Sonhos (parte 1 de 2) Estou sonhando?

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Descrição: O que o Islã diz sobre os sonhos.

  • Por Aisha Stacey (© 2016 IslamReligion.com)
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Dreams1.jpgO dicionário online Merriam Webster define um sonho como uma série de pensamentos, imagens ou emoções que ocorrem durante o sono.  Sonhar e meditar sobre os significados e interpretações dos sonhos enriquece nossas vidas.  Os sonhos nos colocam em contato com nossas emoções mais profundas; eles nos encantam e assustam e contêm nossos desejos e temores mais secretos.  Isso não é um modismo passageiro ou uma tendência da nova era.  Os sonhos têm estado com a humanidade por gerações incontáveis e sem dúvida continuarão conosco até o fim dos dias.

Geralmente eles retratam eventos impossíveis ou improváveis na realidade física e estão fora do controle de quem sonha.  Muitas pessoas relatam fortes emoções enquanto sonham e sonhos aterrorizantes ou perturbadores são chamados de pesadelos.

A história dos sonhos e suas interpretações nos leva para o Egito antigo e é dito que o primeiro registro escrito de interpretação de sonhos data de 1350 AEC.  Originalmente no Egito se pensava que os sonhos eram parte do mundo sobrenatural.  Pensavam que eram mensagens enviadas durante a noite talvez com um dispositivo de alerta inicial para um desastre ou boa sorte.  Para os muçulmanos isso não surpreende.  O capítulo 12 do Alcorão, intitulado "José", começa com um sonho e termina com a interpretação do sonho.  Na época do profeta José, sonhos e suas interpretações eram muito importantes e isso fica claro ao longo da história de José.  O profeta José é capaz de interpretar sonhos e o profeta Jacó (pai de José), os companheiros de prisão e o rei do Egito, todos têm sonhos.

Sabemos que no Egito antigo os sonhos eram interpretados predominantemente pelo sacerdote e nas eras grega e romana os sonhos eram pensados em um contexto religioso. Só a partir do período helênico de Aristóteles os sonhos foram considerados como tendo a habilidade de curar.  Os intérpretes de sonhos ajudavam os médicos a fazerem seus diagnósticos.  Havia muitas superstições e crenças associadas com os sonhos.  

Para alguns chineses o sonho é um lugar real que a alma visita toda noite e, por essa razão, muitas pessoas temem despertadores por medo que a alma seja acordada e não seja capaz de retornar ao seu corpo.  Algumas tribos nativas americanas e civilizações mexicanas compartilham o mesmo entendimento de uma dimensão do sonho.

Durante a Idade Média nas sociedades judaico-cristãs os sonhos eram considerados tentações maléficas, vindas de Satanás.   No século 19 os sonhos foram ignorados como sintomas de ansiedade, ou seja, até Sigmund Freud reintroduzir a noção de que os sonhos tinham importância.   Entretanto, no mundo muçulmano os sonhos eram considerados de maneira um pouco diferente.  Na poesia árabe pré-islâmica existem descrições frequentes de visões xamânicas em sonhos, de coisas como morte ritual e renascimento.  O papel do xamã (uma pessoa que alega ter acesso e influência no mundo sobrenatural) incluía o de intérprete de sonhos e poeta e não é de admirar que o profeta Muhammad repetisse com frequência não ser um poeta.  O advento do Islã eliminou muitas concepções errôneas e práticas incorretas que existiam na sociedade árabe incluindo a atitude predominante em relação aos sonhos e suas interpretações.

O Islã diz que os sonhos podem ter significado, mas os sábios alertaram que nem todos os sonhos devem ser considerados como tal.  O renomado sábio muçulmano Ibn Sirin, um especialista na interpretação de sonhos menciona, em seu livro clássico sobre o assunto, que a interpretação de sonhos é uma ciência difícil que os sábios tratam com o máximo cuidado.  O profeta Muhammad nos ensinou sobre sonhos, também com o máximo cuidado, e menciona seus sonhos e sonhos em geral com frequência.

