Preservação da Sunnah por Deus (parte 7 de 7): Resumo
Descrição: A salvaguarda e a sequência de tempo relacionadas à preservação da Sunnah e sua comparação com a preservação de outras escrituras religiosas, notadamente o Torá e o Evangelho.
- Por Jamaal al-Din Zarabozo (© 2011 IslamReligion.com)
- Publicado em 18 Apr 2011
- Última modificação em 18 Apr 2011
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O que foi dito acima foi uma breve descrição de alguns dos meios importantes pelos quais Allah preservou a Sunnah do Profeta Muhammad, que a misericórdia e as bênçãos de Deus estejam sobre ele, de importância fundamental. Um dos aspectos importantes a destacar é que essas salvaguardas entraram em efeito virtualmente durante a vida do próprio Profeta. Não houve intervalo de tempo, deixando a porta aberta para uma perda maciça de informação ou para distorção.
Na afirmação a seguir, M. Z. Siddiqi fez um excelente trabalho resumindo a proteção da Sunnah nos primeiros anos:
Os Hadiths no sentido dos relatos dos ditos e atos de Muhammad têm sido assunto de busca ardente e estudo constante pelos muçulmanos em todo o mundo muçulmano desde o início da história do Islã até os tempos presentes. Durante a vida de Muhammad muitos dos Companheiros tentaram aprender de cor o que quer que ele dissesse e observaram atentamente o que quer que ele fizesse; e relataram essas coisas uns aos outros. Alguns deles escreveram o que ele disse em Saheefahs (pergaminhos) que foram posteriormente lidos por eles para seus alunos e foram preservados em suas famílias e também pelos Sucessores. Após a morte de Muhammad, quando seus Companheiros se espalharam em diversos países, alguns deles e também seus sucessores empreenderam viagens longas e árduas, enfrentando pobreza e penúria para coletá-los... Sua atividade notável com relação à preservação e propagação dos hadiths é única na história literária do mundo... [E a excelência de suas ciências permanece] sem paralelo na história literária do mundo ainda hoje. [1]
Foram esses processos que culminaram por fim nas ciências afinadas de hadiths e na graduação detalhada dos relatos rastreados até o Profeta. Em geral os estudiosos não aceitavam um relato como hadith autêntico a menos que pudesse ser verificado com uma cadeia completa feita somente de narradores seguros e confiáveis até o Profeta. Qualquer coisa menos que isso era rejeitada como um hadith fraco.
Quanto mais alguém prossegue no estudo da ciência dos hadiths, mais ele/ela se sentirá confortável com o sentimento de que os ensinamentos do Profeta Muhammad foram preservados nos mínimos detalhes, assim como Allah prometeu no Alcorão. Quando os estudiosos de hadiths – que são os especialistas no ramo e que passaram suas vidas dominando essa disciplina – concordam sobre a autenticidade de um hadith, não deve haver necessidade de debate ou questionamento. A única coisa que resta é acreditar nele e fazer o melhor para aplicar o significado do hadith em sua vida.
Comparação com Outras Escrituras
Ao se referirem aos hadiths do Profeta é comum alguns ocidentais usarem a palavra “tradição”. Isso imediatamente causa a impressão de um relato muito aleatório e sem sofisticação. A realidade, como aludido acima, é completamente diferente. Consequentemente, o uso dessa palavra “tradição” pode ser apenas uma cortina de fumaça para dar a impressão de que os hadiths não foram preservados. Outra descrição comum é uma referência à preservação dos hadiths como sendo semelhante a do Evangelho.
Essa também é uma frase astuta que definitivamente tem conotações negativas para muitos. De fato, muitos convertidos estudaram o Evangelho e sabem o quanto ele não é confiável – sendo essa uma das razões porque começaram a buscar por outra religião fora do Cristianismo. Sendo assim, essa afirmação rapidamente abalará sua fé nos hadiths.
A realidade total é que nenhuma comparação honesta pode ser feita entre a preservação constante e científica dos hadiths do Profeta e a preservação das escrituras anteriores. Breves descrições da preservação – ou falta dela – das escrituras anteriores devem ser suficientes para contrastá-las com a preservação dos hadiths.
