áreas em desvantagem econômica da grande Amã, Jordânia. Enquanto andávamos, um homem idoso se aproximou de nós vindo da direção oposta e disse “Salam Alaikum”, ou seja, “que a paz esteja com você”, e ofereceu para apertar as mãos. Éramos apenas três pessoas. Eu não falava árabe e nem meu amigo e nem o estrangeiro falavam inglês. Olhando para mim o estranho perguntou: “Muçulmano?”
Naquele preciso momento me senti pego totalmente em uma armadilha. Não havia jogos de palavras intelectuais a serem jogados porque eu só podia me comunicar em inglês e eles só podiam se comunicar em árabe. Não havia tradutor presente para me tirar daquela situação e permitir que me escondesse atrás de meu monólogo cuidadosamente preparado em inglês. Não podia fingir que não entendi a pergunta, porque era muito óbvio que tinha entendido. Minhas escolhas ficaram de repente, e de forma imprevisível e inexplicável, reduzidas a apenas duas: podia dizer “N’am”, ou seja, “sim”; ou podia dizer “La”, ou seja, “não.” A escolha era minha e eu não tinha outra. Tinha que escolher e tinha que escolher agora; simples assim. Louvado seja Deus, respondi “N’am.”
Ao dizer aquela palavra, todos os jogos intelectuais de palavras estavam agora para trás. Com os jogos intelectuais de palavras para trás, os jogos psicológicos com relação à minha identidade religiosa também ficaram para trás. Não era um cristão estranho, atípico. Era muçulmano. Louvado seja Deus, minha esposa de 33 anos também se tornou muçulmana na mesma época.
Poucos meses após nosso retorno para a América um vizinho nos convidou para sua casa, dizendo que queria falar conosco sobre nossa conversão ao Islã. Era um ministro metodista aposentado, com quem tinha tido várias conversas no passado. Embora nós ocasionalmente falássemos superficialmente sobre esses assuntos, como a construção artificial da Bíblia a partir de várias fontes independentes anteriores, nunca tínhamos tido qualquer conversa profunda sobre religião. Sabia apenas que ele parecia ter adquirido uma sólida educação seminarista e que cantava no coro da igreja local todo domingo.
Minha reação inicial foi “Ai, ai, vai começar.” Entretanto, é um dever islâmico ser um bom vizinho e é um dever islâmico estar disposto a discutir o Islã com outros. Assim, aceitei o convite para a noite seguinte, e a maior parte das 24 horas seguintes em que estava acordado contemplei qual seria a melhor forma de abordar esse cavalheiro em seu pedido para conversar. A hora marcada chegou e fomos para o nosso vizinho. Depois de alguns momentos de conversa ele finalmente perguntou por que eu tinha decidido me tornar muçulmano. Esperava por essa pergunta e tinha minha resposta preparada cuidadosamente. “Como você sabe através de sua educação no seminário, existem muitas considerações não-religiosas que moldaram as decisões do Concílio de Nicéia.” Ele imediatamente me interrompeu com uma afirmação simples: “Você finalmente não pôde mais aguentar o politeísmo, não é?” Ele sabia exatamente porque eu era muçulmano e não discordava de minha decisão! Para si próprio, a essa idade e momento da vida, estava escolhendo ser “um cristão atípico.” Se Deus quiser, por agora ele completou sua jornada da cruz para o crescente.
Existem sacrifícios a serem feitos para ser muçulmano na América. Na verdade, existem sacrifícios a serem feitos para ser muçulmano em qualquer lugar. Entretanto, esses sacrifícios podem ser sentidos de forma mais aguda na América, especialmente entre os convertidos americanos. Alguns desses sacrifícios são muito previsíveis e incluem mudança na vestimenta e abstinência de álcool, porco e recebimento de juros. Alguns desses sacrifícios são menos previsíveis. Por exemplo, uma família cristã, de quem éramos amigos próximos, nos informou que não podiam mais se associar conosco, porque não podiam se associar com ninguém que “não tivesse Jesus Cristo como seu salvador pessoal.” Em acréscimo, um número razoável de meus colegas profissionais mudaram sua forma de se relacionar comigo. Coincidência ou não, a minha base de indicações profissionais diminuiu, e houve uma queda de quase 30% em minha renda, como resultado. Alguns desses sacrifícios menos previsíveis eram difíceis de aceitar, embora os sacrifícios sejam um preço pequeno a pagar pelo que se recebe em troca.
Para aqueles que contemplam a aceitação do Islã e a submissão a Deus – glorificado e exaltado seja Ele, podem haver sacrifícios no caminho. Muitos desses sacrifícios são facilmente previsíveis, enquanto outros podem ser surpreendentes e inesperados. Não há como negar a existência desses sacrifícios e não pretendo dourar a pílula para vocês. Entretanto, não se preocupe demais com esses sacrifícios. Na análise final, eles são menos importantes do que você pode pensar no momento. Se Deus quiser, você descobrirá que esses sacrifícios são uma moeda muito barata a pagar pelos “bens” que está adquirindo.
Por favor note: o certificado de ordenação acima era grande demais para escanear completamente – a linha de cima do texto está faltando e diz “Que Se Faça Saber a Todos os Homens Que”
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