"De fato, a pior das mentiras é a pessoa que alega falsamente ter sonhado."[1]

"Sonhos verdadeiros vêm de Allah e os maus sonhos vêm de Shaitan (Satanás)." [2]

"Aqueles com os sonhos mais verdadeiros serão os mais verdadeiros no falar." [3]

"Se algum de vocês tiver um sonho agradável, ele é de Allah.  Deve agradecer a Allah por ele e narrá-lo a outros."[4]

Do profeta Muhammad aprendemos que os sonhos são de três tipos, conhecidos em árabe como Rahmani (de Deus), Nafsani (do ego) e Shaitani (de Satanás).  Ele disse: "Sonhos são de três tipos: um sonho de Deus; um sonho que causa angústia e vem de Satanás; e um sonho que vem do que a pessoa pensa quando está acordada e vê quando está dormindo."[5]O profeta Muhammad continua a nos ensinar sobre a importância de sonhos de maneira muito pragmática. 

"Se algum de vocês tiver um sonho desagradável, cuspa para a esquerda três vezes[6], e busque refúgio em Deus contra Satanás três vezes e troque o lado sobre o qual estava dormindo."[7]

A importância de um sonho é, em geral, diretamente proporcional à impressão que ele causa em quem sonhou.  A maioria dos sonhos acontece sob circunstâncias normais e não tem valor real ou necessidade de interpretação.  Derivam de nossas experiências e atividades mundanas, o que uma pessoa falou, um livro lido ou um programa de TV assistido.  Outros sonhos são fantasias ou ilusões, divertidos e inofensivos.  E existem aqueles sonhos proféticos, sonhos que parecem predizer o futuro.  Esses sonhos não podem ser compreendidos imediatamente, a menos que a pessoa tenha habilidade ou conhecimento necessários. 

Na parte 2 examinaremos a ciência da interpretação de sonhos.



Notas de rodapé:

[1] Saheeh Bukhari

[2]Ibid.

[3] Saheeh Muslim

[4] Saheeh Bukhari

[5]Saheeh Bukhari & Muslim

[6] A "cuspida" referida aqui é uma cuspida leve, seca, sem saliva

[7] Saheeh Muslim

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Sonhos (parte 2 de 2): Interpretação de sonhos

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Descrição: A obscuridade da interpretação de sonhos na religião do Islã.

  • Por Aisha Stacey (© 2016 IslamReligion.com)
  • Publicado em 09 May 2016
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Dreams2.jpgEm seu livro sobre interpretação de sonhos Ibn Qutaybah diz: "Nas ciências diversas com as quais as pessoas lidam não há nada mais obscuro, delicado, exaltado, nobre, difícil e problemático do que os sonhos, porque eles são um tipo de revelação e um tipo de missão profética."

Essas são palavras sábias e refletem a posição de muitos sábios muçulmanos, de que os sonhos devem ser interpretados por alguém qualificado.  Existem vários problemas e obstáculos inerentes na prática de interpretar sonhos.   Por exemplo, um sonho pode ser visto por uma pessoa, mas pode ser para outra. 

Dentre os companheiros do profeta Muhammad alguém viu um sonho para Abu Jahl[1] de que ele se tornava muçulmano e prometia aliança ao profeta.  Isso nunca aconteceu porque o sonho era para o filho dele, Ikrimah, que mais tarde se converteu ao Islã e prometeu aliança ao profeta.  Em outro exemplo, um sonho foi visto sobre Usayd ibn Abil Aas se tornando governador de Meca e isso não aconteceu. Entretanto, seu filho ‘Attab de fato tornou-se governador de Meca. 

Símbolos também podem ser um obstáculo à interpretação correta de sonhos.  Símbolos em sonhos podem significar coisas diferentes para pessoas diferentes.  Por exemplo, um sonho sobre um gato pode evocar memórias felizes de infância ou simbolizar medo e dor para uma pessoa que foi atacada e arranhada por um gato selvagem. 

É suficiente reconhecer um sonho por ser bom, mau ou sem consequência. 

a)    Os sonhos às vezes são descritos como verdadeiros, bons ou de Deus.  O significado de verdadeiro é que eles se concretizarão.  O significado de bom é que trazem boas novas ou chamam a atenção para alguns erros dos quais a pessoa não está ciente.  O significado de ser de Deus é que acontecem pela Sua graça e misericórdia ou como um aviso, como boas novas ou orientação Dele.  O profeta Muhammad, que a misericórdia e bênçãos de Deus estejam sobre ele, disse: "Se algum de vocês tiver um sonho agradável, ele é de Allah.  Deve agradecer a Allah por ele e narrá-lo a outros."[2]

b)   Sonhos maus são os que causam angústia ou sofrimento a quem sonhou.  Esses sonhos vêm de Satanás.  O significado de causar sofrimento é que eles causam tristeza e sofrimento.  O significado de ser de Satanás é que são instilados por ele em um esforço para causar temor ou mexer com os sentimentos de quem está dormindo.

