A História de Abraão (parte 5 de 7): A Doação de Agar e Seu Sofrimento
Descrição: Alguns relatos da jornada de Abraão ao Egito, o nascimento de Ismael e a aventura de Agar em Paran.
- Por IslamReligion.com
- Publicado em 07 Dec 2009
- Última modificação em 07 Dec 2009
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Abraão em Canaã e Egito
Abraão ficou em Canaã por vários anos indo de cidade em cidade pregando e convidando as pessoas para Deus até que a fome fez com que ele e Sara migrassem para o Egito. No Egito estava um faraó despótico que tinha um desejo passional de tomar posse de mulheres casadas.[1] Esse relato islâmico é surpreendentemente diferente das tradições judaico-cristãs, que dizem que Abraão alegou que Sara[2] era sua irmã para se salvar do Faraó[3]. O Faraó levou Sara para seu harém e honrou Abraão por isso, mas quando sua casa foi atingida por várias pragas ele soube que Sara era esposa de Abraão e o castigou por ele não ter lhe dito isso, banindo-o do Egito. [4]
Abraão sabia que Sara atrairia sua atenção, então disse a ela que se o Faraó perguntasse, ela dissesse que era irmã de Abraão. Quando entraram em seu reino, como esperado, o Faraó perguntou sobre seu relacionamento com Sara e Abraão respondeu que ela era sua irmã. Embora a resposta tenha aliviado um pouco de sua paixão, ainda assim ele a fez cativa. Mas a proteção do Todo-Poderoso a salvou de sua trama.Quando o Faraó convocou Sara para agir de acordo com suas paixões doentias, Sara se voltou para Deus em oração. No momento em que o Faraó se aproximou de Sara, a parte superior de seu corpo se enrijeceu. Ele chorou para Sara em desespero, prometendo libertá-la se ela orasse por sua cura! Ela orou pela cura dele. Mas apenas depois de uma terceira tentativa fracassada ele finalmente desistiu. Ao perceber suas naturezas especiais, ele a deixou partir e a retornou a seu suposto irmão.
Sara retornou enquanto Abraão ainda orava, acompanhada de presentes do Faraó, uma vez que ele tinha se dado conta de suas naturezas especiais, junto com sua própria filha Agar, de acordo com as tradições judaico-cristãs, como criada[5]. Ela havia transmitido uma mensagem poderosa para o Faraó e os egípcios pagãos.
Depois de retornarem para a Palestina, Sara e Abraão continuaram sem filhos, apesar das promessas divinas de que ele teria um filho. O costume da esposa estéril presentear o marido com uma criada para gerar descendência parece ser uma prática comum daquela época[6], e Sara sugeriu a Abraão que ele tomasse Agar como sua concubina. Alguns estudiosos cristãos dizem que de fato ele a tomou como esposa[7]. Qualquer que seja o caso, na tradição judaica e babilônica qualquer descendência nascida de uma concubina seria reivindicada pelo ex-ama da concubina e seria tratada exatamente como uma criança nascida dela[8], inclusive em questões de herança. Enquanto estava na Palestina, Agar deu a ele um filho, Ismael.
Abraão em Meca
Quando Ismael estava sendo amamentado Deus escolheu testar a fé de seu amado Abraão e ordenou-o levar Agar e Ismael para um vale deserto de Beca a 1.300 km ao sul de Hebron. Tempos mais tarde se chamaria Meca. De fato era um grande teste, porque ele e sua família tinham esperado por muito tempo por uma descendência e quando seus olhos estavam cheios de alegria por causa de um herdeiro, veio a ordem para levá-lo para uma terra distante, conhecida por sua aridez e dificuldade.
Embora o Alcorão afirme que esse era outro teste para Abraão enquanto Ismael ainda era um bebê, a Bíblia e as tradições judaico-cristãs afirmam que foi o resultado da ira de Sara, que pediu a Abraão para banir Agar e o filho dela quando viu Ismael “debochando” [9] de Isaque[10] depois de ser desmamado. Uma vez que a idade típica para o desmame, pelo menos na tradição judaica, era de 3 anos[11], isso sugere que Ismael estava com aproximadamente 17 anos[12] quando esse evento ocorreu. Parece logicamente impossível que Agar fosse capaz de carregar um rapaz em seus ombros e levá-lo por centenas de quilômetros até que ela alcançasse Paran, só então colocando-o no chão, como diz a Bíblia, sob um arbusto[13]. Nesses versos Ismael é tratado por uma palavra diferente da usada descrevendo seu banimento. Essa palavra indica que era um menino muito novo, possivelmente um bebê, ao invés de um rapaz.
Então Abraão, após ter ficado um tempo com Agar e Ismael, deixou-os lá com um cantil de água e uma bolsa de couro cheia de tâmaras. Quando Abraão começou a caminhar deixando-os para trás, Agar ficou ansiosa com o que aconteceria. Abraão não olhou para trás. Agar o seguiu: “Ó Abraão, onde estás indo, deixando-nos nesse vale onde não existe nenhuma pessoa cuja companhia possamos desfrutar, nem qualquer outra coisa?”
Abraão apressou o passo. Finalmente Agar perguntou: “Foi Deus Que pediu que o fizesse?”
Repentinamente Abraão parou, se voltou e disse: “Sim!”
Sentindo um pouco de conforto nessa resposta, Agar perguntou: “Ó Abraão, com quem está nos deixando?”
“Eu os deixo aos cuidados de Deus”, respondeu Abraão.
