Preservação da Sunnah por Deus (parte 6 de 7): Viajar com o Propósito de Buscar Hadiths
Descrição: A importância dada à obtenção de conhecimento no Islã levou muitos muçulmanos a empreenderem longas viagens para coletar e confirmar os ditos e ações do Profeta Muhammad.
- Por Jamaal al-Din Zarabozo (© 2011 IslamReligion.com)
- Publicado em 11 Apr 2011
- Última modificação em 11 Apr 2011
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Outro fenômeno único que surgiu e auxiliou na preservação da Sunnah foi a viagem em busca de hadiths, para verificar as fontes e reunir mais hadiths. Entre todas as diferentes comunidades religiosas do mundo apenas a nação islâmica foi abençoada com duas características particulares que a salvou de perder seus ensinamentos originais e puros. Essas duas características únicas são o uso do Isnad, que já foi discutido, e as viagens empreendidas na busca de hadiths, que serão discutidas agora. O grande desejo de conhecimento religioso entre os muçulmanos levou indivíduos a viajarem, por conta própria, por meses simplesmente para coletar ou confirmar apenas um dito do Profeta, que a misericórdia e as bênçãos de Deus estejam sobre ele. Foi essa devoção aos hadiths e disposição para sacrificar qualquer aspecto dessa vida mundana que ajudou muito na preservação completa dos hadiths do Profeta. M. Zubayr Siddiqi escreveu:
Todas essas várias gerações de “tradicionistas” exibiram atividade maravilhosa em busca de hadiths. Seu amor pelo assunto foi profundo. Seu entusiasmo não conhecia restrições. Sua capacidade de sofrer por isso não tinha limite. O rico entre eles sacrificava riquezas e o pobre entre eles devotava sua vida a isso apesar de sua pobreza. [1]
Por que esse desejo por conhecimento era tão grande entre esses primeiros muçulmanos? Ninguém pode responder a essa pergunta completamente, mas devem ter havido muitas razões para esse forte desejo. Essas razões devem ter incluído as seguintes:
(a) Essas almas piedosas sabiam que o conhecimento de hadiths as levavam à prática do Profeta e, além disso, sabiam que seguindo seus passos se tornariam mais próximas de Deus.
(b) O Alcorão e o Profeta enfatizavam essas virtudes e importância de obter conhecimento. Deus diz:
“... Dize: Poderão, acaso, equiparar-se os sábios com os insipientes?...” (Alcorão 39:9)
Também:
“Os sábios, dentre os servos de Deus, só Ele temem...” (Alcorão 35:28)
Entre as muitas afirmações do Profeta sobre esse assunto estão:
“Quem quer que saia em busca de conhecimento, Deus lhe facilita o caminho para o Paraíso...” [2] (Saheeh Muslim)
O Profeta também disse:
“Quando o filho de Adão morre todas as suas boas ações chegam ao fim, exceto três: uma caridade perpétua, conhecimento benéfico [que ele deixou para trás e do qual as pessoas se beneficiaram] e um filho virtuoso que suplica por ele.” [3](Saheeh Muslim)
Os primeiros estudiosos reconheciam a importância de obter conhecimento e também que nenhum conhecimento é melhor que o conhecimento sobre o Criador. Consequentemente, fizeram o máximo para aprender os ensinamentos de Seu Profeta.
Exemplos dos primeiros anos darão um retrato mais claro dessas viagens em busca de hadiths. Na realidade, entretanto, pode-se dizer que viajar em busca de hadiths começou durante a vida do próprio Profeta. Ou seja, mesmo naquela época, as pessoas vinham de fora de Medina para perguntar ao Profeta sobre assuntos específicos. Em alguns casos, vinham ao Profeta para verificar o que tinha sido relatado pelos representantes do Profeta. Em al-Bukhari e Muslim pode ser visto que outros Companheiros ficavam ansiosos por tal evento. Isso porque, como Anas afirmou, eram proibidos de fazer ao Profeta muitas perguntas então ficavam ansiosos pela chegada de um beduíno inteligente que viajava para chegar ao Profeta e perguntar-lhe questões específicas.
