Preservação do Alcorão (parte 1 de 2): Memorização

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Descrição: A memorização do Alcorão durante a época de Muhammad, que Deus o exalte, e sua memorização hoje por milhões de muçulmanos.

  • Por iiie.net (editado por IslamReligion.com)
  • Publicado em 04 Jan 2009
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Preservation_of_the_Quran_(part_1_of_2)_001.jpgO Glorioso Alcorão, a Escritura religiosa dos muçulmanos, foi revelada em árabe ao Profeta Muhammad, que Deus o exalte, através do anjo Gabriel.  A revelação ocorreu aos poucos, durante um período de vinte e três anos, às vezes em versículos breves e às vezes em capítulos mais longos.[1]

O Alcorão (literalmente uma “leitura” ou “recitação”) é diferente dos ditos e atos registrados (Sunnah) do Profeta Muhammad, que estão preservados em um conjunto separado de literatura chamado coletivamente de “Ahadith” (literalmente “notícias”; “relato”; ou “narração”).

Ao receber a revelação, o Profeta se engajou no dever de transmitir a mensagem a seus Companheiros através da recitação das palavras exatas que ele ouviu, em sua ordem exata.  Isso é evidente em sua inclusão das palavras de Deus que foram direcionadas especificamente para ele, por exemplo: “Qul” (“Dize [às pessoas, Ó Muhammad]”)    O estilo rítmico do Alcorão e a expressão eloqüente o tornam fácil de memorizar.  De fato, Deus descreve essa como uma das qualidades essenciais para preservação e lembrança (Alcorão 44:58; 54:17,22,32,40), particularmente em uma sociedade árabe que se gabava em discursos de longos trechos de poesia.  Michael Zwettler destaca que:

“nos tempos antigos, quando a escrita raramente era usada, a memória e a transmissão oral eram exercitadas e fortalecidas a um nível quase desconhecido agora.”[2]

Grandes porções da revelação foram então facilmente memorizadas por um grande número de pessoas na comunidade do Profeta.

O Profeta encorajava seus Companheiros a aprender cada versículo que era revelado e transmiti-lo aos outros.[3]  Também era exigido recitar regularmente o Alcorão como um ato de adoração, especialmente durante as orações meditativas diurnas (salah).  Através desses meios, muitos ouviam repetidamente passagens da revelação que lhes eram recitadas, as memorizavam e a usavam na oração.  O Alcorão inteiro foi memorizado palavra por palavra por alguns dos Companheiros do Profeta.  Entre eles estavam Zaid ibn Thabit, Ubayy ibn Ka’b, Muadh ibn Jabal, e Abu Zaid.[4]

Não apenas as palavras do Alcorão eram memorizadas, mas também suas pronúncias, uma prática que se transformou em uma ciência chamada Tajweed.  Essa ciência elucida meticulosamente como cada letra deve ser pronunciada, e também a palavra como um todo, inclusive no contexto de outras letras e palavras.  Hoje, podemos encontrar pessoas de diferentes idiomas capazes de recitar o Alcorão como se fossem árabes, vivendo durante o tempo do Profeta.

Além disso, a seqüência ou ordem do Alcorão foi organizada pelo próprio Profeta e também era bem conhecida pelos Companheiros.[5]  Cada Ramadã, o Profeta repetia após o anjo Gabriel (recitando) o Alcorão inteiro em sua ordem exata até o ponto em que tinha sido revelado, quando na presença de um grupo de seus Companheiros.[6]  No ano de sua morte, ele o recitou duas vezes.[7]  Por causa disso, a ordem dos versículos em cada capítulo e a ordem dos capítulos foi reforçada nas memórias de cada um dos Companheiros presente.

Como os Companheiros se espalharam por várias províncias com populações diferentes, eles levaram com eles suas recitações para poder instruir outros.[8]  Dessa forma, o mesmo Alcorão ficou amplamente retido nas memórias de muitas pessoas através de áreas de terra vastas e diversas.