Após uma longa discussão da história do Torá, Dirks conclui:
O Torá recebido não é um documento único, unitário. É uma compilação de colagens... com formação de camadas adicionais...Embora Moisés, a pessoa que recebeu a revelação original, a quem o Torá supostamente representa, não tenha vivido depois do século 13 AC e provavelmente tenha vivido no século 15 AC, o Torá recebido data de uma época muito posterior. O trecho identificável mais antigo do Torá recebido, ou seja, J, não pode ser datado de antes do século 10 AC... Além disso, esses trechos diferentes não foram introduzidos no Torá recebido até aproximadamente 400 AC, o que seria aproximadamente 1.000 anos após a vida de Moisés. Ainda mais, o Torá recebido nunca foi totalmente padronizado, com pelo menos quatro textos diferentes existindo no primeiro século DC, aproximadamente 1.500 anos após a vida de Moisés. Adicionalmente, se adotarmos o texto masorético como o texto mais “oficial” do Torá recebido, então o manuscrito mais antigo existente data de cerca de 895 DC, que é aproximadamente 2.300 anos após a vida de Moisés. Em resumo, embora o Torá recebido possa conter algumas porções do Torá original, a origem do Torá recebido é interrompida, vastamente desconhecida e não pode de forma alguma ser traçada até Moisés. [2]
Embora Jesus tenha vindo muitos séculos depois de Moisés, a revelação que ele recebeu não teve melhor sorte. Um grupo de eruditos cristãos conhecidos como Fellows of the Jesus Seminar (Membros do Seminário de Jesus) tentaram determinar quais ditos atribuídos a Jesus podem ser considerados autênticos. Eles afirmaram: “82% das palavras atribuídas a Jesus nos evangelhos não foram de fato ditas por ele.” [3] Ao descrever a história dos evangelhos, ele escreveu: “A verdade é que a história dos evangelhos gregos, de sua criação no primeiro século até a descoberta de suas primeiras cópias no início do terceiro, permanece um território amplamente desconhecido e, consequentemente, não mapeado”. [4] O trabalho de Bart Ehrman, The Orthodox Corruption of Scripture (A Corrupção Ortodoxa da Escritura, em tradução livre) identificou como a escritura foi mudada ao longo do tempo. Ele afirma sua tese, que ele prova com detalhes, na abertura: “A minha tese pode ser declarada de forma simples: escribas ocasionalmente alteraram as palavras de seus textos sagrados para fazê-los mais patentemente ortodoxos e prevenir o mau uso por cristãos que abraçavam opiniões aberrantes.” [5] É como colocar a carroça antes dos bois: as crenças devem ser baseadas nos textos transmitidos, mas os textos não devem ser alterados para se adequar às crenças.
Uma Nota Final sobre o Alcorão
A natureza do Alcorão é muito diferente das afirmações e ações do Profeta. Obviamente, as afirmações e ações são muito maiores em número enquanto que o Alcorão é muito limitado em tamanho. O Alcorão, que não é um livro grande, também foi preservado na memória assim como na forma escrita desde a época do Profeta Muhammad. Muitos dos Companheiros do Profeta tinham memorizado o Alcorão inteiro e, temendo o que havia acontecido com as comunidades das religiões anteriores, eles adotaram as medidas necessárias para protegê-lo de qualquer forma de adulteração. Logo após a morte do Profeta o Alcorão foi todo compilado e pouco depois cópias oficiais foram enviadas a terras distantes, para assegurar que o texto fosse puro. Até hoje, pode-se viajar para qualquer parte do mundo, pegar uma cópia do Alcorão e constatar que ela é a mesma em todo o mundo. A tarefa de preservar o Alcorão não pode de fato ser comparada à tarefa de preservação do conjunto da Sunnah. Sendo assim, não surpreende, dada a atitude dos muçulmanos daquela época, que o Alcorão tenha sido detalhadamente preservado.
Footnotes:
[1] M. Z. Siddiqi, pp. 4-5.
[2] Jerald F. Dirks, The Cross & the Crescent (A Cruz & o Crescente) (Beltsville, MD: Amana Publications, 2001), p. 53. Outras discussões importantes da autenticidade do Velho Testamento podem ser também encontradas no livro de Maurice Bucaille, The Bible, the Quran and Science (A Bíblia, oAlcorão e a Ciência) (Indianápolis, IN: American Trust Publications, 1978), pp. 1-43; M. M. Al-Azami, pp. 211-263.
[3] Robert W. Funk, Roy W. Hoover e o Seminário de Jesus, The Five Gospels: What did Jesus Really Say? (Os Cinco Evangelhos: O que Jesus Realmente Disse?) (Nova Iorque: MacMillan Publishing Company, 1993), p. 5.
[4] Funk, et al., p. 9.
[5] Bart D. Ehrman, The Orthodox Corruption of Scripture: The Effect of Early Christological Controversies on the Text of the New Testament (A Corrupção Ortodoxa da Escritura: O Efeito das Primeiras Controvérsias Cristológicas sobre o Texto do Novo Testamento) (Nova Iorque: Oxford University Press, 1993), p. xi.