Imprecisão bíblica e João 3:16 (parte 5 de 5)

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Descrição: Uma análise do famoso versículo bíblico "Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu seu único filho, para que aquele que nele crê não pereça mas tenha vida eterna.”  Parte 5: Mais razões por que não devemos acreditar em João 3:16. 

  • Por Laurence B. Brown, MD
  • Publicado em 05 Jun 2017
  • Última modificação em 04 Jun 2017
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BiblicalInaccuracy5.jpgPara recapitular, nos últimos quatro episódios dessa série discutimos o seguinte em relação João 3:16"Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu seu único filho, para que aquele que nele crê não pereça mas tenha vida eterna."

1)O evangelho conhecido como "João" quase que certamente não foi escrito pelo discípulo João;

2)Em João 3:16, como em todos os outros lugares na Bíblia, os tradutores ilegitimamente colocaram maiúsculas em "ele", para fazer com que Jesus parecesse Deus;

3)Como a Bíblia é inconsistente internamente e não confiável quando se trata de fatos, não atende aos requisitos básicos esperados de uma escritura sagrada;

4)A ideologia fundamental (a crucificação, ressurreição e o sacrifício da expiação) são tão falhos que não podemos de maneira razoável nos apoiar em João 3:16 (ou, na Bíblia como um todo) para a salvação. 

O que nos traz para uma discussão de por que alguém acredita que João 3:16 é verdadeiro, com tanta evidência em contrário.  O fato simples é que João 3:16 apela aos cristãos, verdadeiro ou não.  Nos episódios anteriores nessa série, discuti apenas algumas falácias do conceito do sacrifício de expiação de Jesus.  Deixei o melhor por último é aqui está: De acordo com a Bíblia, Deus não quer um sacrifício.  Agora, deixemos de lado os argumentos do bom senso (que perdão não tem um preço; que uma pessoa não pode fazer expiação por outra; que se Deus tivesse querido, teria perdoado a humanidade somente com base nisso, etc.) e nos apoiarmos exclusivamente no fato de que a Bíblia nos diz que Deus não quer sacrifício, em primeiro lugar: Oséias 6:6 lê: "Porque eu quero a misericórdia, e não o sacrifício. " Esse é o Velho Testamento, mas Mateus 9:13 e 12:7 fazem referência a esse versículo e isso se aplica ao Novo Testamento também.  Então, qual é o argumento? Que Deus precisava de um sacrifício que Ele nem quer? Esse conceito é problemático, no mínimo.

Existem muitas outras razões por que não devemos acreditar em João 3:16 e uma das melhores não é que não podemos acreditar em João 3:16, mas que não podemos estar certos sobre qualquer coisa no "evangelho de João". Apesar do fato de que ninguém saber quem é o autor de "João", o Jesus Seminar analisou as palavras atribuídas a Jesus no evangelho de João e "foram incapazes de encontrar um único dito que pudessem rastrear com certeza ao Jesus histórico...  As palavras atribuídas a Jesus no Quarto Evangelho são, na maioria, a criação do evangelista."[1] Agora, por que "o evangelista" faria tal coisa? Nos é dito a razão: "Os seguidores de Jesus estavam inclinados a adotar e adaptar suas palavras para suas próprias necessidades.  Isso os levou a inventar contextos narrativos baseados em suas próprias experiências, nas quais importaram Jesus como uma figura de autoridade."[2] O Jesus Seminar documenta centenas de exemplos nos livros do Evangelho, inclusive casos nos quais "os seguidores de Jesus tomaram emprestado livremente sabedoria comum e cunharam seus próprios ditos e parábolas, que então atribuíram a Jesus."[3]

Isso não tira a credibilidade apenas de João 3:16, mas de fato de todo o João.  Por extensão, se a Bíblia está repleta de contradições, como podemos saber o que é verdadeiro e o que não é - em qualquer lugar na Bíblia?

Como diz o velho ditado, não é o apito que puxa o trem.  Os cristãos podem gostar de como João 3:16 soa, mas isso não o torna verdadeiro.  De fato, quanto mais examinamos o versículo, mais razões encontramos para desacreditar nele. 

