Judaísmo (parte 4 de 4): Tão semelhante; então por que não a mesma?
Descrição: As semelhanças e histórias compartilhadas do Judaísmo e do Islã.
- Por Aisha Stacey (© 2015 IslamReligion.com)
- Publicado em 09 Nov 2015
- Última modificação em 15 Nov 2015
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Nos três artigos anteriores sobre a religião do Judaísmo aprendemos acima de tudo que o Judaísmo e o Islã têm muito em comum. A paisagem política do século 21 parece pintar um quadro de judeus e muçulmanos sendo inimigos mortais, mas não é o caso. As duas fés compartilham uma história e às vezes viveram, trabalharam e cooperaram uma com a outra. Muitos muçulmanos se perguntam por que os judeus não veem automaticamente o Islã como uma extensão de sua própria fé e, assim, abraçam o Islã de todo o coração. O fato é que muitos o fazem, mas a maioria não. Nesse artigo final continuaremos a olhar para as semelhanças entre as duas fés e a explorar brevemente sua interação histórica.
Judaísmo e Islã compartilham um legado comum de tradições. As duas crenças compartilham muitos dos mesmos profetas, todos reconhecendo um parentesco comum em Abraão. Todos descrevem atributos semelhantes de Deus, incluindo Criador, Sustentador, Juiz e Perdoador. As duas crenças acreditam que Deus é Onipotente e Onisciente. O parentesco dessas fés continua por meio de valores morais, incluindo respeito pela vida, aos pais, fazer caridade, fazer o bem e evitar o mal. Até suas crenças sobre os momentos finais da existência da humanidade são semelhantes. Judaísmo e Islã compartilham a tradição que se a trombeta para sinalizar o fim dos tempos for soprada e você tiver uma muda em sua mão, você deve plantá-la. Há uma sobreposição física, teológica e política considerável e continuada entre as duas fés.
A Torá registra Abraão como o ancestral dos judeus através de seu filho Isaque, nascido de Sara para cumprir uma promessa feita em Gênesis. Na tradição islâmica o profeta Muhammad é um descendente de Ismael, filho de Abraão. A tradição judaica também equipara os descendentes de Ismael com os árabes. Os profetas judeus figuram de maneira proeminente na escritura e literatura islâmicas e a mensagem é sempre a mesma - adore o Deus Único.
"Abraão foi o pai dos profetas; nenhum profeta foi enviado depois dele que não estivesse entre seus descendentes. Teve dois filhos que Deus escolheu para serem profetas. Foram Ismael, o avô dos árabes, de cujos descendentes Deus enviou o profeta Muhammad e Isaque, a quem Deus abençoou com um filho, o profeta Jacó, que também era conhecido como Israel, que deu nome aos filhos de Israel e seus profetas." [1]
"Agraciamo-los com Isaac e Jacó, que iluminamos, como havíamos iluminado anteriormente Noé e sua descendência, Davi e Salomão, Jó e José, Moisés e Aarão. Assim, recompensamos os benfeitores. E Zacarias, Yáhia (João), Jesus e Elias, pois todos se contavam entre os virtuosos. E Ismael, Eliseu, Jonas e Lot, cada um dos quais preferimos sobre os seu contemporâneos." (Alcorão 6:84-86)
Historicamente judeus e muçulmanos têm compartilhado suas culturas e prosperado juntos, algumas vezes por séculos. Essa conexão se reflete melhor nos 700 anos do governo muçulmano na Espanha, na época conhecida como Andaluzia. Foi ali que os judeus tiveram algumas das posições políticas mais importantes, eram médicos dos governantes muçulmanos e geraram teorias filosóficas profundas. Maimônides viveu e escreveu O Guia para os Perplexos (uma discussão de algumas das teorias mais difíceis da teologia) em Córdoba. Uma estátua em sua honra ainda se mantém lá. Os judeus foram capazes de produzir grandes avanços em matemática, astronomia, filosofia e química e essa época é muitas vezes chamada de era dourada da cultura judaica. Em 1492, quando Andaluzia foi invadida pelos católicos e os governantes muçulmanos depostos, judeus e muçulmanos fugiram juntos para a segurança das terras muçulmanas no norte da África e oriente em direção ao Egito, Palestina, Síria e Iraque.
