A Virtude da Veracidade (parte 2 de 2): Mentira e Hipocrisia
Descrição: Falsidade, o oposto de veracidade e o alerta contra falta de sinceridade, mentira, engodo e hipocrisia.
- Por AbdurRahman Mahdi (© 2010 IslamReligion.com)
- Publicado em 22 Mar 2010
- Última modificação em 22 Jun 2010
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Assim como a veracidade é o pilar do caráter da pessoa digna e o trampolim para sua virtuosidade, a falsidade, seu oposto, é a fundação da depravação de uma pessoa e a plataforma de lançamento para sua perversidade. Assim como a veracidade de uma pessoa começa a partir de seu interior – ou seja, é um reflexo de um estado de fé verdadeira – a desonestidade de uma pessoa, a mentira e o engodo também são reflexos de seu estado interior. É por isso que Deus menciona a veracidade como sendo o oposto da hipocrisia:
“Deus recompensa os verazes, por sua veracidade, e castiga os hipócritas como Lhe apraz; ou então os absolve, porque Deus é Indulgente, Misericordiosíssimo.” (Alcorão 33:24)
... e por que Ele menciona a sinceridade como uma marca de veracidade.
“De modo que Deus possa recompensar os verazes por sua veracidade...”
Não é de se admirar que as mais virtuosas e verazes das pessoas, os profetas de Deus[1] e seus verdadeiros seguidores, não foram desmentidos, denunciados, antagonizados, oprimidos e rejeitados exceto por aqueles dados a desonestidade, engodo e hipocrisia.
“Os que forjam mentiras são aqueles que não crêem nos versículos de Deus. Tais são os mentirosos.”(Alcorão 16:105)
Isso é com relação à falsidade na fé. Quanto à falsidade nos atos, Deus afirma no Alcorão:
“… para testar quem de vós melhor se comporta.” (Alcorão 67:2)
Um sábio do período inicial do Islã, Fudail bin Iyaad, comentou sobre esse versículo, explicando:
“quem de vós melhor se comporta” significa “o mais sincero e correto.” Se o ato é sincero e não é correto, não será aceito e se é correto, mas não é sincero, não será aceito. Não será aceito até que seja ao mesmo tempo sincero e correto!”
Um exemplo cotidiano de como a sinceridade e correção de ações são com frequência subvertidas pela falsidade, é na compra e venda de bens. Por isso o Profeta disse:
“Se eles (as partes entrando em uma transação) são verazes e explicam (qualquer deficiência em seus produtos), sua transação será abençoada. Mas se mentirem e ocultarem (qualquer deficiência em seus produtos), as bênçãos de sua transação será erradicada.”[2]
E o que é falsidade no falar? Falsidade da língua, ou o que é mais comumente referido como mentira, é uma característica rejeitada pelo mundo inteiro – mesmo que seus habitantes caiam nela de tempos em tempos. Afinal, se Deus puniria seu último e maior profeta caso ele mentisse...
“E se (o Mensageiro) tivesse inventado alguns ditos, em Nosso nome certamente o teríamos apanhado pela destra; E então, Ter-lhe-íamos cortado a aorta, e nenhum de vós teria podido impedir-Nos.” (Alcorão 69:44-7)
... então como mentir poderia ser aceitável de mais alguém?! E ele, o Profeta Muhammad, o veraz, disse:
“A fé de um servo não será digna até que seu coração seja digno e seu coração não será digno até que sua língua seja digna, e um homem cujo vizinho não está a salvo de seu dano não entrará no Paraíso.”[3]
O Profeta disse: “Uma pessoa mente e mente, até que seja registrada com Deus como um mentiroso habitual.” (Saheeh Al-Bukhari)
Sendo assim, o mentiroso habitual é desprezado, verdadeira e completamente desprezado, por todos – até mesmo por seu próprio grupo – já que ninguém pode confiar em um mentiroso, nem mesmo outros mentirosos. E assim como clareza no falar é um sinal de veracidade, a ambiguidade, a insinuação, o sarcasmo e outras formas de engodo e malandragem na forma de falar são denunciadas no Islã. Até mentir por brincadeira foi condenado pelo Profeta quando ele disse:
“Garanto uma morada no meio do Paraíso para aqueles que abandonam a mentira até mesmo por brincadeira.”[4]
...e seu dito:
“Ai da pessoa que mente para fazerem as outras rirem! Ai dele, ai dele!”[5]
O amigo mais próximo do Profeta e sucessor temporal imediato, Abu Bakr as-Şiddeeq (ou seja, o veraz – chamado assim pelo Profeta devido à veracidade de sua fé), posteriormente disse:
“Cuidado com a mentira, porque ela se opõe à verdadeira fé.”[6]
E a filha de Abu Bakr, Aicha, que foi a esposa amada do Profeta, mencionou que:
“Não existe característica mais repugnante ao Mensageiro de Deus, que a misericórdia e bênçãos de Deus estejam sobre ele, do que a mentira.”[7]
É impedimento suficiente para a mentira o fato de ser listada como uma característica da mais miserável das condições: a hipocrisia. O Profeta Muhammad disse:
“Os sinais do hipócrita são três: quando ele fala, mente; quando faz uma promessa, não a cumpre; e quando algo lhe é confiado ele trai essa confiança.”[8]
Não aprendemos somente sobre a repugnância de mentir diretamente, mas o Islã também nos educa de forma misericordiosa sobre os perigos de tudo que indiretamente leva a mentira.
Novamente de Aicha aprendemos que o Profeta invocava seu Senhor suplicando: “Ó Deus! Busco refúgio em Ti de todos os pecados e das dívidas.” Quando perguntado: “Ó Mensageiro de Deus! Frequentemente buscas refúgio das dívidas com Deus!” O Profeta de Deus, que a misericórdia e bênçãos de Deus estejam sobre ele, respondeu: “Se uma pessoa tem dívidas, ela mente quando fala e quebra suas promessas quando as faz.”[9]
Na mesma linha, o Profeta explicitamente ordenou a seus seguidores:
“Deixe aquilo que lhes causa dúvidas por aquilo que não lhes causa dúvidas, porque na veracidade reside a tranquilidade e na mentira reside a dúvida.”[10]
Empenhar-se pela veracidade, em espírito, palavra e atos, é uma questão que requer a perseverança suprema do crente, assim como a vigilância suprema contra os perigos da falsidade, falta de sinceridade, engodo e hipocrisia.
“Deus recompensa os verazes, por sua veracidade, e castiga os hipócritas como Lhe apraz; ou então os absolve, porque Deus é Indulgente, Misericordiosíssimo.” (Alcorão 33:24)
Footnotes:
[1] O Companheiro Anas b. Malik relatou que o Profeta até mencionou como: “Um profeta nem mesmo pisca!” (Abu Dawud, Nisaa'ee, Hakim, Ahmad)
[2] Relatado por Hakim b. Hizam, em Saheeh Al-Bukharie Saheeh Muslim.
[3] Relatado pelo Companheiro, Anas b. Malik em As-Saheehah.
[4] Relatado por Abu Umamah, em At-Tirmidhi.
[5] Relatado por Mu‘awiyah b. Jaydah al-Qushayri em Abu Dawud.
[6] Bayhaqi, Shu‘ab al-Iman.
[7] Ahmad.
[8] Relatado pelo Companheiro, Abu Hurayrah, em Saheeh Al-Bukhari e Saheeh Muslim.
[9] Saheeh Al-Bukhari.
[10] Relatado por Al-Hasan b. Ali, em At-Tirmidhi.
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