Outro antigo ditado é que a isca esconde o anzol.  João 3:16 é a isca, por meio da qual os evangelistas esperam jogar o anzol e enrolar as pessoas em suas conclusões presunçosas e inteiramente ilegítimas.  Eles nos dizem que Deus deu Seu "único filho", sem analisar criticamente esse conceito.  Se Jesus é o "único filho de Deus", por que Salmos 2:7 diz isso sobre Davi: "O Senhor me disse: Tu és meu Filho, eu hoje te gerei." Jesus o "único filho de Deus" com Davi, um "filho", "gerado" por Deus quarenta gerações antes? A Bíblia só pode ter um "único" de algo, mas não dois "únicos" da mesma coisa!

A Bíblia descrever muitas pessoas, Israel e Adão incluídos, como "filhos de Deus." Tanto em 2 Samuel 7:13-14 quanto em 1 Crônicas 22:10 se lê, "Este (Salomão) edificará uma casa ao meu nome, e eu estabelecerei para sempre o trono do seu reino.  Eu lhe serei por pai, e ele me será por filho."

Na Bíblia, "único gerado" é traduzido do grego antigo monogenes.[4] E ainda assim, "Isaque é monogenes em Hebreus 11:17."[5] Ismael nasceu quatorze anos antes de Isaque e ambos estavam vivos quando o pai, Abraão, morreu.  Em momento algum Isaque foi o "único filho gerado" de Abraão.  Então "único gerado" é uma má tradução de monogenes ou Hebreus 11:17 é um erro? Se é uma má tradução, então João 3:16 deve estar mal traduzido também.  Se é um erro, não podemos confiar na Bíblia como um todo (um refrão repetitivo nessas discussões). 

Georgie Pettie uma vez corrigiu um provérbio antigo: "Errar é humano, perdoar é divino..." adicionando "e persistir no erro é burrice." A atitude presunçosa dos seguidores de João 3:16 "tenho o Espírito Santo dentro de mim e não posso errar" é ofensiva por muitas razões, tanto quanto é errada.  Por um lado, soa muito como a máximo do advogado para argumentar fatos e leis quando servem o propósito e gritar quando não servem. 

Se me permitirem ecoar a conclusão de Voltaire: A dúvida não é uma condição agradável, mas certeza em face de evidência em contrário é absolutamente absurdo.

Apesar da força da evidência contra João 3:16, a maioria dos cristãos se recusa a reconhecer a ilegitimidade do versículo.  E talvez não cristãos devam aceitar isso.

Em Mateus 5:9 Jesus diz, "Bem-aventurados os pacificadores, porque serão chamados filhos de Deus." Então, talvez, devamos esquecer de tentar ganhar esse argumento e fazer as pazes.  Não podemos nos unir nas crenças, então pelo menos vamos nos unir em atos gentis e caritativos.  Tornemo-nos os "pacificadores bem-aventurados" que são chamados de "filhos de Deus". Então, destaquemos que esse é apenas mais um versículo bíblico que contradiz o conceito exclusivo de "filho de Deus" de João 3:16.  Nada diz que não podemos fazer a paz e continuar a enfatizar nosso ponto de maneira educada ao mesmo tempo.  Mas isso, para mim, é um elemento importante de qualquer diálogo religioso: Mantenha-o leve e educado, mas mantenha o foco. 

Sobre o autor:

Laurence B. Brown, MD, é autor de vários artigos e livros e seu website oficial é www.leveltruth.com onde também pode ser contatado na página "Contato".



Notas de rodapé:

[1] Funk, Robert W., Roy W. Hoover, and the Jesus Seminar.  The Five Gospels: The Search for the Authentic Words of Jesus. p. 10.

[2] Funk, Robert W., p. 21.

[3] Funk, Robert W., p. 22.

[4] Kittel, Gerhard and Gerhard Friedrich (editores).  1985.  Theological Dictionary of the New Testament.  Traduzido por Geoffrey W. Bromiley.  William B. Eerdmans Publishing Co., Paternoster Press Ltd. p. 607.

[5]Ibid

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