"Deus nada vos proíbe, quanto àquelas que não nos combateram pela causa da religião e não vos expulsaram dos vossos lares, nem que lideis com eles com gentileza e equidade, porque Deus aprecia os equitativos. Deus vos proíbe tão-somente entrar em privacidade com aqueles que vos combateram na religião, vos expulsaram de vossos lares ou que cooperaram na vossa expulsão. Em verdade, aqueles que entrarem em privacidade com eles serão iníquos." (Alcorão 60: 8-9)
O tratamento a judeus e cristãos pelos muçulmanos é bem documentado. O califa Omar, sob o qual Jerusalém foi conquistada seis anos após a morte do profeta, não só emitiu um édito protegendo os locais religiosos cristãos, mas também convidou 70 famílias judias de Tiberíades para estabelecer residência em Jerusalém, de onde tinham sido expulsas pelos romanos. Judeus e muçulmanos têm muito em comum, a maior doutrina sendo sua crença no Deus Único, indivisível e acessível.
Com tantas semelhanças pode-se facilmente perguntar por que mais judeus não estão se convertendo ao Islã? Como mencionado antes, muitos estão. Nos primórdios do Islã muitos judeus se converteram e um em particular, Abdullah Ibn Salam, era um companheiro próximo do profeta Muhammad. Sua história pode ser lida em detalhes nesse site[2]. A seguir está uma pequena lista de judeus notáveis que se converteram ao Islã.
·Rashid-al-Din Hamadani - médico persa do século 13
·Yaqub ibn Killis - vizir egípcio do século 10.
·Leila Mourad - cantora e atriz egípcia dos anos 1940 e 1950.
·Lev Nussimbaum - escritor, jornalista e orientalista do século 20.
·Jacob Querido - sucessor do século 17 do autoproclamado messias judeu Sabbatai Zevi.
·Ibn Sahl de Sevilha - poeta andaluz do século 13.
Sabemos muito pouco sobre o número de judeus que se convertem ao Islã hoje. Entretanto, seu número pode ser mais alto do que imaginamos, considerando que, de acordo com o Pew,[3] o Islã cresce a uma taxa de 2,9% ao ano. É mais rápido que a população mundial total, que aumenta em torno de 2,3% ao ano. Esse site reuniu dados estatísticos confiáveis e está disponível aqui.[4]
Dados do estado de Israel sugerem que a taxa de conversão dos judeus ao Islã em Israel dobrou nos últimos anos. "Os judeus dizem que decidiram se converter depois de aprofundar seu conhecimento do Islã. Muitos estão desapontados no Judaísmo", disse um membro sênior da corte islâmica. Estão se convertendo apesar do Ministério do Interior e para Assuntos Religiosos Israelenses dificultar muito para eles. De acordo com um convertido, "eles me fazem andar em círculos, me enviando de repartição para repartição. Fizeram com que eu visse um psiquiatra, para se "assegurar que eu não tinha sofrido lavagem cerebral." Fizeram de tudo para que eu me desesperasse e voltasse para o Judaísmo."[5]
Quando você olha para todas as semelhanças certamente parece que é um pequeno passo, não um grande salto cognitivo, para um crente judeu deslizar sem esforço para a religião do Islã. Entretanto, o Islã é um presente de Deus e Ele o concede a quem desejar.
Notas de rodapé:
[1] De Usool al-Deen al-Islami do Shaykh Muhammad ibn Ibraaheem al-Tuwayjri (com algumas alterações gramaticais).
[2] (http://www.islamreligion.com/articles/4703/viewall/)
[3] O Pew Research Centre é uma organização think tank com base em Washington, D.C. que fornece informações sobre assuntos, atitudes e tendências que moldam os Estados Unidos e o mundo.
[4] (http://www.islamreligion.com/articles/4394/viewall/)
[5] (http://www.ynetnews.com/articles/0,7340,L-3274735,00.html)