Reflexões filosóficas (parte 1 de 5)
Descrição: Essa série de artigos fornece uma estrutura conceitual para responder às “grandes questões” relacionadas a nossa existência. Parte 1 discute a necessidade de buscar pela verdade.
- Por Hamza Andreas Tzortzis
- Publicado em 27 Jun 2016
- Última modificação em 27 Jun 2016
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Essas reflexões filosóficas são meus pensamentos sobre verdade, sucesso, propósito, morte, pensamento e visão de mundo. Foram escritos com a intenção de expressar meu pensamento inicial, que levou às minhas conclusões atuais sobre a vida. Terminei deliberadamente em perguntas, ao invés de respostas, porque queria fornecer uma estrutura conceitual para os leitores que podem não compartilhar de minha visão de mundo e buscar as respostas por si próprios. Foram incluídos versículos relevantes do Alcorão como dispositivos literários introdutórios, para evocar o pensamento e estabelecer um cenário mental. Essa abordagem é um tema principal no Alcorão, já que frequentemente menciona: "Não refletem?"
Há um provérbio africano que afirma: "Aquele que pergunta não pode evitar as respostas" e espero que essas reflexões evocarão o pensamento e facilitarão a orientação para todos que a buscam.
Verdade
"(Esta é a) Verdade emanada de teu Senhor.
Não sejas dos que dela duvidam!" (Alcorão 2: 147)
"E não disfarceis a verdade com a falsidade, nem a
oculteis, sabendo-a." (Alcorão 2: 42)
A questão da verdade tem deixado a mente de quase todo ser humano que viveu nesse planeta perplexa. O que é verdade? Como conhecemos a verdade? Existe a verdade? Esse tipo de pensamento remonta ao filósofo grego Sócrates, quando um rapaz perguntava e buscava incansavelmente a verdade. Entretanto, em nossos dias atuais não pensamos realmente sobre conceitos como a verdade. Podemos argumentar "diga-me a verdade!" se suspeitamos de traição de nossos amigos ou "juramos dizer a verdade" em um tribunal, mas quando se trata de nossa existência e ao questionamento do que significa ser um ser humano, esquecemos sobre a verdade e adotamos o ceticismo como filosofia.
O ceticismo responde na negativa a pergunta a seguir: podemos saber alguma coisa? Isso essencialmente implica a crença de que a verdade sobre a vida e o universo nunca serão conhecidos. Fundado por Pirro de Elis, o ceticismo foi defendido e registrado pelo filósofo grego Sexto Empírico, que foi o primeiro a detalhar e codificar a doutrina. Essa escola de filosofia é comum na sociedade de hoje. Entretanto, sua abordagem em relação à verdade é despropositada porque podemos descobri-la, e a única maneira de fazê-lo é por meio do questionamento interminável e insistente. Sócrates foi muito bom no questionamento e ao fazê-lo fazia seus oponentes perceber a verdade. Isso porque ele acreditava que a verdade já estava dentro de nós. Por exemplo, existem muitos princípios universais que não podemos negar e negá-los seria negar o conhecimento em si. Considere, por exemplo, duas tábuas de madeira iguais em comprimento: sabemos que são iguais porque têm o mesmo comprimento ou sabemos o que é o conceito de igualdade antes de nossa experiência? É porque temos o conceito de igualdade inato e integrado que temos a capacidade de ver que as tábuas de madeira são do mesmo comprimento. Também sabemos que a metade de algo é menos que o todo e conhecemos a verdade de que todos os pais são homens. Essas ideias e conceitos inatos são conhecidos em epistemologia como a priori, o que significa conhecimento independente de experiência.
A partir de uma perspectiva prática a posição do cético é insustentável, porque conhecemos a verdade das leis da física que permitem que pontes sustentem cargas pesadas, incluindo as leis que permitem que barcos flutuem. Se uma posição cética fosse assumida ao construirmos nossas casas, concordaríamos em implementar o projeto do arquiteto? O filósofo polonês Leszek Kolakowski escreve:
"Podemos dizer: bem, como não sabemos nada, qual a finalidade de construir teorias que não têm base? Mas se filósofos e sábios tivessem tentado seriamente alcançar essa serenidade de autossatisfação, teriam sido capazes de construir nossa civilização? A física moderna teria sido inventada?"
Assim, existem algumas verdades universais que nos sentimos seguros em aceitar e a maneira de encontrar outras verdades é usar essas verdades universais como ponto de partida, o que é chamado de fundacionismo epistêmico, na linguagem de filosofia.
A importância da verdade foi enfatizada por muitos pensadores do passado e do presente. Platão, o filósofo da antiguidade, disse: "E não é ruim ser iludido sobre a verdade e bom saber o que é a verdade? Porque suponho que por saber a verdade você quer dizer conhecer as coisas como elas realmente são." Então, por que é importante a busca pela verdade? A significância da verdade não é somente intuitiva; é algo que nos dá um senso de realidade, de que as coisas são reais. Na ausência de verdade, a vida pode parecer irreal e ilusória em certo sentido. Adicionalmente, muitos psicólogos reconheceram que os seres humanos querem estar certos e buscam aprender de normas sociais quando não estão certos sobre coisas. Esse processo psicológico é conhecido como "Influência social normativa e informacional". Nessa visão a busca pela verdade é muito importante, pois tem a possibilidade de moldar quem somos ou a pessoa que queremos ser.
Outra maneira de ver é que não buscar pela verdade equivale a mentir para nós mesmos ou até aceitar uma mentira, porque qualquer outra coisa além da verdade será aceitar o seu oposto. Assim, a busca pela verdade seria um meio de tentarmos ser mais sinceros com nossa própria existência, pois estaríamos buscando estabelecer a verdade de quem somos e a vida que estamos vivendo. Finalmente, apegar-se à opinião cética de que não existe verdade é contraproducente, porque a alegação de que não há verdade é de fato uma afirmação de verdade. Então, como pode alguém afirmar que o ceticismo é verdadeiro, mas tudo o mais não é? Essa é a inconsistência da posição cética; um cético afirma a verdade do ceticismo, mas nega todas as outras verdades! Consequentemente, não importa qual posição sustentemos, ainda temos que aceitar a verdade e, em vista disso, que a busca pela verdade comece!
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