A Poligamia no Judaísmo e no Cristianismo

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Descrição: A história da poligamia e seu status legal no Judaísmo e Cristianismo.

  • Por IslamReligion.com
  • Publicado em 04 Jan 2009
  • Última modificação em 07 Jan 2009
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A poligamia não é uma prática limitada à religião do Islã; ao contrário, ela também é bem conhecida na história do Povo do Livro, os judeus e cristãos.  Apenas em tempos mais recentes ela foi desaprovada ou proibida pelos homens religiosos dessas religiões.  Entretanto, quando se olha para a história primitiva das religiões, descobre-se que ela era pelo menos uma prática aceitável, se não encorajada.

A Poligamia no Judaísmo

A poligamia existia entre os israelitas antes do tempo de Moisés, que continuou a instituição sem impor qualquer limite no número de casamentos que um marido hebreu podia contratar.   A Enciclopédia Judaica afirma,  

Embora não exista evidência de um estado poliândrico na sociedade judaica primitiva, a poligamia parece ter sido uma instituição bem estabelecida, datando dos tempos mais antigos e se estendendo até tempos comparativamente modernos.[1]

Uma outra prática comum era tomar concubinas.[2]  Em tempos posteriores, o Talmude de Jerusalém restringiu o número pela habilidade do marido em manter as esposas de forma adequada.  Alguns rabinos, entretanto, aconselharam que um homem não devia ter mais do que quatro esposas.  A poligamia foi proibida no Judaísmo pelos rabinos, não por Deus.  O rabino Gershom ben Judah recebeu o crédito da proibição da poligamia no século 11 marginalizando-a por mil anos (que terminaram em 1987) para os judeus da Europa Oriental (Ashkenazi).  Os judeus do Mediterrâneo (sefaraditas) continuaram a praticar a poligamia.[3]  Conseqüentemente, de acordo com Will Durant, ‘a poligamia foi praticada por judeus ricos em terras islâmicas, mas era rara entre os judeus da Cristandade.’[4]  De acordo com Joseph Ginat, professor de antropologia social e cultural na Universidade de Haifa, ela é comum e crescente entre os 180.000 beduínos de Israel.  Também é freqüente entre os judeus mediterrâneos vivendo no Iêmen, com os rabinos permitindo que os judeus se casem com até quatro esposas.[5]  No moderno Israel, quando a esposa não é capaz de ter filhos ou é mentalmente doente, os rabinos dão ao marido o direito de casar com uma segunda mulher sem divorciar a primeira esposa.[6]

A Poligamia no Cristianismo

Jesus, que ignorou a poligamia, é irrelevante como modelo para os costumes matrimoniais, uma vez que ele não se casou durante seu ministério terreno.  De acordo com o padre Eugene Hillman, ‘Não existe em nenhum lugar no Novo Testamento qualquer mandamento explícito de que o casamento deve ser monogâmico ou qualquer mandamento explícito proibindo a poligamia.’[7]  A Igreja em Roma baniu a poligamia de modo a se adequar à cultura greco-romana que prescrevia apenas uma esposa legal, embora tolerasse o concubinato e a prostituição.[8]

O imperador romano, Valentiniano I, no século quatro, autorizou os cristãos a terem duas esposas.  No século oito Carlos Magno, que mantinha o poder sobre a igreja e o estado, praticou a poligamia, tendo seis, ou de acordo com algumas autoridades, nove esposas.[9]  De acordo com Joseph Ginat, o autor de Polygamous Families in Contemporary Society (Famílias Poligâmicas na Sociedade Contemporânea) a Igreja Católica desaprovou a prática, mas ocasionalmente sancionou segundos casamentos para líderes políticos.[10]

Santo Agostinho não parece ter observado nisso qualquer imoralidade ou pecado intrínseco, e declarou que a poligamia não era um crime onde fosse a instituição legal de um país. [11]  Ele escreveu em The Good of Marriage (O Bem do Casamento) (capítulo 15, parágrafo 17, que a poligamia  

...era lícita entre os antigos patriarcas: se é lícita agora também, eu não me pronunciarei apressadamente.  Porque agora não existe necessidade de ter filhos, como havia então, quando, mesmo quando as esposas tinham filhos, era permitido, de modo a ter uma posteridade mais numerosa, casar com outras esposas, o que agora certamente não é lícito.”

Ele declinou de julgar os patriarcas, mas não deduziu de sua prática a aceitação em andamento da poligamia.  Em outro trecho, ele escreveu, “Em nossa época, e de acordo com o costume romano, não é mais permitido tomar uma outra esposa, de modo a ter mais de uma esposa viva.”[12]