De fato, a memorização do Alcorão se transformou em uma tradição contínua ao longo dos séculos, com centros/escolas para memorização sendo estabelecidas em todo o mundo muçulmano.[9]  Nessas escolas, os alunos aprendem e memorizam o Alcorão junto com seu Tajweed, aos pés de um mestre que, por sua vez, adquiriu o conhecimento de seu professor, uma ‘cadeia ininterrupta’ que remonta ao Profeta de Deus.  O processo geralmente leva 3-6 anos.  Após o domínio ser alcançado e a recitação checada para verificação da ausência de erros, concede-se uma licença formal (ijaza) à pessoa, certificando que ela domina as regras de recitação e pode agora recitar o Alcorão da forma que era recitado por Muhammad, o Profeta de Deus.

Preservation_of_the_Quran_(part_1_of_2)_002.jpg

A imagem é uma licença típica (ijaza) emitida no fim do aperfeiçoamento da recitação do Alcorão certificando a cadeia ininterrupta de instrutores do recitador que remonta ao Profeta do Islã.  A imagem acima é o certificado ijaza do Qari Mishari bin Rashid al-Afasy, um conhecido recitador do Kuwait, emitido pelo Sheikh Ahmad al-Ziyyat.   A imagem é cortesia de (http://www.alafasy.com)

A.T. Welch, um orientalista não-muçulmano, escreve:

“Para os muçulmanos o Alcorão é muito mais do que escritura ou literatura sagrada no sentido usual ocidental.  Sua significância fundamental para a vasta maioria através de séculos tem sido sua forma oral, a forma na qual ele primeiro apareceu, como a “recitação” entoada por Muhammad a seus seguidores por um período de aproximadamente vinte anos... As revelações foram memorizadas por alguns dos seguidores de Muhammad durante a sua vida, e a tradição oral que foi estabelecida teve uma história contínua desde então, em algumas formas independente de, e superior a, o Alcorão escrito... Através dos séculos a tradição oral de todo o Alcorão tem sido mantida por recitadores profissionais (qurraa).  Até recentemente, a significância do Alcorão recitado raramente foi apreciada no Ocidente.”[10]

O Alcorão é talvez o único livro, religioso ou secular, que foi memorizado completamente por milhões de pessoas.[11]  O famoso orientalista Kenneth Cragg reflete que:

“...esse fenômeno da recitação corânica significa que o texto atravessou os séculos em uma seqüência viva ininterrupta de devoção.  Não pode, portanto, ser tratado como uma peça de antiquário, nem como um documento histórico de um passado distante.  O hifdh (memorização corânica) fez do Alcorão um bem presente durante todo o período de tempo islâmico e deu a ele uma transmissão humana a cada geração, não permitindo que ficasse relegado à posição de mera autoridade para simples referência.” [12]



Footnotes:

[1] Muhammad Hamidullah, Introduction to Islam (Introdução ao Islã), Londres: MWH Publishers, 1979, p.17.

[2] Michael Zwettler, The Oral Tradition of Classical Arabic Poetry (A Tradição Oral da Poesia Árabe Clássica), Ohio State Press, 1978, p.14.

[3] Saheeh Al-Bukhari Vol.6, Hadith No.546.

[4]Saheeh Al-Bukhari Vol.6, Hadith No.525.

[5] Ahmad von Denffer, Ulum al-Quran, The Islamic Foundation, UK, 1983, p.41-42; Arthur Jeffery, Materials for the History of the Text of the Quran (Materiais para a História do Texto do Alcorão), Leiden: Brill, 1937, p.31.

[6] Saheeh Al-Bukhari Vol.6, Hadith No.519.

[7]Saheeh Al-Bukhari Vol.6, Hadith Nos.518 & 520.

[8] Ibn Hisham, Seerah al-Nabi, Cairo, n.d., Vol.1, p.199.

[9] Labib as-Said, The Recited Koran (O Alcorão Recitado), traduzido por Morroe Berger, A. Rauf, e Bernard Weiss, Princeton: The Darwin Press, 1975, p.59.

[10]The Encyclopedia of Islam (Enciclopédia do Islã), ‘The Quran in Muslim Life and Thought (O Alcorão na Vida e Pensamento Muçulmano).’

[11]William Graham, Beyond the Written Word (Além da Palavra Escrita), UK: Cambridge University Press, 1993, p.80.

[12]Kenneth Cragg, The Mind of the Quran (A Mente do Alcorão), Londres: George Allen & Unwin, 1973, p.26.

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