Os seguintes exemplos são de Companheiros que viajaram para verificar hadiths que eles próprios ouviram do Profeta.[4]
O Imame al-Bukhari registrou em seu Sahih que Jaabir ibn Abdullah viajou por um mês para obter um único hadith de Abdullah ibn Unais. Em uma versão registrada por al-Tabaraani ela afirma que Jabir disse: “Costumava ouvir um hadith sobre a autoridade do Profeta sobre retaliação, e quem narrou o hadith [diretamente do Profeta] estava no Egito. Então comprei um camelo e viajei para o Egito...”[5]
O Companheiro Abu Ayub viajou até o Egito para perguntar a Uqba ibn Amr sobre um hadith. Ele disse a Uqba que somente ele e Uqba tinham ouvido aquele hadith em particular diretamente do Profeta. Depois de ouvir o hadith seu objetivo no Egito estava concluído e ele retornou para Medina.
Um dos Companheiros viajou para encontrar Fadhala ibn Ubaid e lhe disse que veio não para visitá-lo, mas somente para perguntar sobre um hadith que ambos tinham ouvido do Profeta e o Companheiro tinha esperança que Fadhala tivesse o fraseado completo do hadith.[6]
Das histórias dos Companheiros pode-se concluir que viajavam em busca de hadiths por basicamente duas razões:
(a) Para ouvir um hadith de um Companheiro referente a algo que não tiveram a honra de ouvir eles próprios diretamente do Profeta, aumentando dessa forma seu conhecimento de hadiths.
(b) Para confirmar o fraseado e/ou significado de um hadith que eles e outros Companheiros tinham ouvido diretamente do Mensageiro de Deus. Assim, mesmo os Companheiros estavam constantemente verificando e verificando e salvaguardando a pureza dos hadiths que narravam.
Na era dos alunos dos Companheiros (chamados “Sucessores”), o desejo e disposição de viajar apenas para ouvir ou confirmar um hadith do Profeta não diminuiu. Medina, tendo sido o lar do Profeta por muitos anos, o lar da Sunnah e a cidade onde muitos dos Companheiros residiam após a morte do Profeta, foi provavelmente o principal centro de atração, mas, de fato, qualquer lugar onde era sabido que um hadith em particular podia ser ouvido atraía “viajantes”.
Muitos exemplos podem ser fornecidos. Al-Khateeb al-Baghdadi escreveu um trabalho inteiro sobre o assunto de viajar em busca de hadiths. Seu trabalho é intitulado Al-Rihla fi Talab al-Hadeeth (“Viagens em Busca de Hadiths”). O que torna esse trabalho ainda mais interessante é que ele não se refere simplesmente a estudiosos viajando para aprender hadiths. Isso foi feito por quase todos os estudiosos na história do Islã. De fato, se um estudioso não viajasse era usualmente visto como algo estranho, já que a norma era viajar. Entretanto, esse livro, como destacado pelo editor do trabalho Noor al-Deen Itr, é sobre viagens em busca de apenas um hadith e não de hadiths em geral![7]
Footnotes:
[1] M. Z. Siddiqi, Hadeeth Literature: Its Origin, Development, Special Features and Criticism (Literatura de Hadith: Sua Origem, Desenvolvimento, Características Especiais e Criticismo) (Calcutá: Calcutta University Press, 1961), p. 48.
[2] Saheeh Muslim.
[3] Saheeh Muslim.
[4] Para mais exemplos ver Akram Dhiyaa Al-Umari, Buhooth fi Tareekh al-Sunnah al-Musharrifah (Beirute: Muassasah al-Risaalah, 1975), pp. 203f.
[5] Ibn Hajar diz que essa versão tem uma boa cadeia. Cf., ibn Hajar, Fath al-Baari, vol. 1, p. 174.
[6] Esse incidente foi registrado por Abu Dawood.
[7] Ver Noor al-Deen Sua introdução a al-Khateeb al-Baghdaadi, al-Rihlah fi Talab al-Hadeeth (Beirute: Daar al-Kutub al-Ilmiyyah, 1975), p. 10.