"Sabei que a confabulação emana de Satã, para atribular os crentes.  Porém, ele em nada poderá prejudicá-los sem o beneplácito de Deus." (Alcorão 58:10)

Satanás está ansioso para abraçar qualquer coisa que cause sofrimento, independente de se a pessoa está acordada ou dormindo, e Satanás é um inimigo para os humanos. 

"Posto que Satanás é vosso inimigo, tratai-o, pois como inimigo." (Alcorão 35:6)

Assim, se alguém tiver um sonho ruim, às vezes chamado de pesadelo, que cause temor, angústia ou desconforto, deve fazer o seguinte:

Primeiro, reconhecer que esse sonho vem de Satanás que só quer causar sofrimento e, portanto, não dar atenção ao sonho.  Segundo, buscar refúgio em Deus contra Satanás, o amaldiçoado, e contra o mal do sonho e cuspir de forma seca para a esquerda três vezes.  Uma pessoa não deve divulgar os detalhes de um sonho ruim, a menos em um esforço sincero de obter conselho de uma pessoa qualificada.  Em quase todos os casos sonhos angustiantes devem ser ignorados.   Trocar de lado na cama ou se levantar para orar unidades de oração também são formas eficazes de acabar com o sentimento de impotência às vezes associado com pesadelos.

c)    Existem sonhos que não entram em nenhuma das duas categorias acima.  Esses sonhos são chamados "sonhos confusos" e derivam do que a pessoa está pensando e de eventos e temores armazenados na memória e no subconsciente, repetidos durante o sono.  Não há interpretação para esses sonhos.

Uma regra clara sobre sonhos é que mentir sobre um sonho é um assunto muito sério.  O profeta Muhammad nos alertou que "A pior mentira é uma pessoa alegar ter tido um sonho que não teve."[3] Talvez a pessoa esteja tão ansiosa para ter um sonho bom que se sente compelida a inventar um.  Não é uma prática aceitável porque a honestidade é muito valorizada no Islã.  "Aqueles com os sonhos mais verdadeiros serão os mais verdadeiros no falar." [4]

Os sonhos dos profetas são revelações e os sonhos das outras pessoas devem ser analisados à luz da revelação (Alcorão e tradições autênticas do profeta Muhammad).  Mas e sonhos sobre os profetas, particularmente o profeta Muhammad?  Se o profeta Muhammad aparecer em um sonho e se parecer como descrito nas tradições autênticas, podemos estar certos de que é um sonho verdadeiro e de boas novas.  O Profeta Muhammad disse: "Quem me vir (em um sonho) de fato viu a verdade, porque Satanás não pode assumir minha forma."[5]

O que o Islã diz sobre ver Deus em um sonho? Alguns estudiosos, inclusive o sheikh Ibn Taymiyah, afirmam que é possível ver Deus em sonhos, mas enfatizam que o que a pessoa vê não é a verdadeira aparência de Deus.  Não há nada comparável a Deus e, portanto, nossas mentes não são capazes de formar uma imagem real.          

"Nada é igual a Ele, e Ele é Ouniouvinte, Onividente."  (Alcorão 42:11)

Os sonhos têm alguma importância no estilo de vida do Islã, mas devemos ser cuidadosos para não nos apoiarmos demais neles ou acreditar que estão cheios de mensagens e símbolos ocultos.  A grande maioria dos sonhos são produto de mente ativa e saudável e não são proféticos.  Também é incorreto supor que a oração de orientação (Istikarah) deve ser respondida com um sonho.   Em conclusão, podemos resumir a interpretação de sonhos com as palavras de Ibn Sireen, o mais conhecido dos intérpretes muçulmanos de sonhos.  Em um dia ao ser perguntado sobre 100 ou mais sonhos diferentes, ele deu como resposta a todas as perguntas: "Tema a Deus e faça o bem enquanto estiver acordado e o que vir em seu sono não o prejudicará".



Notas de rodapé:

[1] Um inimigo ferrenho do Islã

[2] Saheeh Al-Bukhari

[3]Saheeh Al-Bukhari

[4]Saheeh Muslim

[5]Saheeh Al-Bukhari

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