Durante a Reforma Protestante, Martinho Lutero disse, “Eu confesso que de minha parte se um homem deseja se casar com duas ou mais esposas, eu não posso proibi-lo porque isso não contradiz a Escritura.”  Ele aconselhou Felipe de Hesse a manter seu segundo casamento em segredo para evitar escândalo.[13]  Um dos maiores poetas da língua inglesa e o famoso puritano inglês, John Milton (1608 – 1674), escreveu, ‘Eu não disse ‘o casamento de um homem com uma mulher’ porque por implicação eu acusaria os patriarcas sagrados e pilares de nossa fé, Abraão e outros que tiveram mais de uma esposa, ao mesmo tempo, de pecado; e eu seria forçado a excluir do santuário de Deus como espúrios, toda a descendência deles, sim, toda a descendência dos filhos de Israel, para quem o santuário foi feito.  Porque é dito no Deuteronômio (xxii. 2,) “Um bastardo não deve entrar na congregação de Jeová até a décima geração.”[14]  Em 14 de fevereiro de 1650, o parlamento em Nuremberg decretou que por causa da morte de muitos homens durante a Guerra dos Trinta Anos, todo homem tinha permissão de se casar com até dez mulheres.[15]

As igrejas africanas reconhecem a poligamia há muito tempo.  Elas declararam na Conferência de Lambeth em 1988, “Há muito foi reconhecido na Comunhão Anglicana que a poligamia em partes da África, e casamento tradicional, têm características genuínas de fé e retidão.”[16]  Mwai Kibaki, o presidente cristão do Quênia, cuja vitória foi atribuída ‘à mão do Senhor’ pela Igreja Presbiteriana da África Oriental, é polígamo.[17]  Sem estar mais sob a norma anterior dos brancos cristãos, a África do Sul pós-apartheid também legalizou a poligamia.[18]

No início de sua história, a Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias praticava a poligamia nos Estados Unidos.  Grupos que deixaram a Igreja continuam a prática após a Igreja a ter banido.  A poligamia entre esses grupos persiste hoje em Utah, estados vizinhos, e colônias secundárias, e também entre indivíduos isolados sem filiação organizada à igreja.

Nos Estados Unidos a poligamia é ilegal, mas existe não-oficialmente, com uma estimativa de 30.000 a 80.000 pessoas vivendo como polígamas no Ocidente.  Essas famílias são mórmons fundamentalistas ou grupos cristãos que mantém que a poligamia é uma prática das escrituras e honrada através dos tempos.[19]

Antes que alguém aponte para o Islã e os muçulmanos ao discutir a poligamia, é necessário que tenha conhecimento do assunto e sua história.  Não se deve julgar práticas consideradas aceitáveis ao longo da história através da mente limitada do tempo presente.  Ao contrário, deve-se pesquisar o assunto extensivamente e, o mais importante, buscar orientação divina.



Footnotes:

[1] “Poligamia”, Comitê Executivo do Quadro Editorial e  Julius H. Greenstone. Enciclopédia Judaica. (http://www.jewishencyclopedia.com/view.jsp?artid=425&letter=P).

[2] “Pilegesh”, Emil G. Hirsch, Schulim Ochser e o Comitê Executivo do Quadro Editorial. Enciclopédia Judaica. (http://www.jewishencyclopedia.com/view.jsp?artid=313&letter=P).

[3] “Takkanah.”  Enciclopédia Britânica do Serviço Premium da Enciclopédia Britânica.  (http://www.britannica.com/eb/article-9071020)

Peggy Fletcher Stack, “Globally, Polygamy Is Commonplace,” The Salt Lake Tribune, 20 Setembro de 1998.

4Will Durant, “The Age of Faith: A History of Medieval Civilization -Christian, Islamic, and Judaic - from Constantine to Dante: A.D. 325-1300” (New York: Simon and Schuster, 1950) 380.

5 Christopher Smith, “Polygamy’s Practice Stirs Debate in Israel,” Salt Lake Tribune, 7 de Dezembro de 2001.

6 Peggy Fletcher Stack, “Globally, Polygamy Is Commonplace,” The Salt Lake Tribune, 20 Setembro de . 1998.

7 Polygamy Reconsidered, p. 140.

8 Ibid., p. 17.

9 Matilda Joslyn Gage, “Woman, Church And State,” p. 398.

10 Peggy Fletcher Stack, “Globally, Polygamy Is Commonplace,” The Salt Lake Tribune, 20 Setembro de 1998.

11 Santo Agostinho, lib. ii. cont. Faust, ch. xlvii.

12 Deferrari, vol. 27: “Saint Augustine - Treatises on Marriage and Other Subjects” (1955), pp. 31, 34, 36, 18.

13 Matilda Joslyn Gage, “Woman, Church And State,” p. 398. 398-399.

14 Matilda Joslyn Gage, “Woman, Church And State,” p. 400.

15 O. Jensen, A Genealogical Handbook of German Research (Rev. Ed., 1980) p. 59.

16 Robin Gill, “Churchgoing and Christian Ethics” (Cambridge, England: Cambridge University Press, 1999) 249,

[17] Sam Gonza, “Churches Celebrate Kenya’s New President,” Christianity Today 20 de Fevereiro de 2003.

Marc Lacey, “Polygamy in Kenya an issue after wives of president revealed,” New York Times 19 de Dezembro de 2003.

[18] Aurelia Dyanti, “Two wives better than one for some South Africa men,” The Star , 16 de Julho de 2003.

[19] Cheryl Wetzstein, “Traditionalists Fear Same-Sex Unions Legitimize Polygamy,” The Washington Times 13 de Dezembro de 2000.

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