Agar se submeteu a seu Senhor: “Estou satisfeita em estar com Deus!”[14]
Enquanto voltava para o pequeno Ismael, Abraão prosseguiu até que alcançou uma passagem estreita na montanha onde eles não podiam vê-lo. Ele parou lá e invocou Deus em oração:
“Ó Senhor nosso, estabeleci parte da minha descendência em um vale inculto perto da Tua Sagrada Casa para que, ó Senhor nosso, observem a oração; faze com que os corações de alguns humanos os apreciem, e agracia-os com os frutos, a fim de que Te agradeçam.”(Alcorão 14:37)
Logo a água e as tâmaras acabaram e o desespero de Agar aumentou. Incapaz de saciar sua sede ou amamentar seu pequeno bebê, Agar começou a procurar por água. Deixou Ismael sob uma árvore e começou a escalar o declive rochoso de uma colina próxima. “Talvez exista uma caravana de passagem”, pensou consigo mesma. Ela correu entre as duas colinas de Safa e Marwa sete vezes procurando sinais de água ou ajuda, personificado depois por todos os muçulmanos no Hajj. Exausta e perturbada, ela ouviu uma voz, mas não pode localizar sua origem. Então, olhando para o vale ela viu um anjo, que é identificado como Gabriel nas fontes islâmicas[15], de pé ao lado de Ismael. O anjo cavou o chão com seu calcanhar próximo ao bebê e a água jorrou. Foi um milagre! Agar tentou fazer um reservatório ao seu redor para mantê-lo fluindo e encheu seu cantil.[16] “Não tema ser negligenciada”, disse o anjo, “porque esta é a Casa de Deus que será construída por esse menino e seu pai, e Deus nunca negligencia seu povo.”[17] Esse poço, chamado Zamzam, continua a jorrar até hoje na cidade de Meca na Península Arábica.
Não muito tempo depois a tribo de Jurham, deslocando-se do sul da Arábia, parou no vale de Meca depois de ver um sinal incomum de um pássaro voando em sua direção, que só podia significar a presença de água. Finalmente se estabeleceram em Meca e Ismael cresceu entre eles.
Um relato semelhante desse poço é dado na Bíblia em Gênesis 21. Nesse relato, a razão para se afastar do bebê era evitar vê-lo morrendo ao invés de buscar ajuda. Então, após o bebê começar a chorar de sede, ela pediu a Deus para não permitir que ela o visse morrer. É dito que o surgimento do poço foi uma resposta ao choro de Ismael, e não à súplica dela, e não é relatado nenhum esforço de Agar para encontrar ajuda. A Bíblia também diz que o poço era no deserto de Paran, onde moraram depois disso. Os estudiosos judaico-cristãos com frequência mencionam Paran como em algum lugar ao norte da Península do Sinai, devido à menção ao Monte Sinai em Deuteronômio 33:2. Arqueólogos bíblicos modernos, entretanto, dizem que o Monte Sinai é de fato na atual Arábia Saudita, o que requer que Paran seja lá também.[18]
Footnotes:
[1] Fath al-Bari.
[2] Embora Sara fosse sua meia-irmã de acordo com Gênesis 20:12, fazendo com que seu casamento fosse incestuoso, fontes islâmicas como al-Bukhari, afirmam que essa foi uma das três vezes nas quais Abraão fez uma declaração enganosa, já que Sara era sua irmã na fé e na humanidade, para evitar um mal maior.
[3] Além das tradições, uma história menos detalhada também é mencionada na Bíblia, Gênesis.12.11-20.
[4] Sarah (Sara). Emil G. Hirsch, Wilhelm Bacher, Jacob Zallel Lauterbach, Joseph Jacobs e Mary W. Montgomery. (http://www.jewishencyclopedia.com/view.jsp?artid=245&letter=S). Abraham (Abraão). Charles J. Mendelsohn, Kaufmann Kohler, Richard Gottheil, Crawford Howell Toy. The Jewish Encyclopedia (Enciclopédia Judaica). Ver também Gênesis: 12:14-20.
[5] Sarah (Sara). Emil G. Hirsch, Wilhelm Bacher, Jacob Zallel Lauterbach, Joseph Jacobs e Mary W. Montgomery. (http://www.jewishencyclopedia.com/view.jsp?artid=245&letter=S). Abraham (Abraão). Charles J. Mendelsohn, Kaufmann Kohler, Richard Gottheil, Crawford Howell Toy. The Jewish Encyclopedia (Enciclopédia Judaica).
[6] Pilegesh. Emil G. Hirsch and Schulim Ochser. The Jewish Encyclopedia (Enciclopédia Judaica). (http://www.jewishencyclopedia.com/view.jsp?artid=313&letter=P&search=pilegesh).
[7] (http://whosoeverwill.ca/womenscripturehagar.htm, http://www.1timothy4-13.com/files/proverbs/art15.html).
[8] (http://www.studylight.org/com/acc/view.cgi?book=ge&chapter=016).
[9] Gênesis 21:9.
[10] Ishmae (Ismael)l. Isidore Singer, M. Seligsohn, Richard Gottheil e Hartwig Hirschfeld. The Jewish Encyclopedia (Enciclopédia Judaica). (http://www.jewishencyclopedia.com/view.jsp?artid=277&letter=I).
[11] 2Mac 7:27, 2 Crônicas 31:16.
[12] Abraão estava com 86 anos no nascimento de Ismael (Gênesis:16:16), e 100 anos no nascimento de Isaque (Gênesis 21:5).
[13] Gênesis 21:15.
[14] Saheeh Al-Bukhari.
[15] Musnad Ahmad
[16] Relato semelhante é mencionado na Bíblia, embora seus detalhes sejam bem diferentes. Ver Gênesis 21:16-19
[17] Saheeh Al-Bukhari
[18]Is Mount SINAI in the SINAI? (O Monte SINAI Fica no SINAI? Em tradução livre) B.A.S.E. Institute. (http://www.baseinstitute.org/Sinai_1.html).
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