A Verdadeira Riqueza (parte 2 de 2)
Descrição: Como se pode viver uma vida feliz nesse mundo.
- Por Yasir al-Qadhi
- Publicado em 07 Jan 2013
- Última modificação em 07 Jan 2013
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Independente de quanto dinheiro uma pessoa ganha, na realidade ela usa apenas uma fração muito pequena. Reflita sobre o sábio lembrete do profeta, que a misericórdia e bênçãos de Deus estejam sobre ele. Abdullah ibn al-Shakhir relatou:
"Fui até o profeta e ele estava recitando ‘Alhakum al-takathur’:
“A cobiça vos entreterá...” (Alcorão 102:1)
Ele disse:
"O filho de Adão diria: Meu dinheiro! Meu dinheiro! Mas você tem, ó filho de Adão, alguma coisa do seu dinheiro, exceto o que comeu e foi desperdiçado ou o que vestiu até que se desgastasse ou o que deu em caridade, para obter recompensas na outra vida?" (Saheeh Muslim)
Nesse hadith o profeta nos lembra de que, na realidade, todo o nosso dinheiro é utilizado apenas de três maneiras. Primeiro, no alimento que consumimos e que no fim é transformado em excrementos. Segundo, as roupas que usamos e no fim se desgastam a ponto de ficarem inutilizadas. Terceiro, o dinheiro que é dado em nome de Deus e essa é a única parte cujo benefício permanece e volta para nós. Então, qual o benefício para uma pessoa regozijar-se e glorificar-se por causa de "seu dinheiro", ficando ávido por ele quando, na realidade, tão pouco dele é de fato gasto de forma a prover benefício eterno?
Por causa desses fatores o profeta Muhammad lembrou a humanidade que riqueza não é proporcional ao montante de bens materiais que uma pessoa possui. A verdadeira riqueza é estar feliz com o que se tem e usá-la para obter a recompensa eterna da outra vida. O profeta disse:
"A riqueza não está na quantidade de bens. A verdadeira riqueza é a do contentamento." (Saheeh Al-Bukhari)
Também afirmou:
"O pouco, mas suficiente é melhor que o muito que distrai."[1]
E um terceiro hadith:
"É bem-sucedido aquele que foi guiado para o Islã, seu sustento lhe foi suficiente e ele ficou satisfeito com isso." (Saheeh Muslim)
Por último:
"O melhor sustento é aquele que é suficiente."[2]
Disso podemos ver claramente que o verdadeiro sucesso e riqueza são encontrados na paz e satisfação que resulta da sinceridade na fé e na prática. O contentamento do coração é o que faz uma pessoa perceber e apreciar essa verdadeira riqueza. O profeta descreveu essa riqueza em outro hadith, no qual disse:
"Aqueles entre vocês que acorda, seguro em sua casa, com seu corpo saudável, tendo a quantidade de alimento que precisa para o dia é como se tivesse capturado o mundo inteiro, com tudo que ele contém!"[3]
Esse hadith pode fornecer muitos benefícios. "Aqueles entre vocês..." significa os muçulmanos, indicando a primeira e maior bênção, o Islã; "... que acorda...", significa que foi abençoado com a vida; "... seguro em sua casa..." significa sem medo de ataque sobre sua segurança ou segurança de sua família; "... com seu corpo saudável ..." significa que Deus o salvou de doenças; "...tendo a quantidade de alimento que precisa para o dia..." indica que até a menor quantidade de sustento é uma grande bênção de Deus, porque é isso que o corpo e a saúde requerem e muitas pessoas não têm nem essa quantidade; e finalmente "... como se tivesse capturado o mundo inteiro, com tudo que ele contém ...", indicando que isso é tudo que uma pessoa precisa dessa vida e tudo vem além desse mínimo é um luxo desnecessário. O contentamento com a provisão de Deus, grande ou pequena, é contentamento com a vida e, assim, a melhor riqueza que uma pessoa pode ter. O profeta disse:
"Em verdade Deus testa Seu servo com aquilo que Ele lhe dá. Quem fica satisfeito com o que lhe é designado, Deus o abençoará e dará mais! Mas quem não fica satisfeito (com o que lhe foi dado), não será abençoado."[4]
Aqueles que estão contentes com sua própria provisão na vida não se preocupam com a riqueza e status de outros. Essas pessoas não se preocupam com quanto dinheiro outras têm, que tipos de carros dirigem ou o tamanho da casa em que vivem. Aqueles de coração puro a esse respeito amam a Deus e são gratos a Ele, sabendo que os bens desse mundo não compram felicidade ou as bênçãos da fé e contentamento. Em retorno, são amadas por Deus e por homens e mulheres. Esse princípio é esboçado de muito tão clara na nobre tradição profética:
"Abra mão desse mundo e Deus o amará. Abra mão do que pertence às outras pessoas e as pessoas o amarão."[5]
Em outra narração uma pessoa foi ao profeta e perguntou-lhe: "Ó mensageiro de Deus! Narre-me um hadith que seja curto!" Ele respondeu:
"Faça sua oração como se fosse a última, como se estivesse olhando para Ele (Deus), porque mesmo que não O veja, Ele o vê. Abra mão de ter o que as outras pessoas possuem e viverá uma vida sadia. E esteja ciente de qualquer coisa que possa (mais tarde) ter do que se desculpar."[6]
Quem estabelece como objetivo principal a satisfação de Deus e as recompensas da outra vida será amado por Deus, e quem evitar competir com seus irmãos muçulmanos em relação a assuntos mundanos será amado pelas pessoas. E essa riqueza - o amor de Deus e da humanidade - é muito maior que qualquer riqueza que o dinheiro pode comprar.
Os predecessores virtuosos dessa nação também perceberam esse princípio. Awn ibn Abdillah[7] disse: "A maior bênção é que - quando as coisas tornam-se difíceis - você aprecia o que lhe foi dado das bênçãos do Islã."[8] Da próxima vez que estiver em graves circunstâncias financeiras, ao invés de olhar para os prazeres materiais e temporários que não pode adquirir, reflita sobre o "tesouro da fé" com o qual Deus lhe abençoou e aprecie a grande fortuna de ser muçulmano! Da mesma forma, quando estiver muito feliz ou angustiado com algum ganho ou perda monetários, lembre-se da declaração de Muhammad ibn Suqah, que disse:
"Existem duas características que, mesmo que Deus não nos puna por elas, existe razão suficiente para a nossa punição: ficamos muito felizes com um pequeno ganho que recebemos desse mundo, mas Deus nunca nos viu tão felizes por uma boa ação que tenhamos feito. Ficamos tão preocupados com uma pequena questão referente a esse mundo, mas Deus nunca nos viu tão preocupados com um pecado que tenhamos cometido.[9]
Concluirei esse artigo citando o versículo no qual Deus lembrou o profeta e os crentes para não cobiçarem a riqueza desse mundo - riqueza que foi dada àqueles que rejeitaram a submissão a Deus - mas sim empenharem-se pela riqueza da outra vida:
"E não cobices tudo aquilo com que temos agraciado certas classes, com o gozo da vida terrena- a fim de, com isso, prová-las - posto que a mercê do teu Senhor é preferível e mais persistente." (Alcorão 20:131)
Comentário
Footnotes:
[1] Abu Ya’la, Ibn Adi e al-Albani o autenticaram em al-Sahihah,
[2] Ibn Hibban. Veja al-Silsilah al-Sahihah
[3] Al-Tirmidhi, Saheeh Al-Bukhari, Ibn Hibban. Al-Albani concordou com al-Tirmidhi em seu Silsilah
[4] Relatado por Ahmad como mencionado em al-Sahihah.
[5] Ibn Majah, Al-Hakim. Al-Albani também o classificou como autêntico em al-Silsilah,
[6] Saheeh Al-Bukhari, Al-Tabarani.
[7] Abdullah ibn Masud. Quando costumava narrar hadiths, sua barba ficava coberta de lágrimas. Morreu por volta de 115 da Hégira.
[8] Ibn Abi al-Dunya, al-Qana ah wa al-Ta afuf.
[9] ibid
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