Reflexões filosóficas (parte 4 de 5)

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Descrição: Essa série de artigos fornece uma estrutura conceitual para responder às “grandes questões” relacionadas a nossa existência.  Parte 4 nos lembra que pensar sobre a morte é a força impulsionadora por trás da reflexão sobre as questões que realmente importam e começa a discussão sobre o processo de pensamento que deve ser empregado para alcançar as conclusões certas. 

  • Por Hamza Andreas Tzortzis
  • Publicado em 25 Jul 2016
  • Última modificação em 01 Aug 2016
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Morte

 "Toda a alma provará o sabor da morte." (Alcorão 21:35)
"Onde quer que vos encontrardes, a morte vos alcançará..." (Alcorão 4:78)

A morte é algo que nós seres vivos não gostamos de pensar a respeito.  Cria a percepção dentro de nós de que todos os apegos que construímos nesse mundo não existirão mais.  É significativo que nos desperta para o fato brutal de que não existiremos mais no planeta.  Têm havido muitas filosofias sobre a morte. Por exemplo, pensadores discutiram que a morte é uma interrupção da vida, como o sono ou uma doença, só que permanente.  Outros explicaram que a morte deve ser considerada como parte da vida, algo que toda pessoa tem que se reconciliar para viver bem; parte do que está envolvido na aceitação de nossa finitude.  Alguns pensadores afirmaram que a morte deve ser considerada como uma transição dessa vida para uma vida posterior, a vida eterna de bênção ou dor.

Qualquer que sejam nossas opiniões sobre a morte, uma coisa com a qual todos concordamos é que é algo sobre o qual não pensamos o suficiente.  Pode soar mórbido, mas existe um valor profundo em refletir sobre a morte, porque traz a percepção de que somos todos seres humanos com uma vida curta.  Nossos egos não parecerão mais tão importantes, nossos apegos e desejos ao mundo material são colocados em perspectiva e nossas vidas são questionadas. Tudo isso é uma fonte de grande benefício, como disse o teólogo e filósofo do século 11, al-Ghazali: "...na recordação da morte existe recompensa e mérito." Contemplar a morte provoca o pensamento e nos dá aquela janela em nossas vidas para refletir realmente sobre a natureza efêmera de nossa existência.

À luz da morte, como devemos ver a vida? O que ela nos diz sobre a importância que damos às coisas e como dá significado à nossa existência? Se virmos a vida por meio das lentes da morte, parecemos estar em um espaço emocional e intelectual no qual podemos de fato avaliar nossa situação nesse planeta.  De onde viemos? O que devo fazer aqui? Para onde estou indo? A morte é a força impulsionadora por trás dessas perguntas críticas, porque no momento em que reconhecemos que essa vida é curta e que daremos nosso último suspiro um dia, tudo fica em perspectiva.

Então, reflitamos sobre a morte. Imagine que está aqui em um minuto e no próximo não está mais.  Provavelmente experimentou entes queridos que faleceram. Como se sentiu? Não houve um senso de solidão, vazio e desapego às coisas que costumávamos levar muito a sério? Agora, se experimentasse a morte nesse momento, como todo ser humano experimentará, o que significaria para você? O que gostaria de ter feito de maneira diferente, se tivesse a chance de voltar? Que pensamentos e ideias levaria mais a sério? E qual seria sua perspectiva se pudesse reviver sua vida tendo experimentado a realidade trágica da morte?

O triste sobre a morte é que não podemos voltar para mudar nossas perspectivas, pensar sobre a vida ou desafiar nossa perspectiva e nos desapegarmos da natureza vazia da vida terrena.  Entretanto, a coisa boa é que podemos dar o passo corajoso de refletir profundamente sobre a morte e o melhor de tudo, podemos fazer todas essas mudanças agora, nesse exato minuto.

Pensamento

 "…para aqueles que refletem." (Alcorão 10:24)
"Ele ensinou a Adão todos os nomes..." (Alcorão 2:31)
"Não o compreendeis?" (Alcorão 6:32)
"Porventura não refletem em si mesmos?" (Alcorão 30:8)

Então como devemos pensar? Como podemos compreender o mundo ao nosso redor? Que métodos devemos usar para obter um entendimento verdadeiro do mundo? Essas perguntas têm intrigado as mentes de muitos grandes pensadores ao longo da história.  Nossa tradição humana está cheia de debates e discussões que tentam encontrar respostas.  Locke, Hume, Kant e muitos outros tentaram fornecer respostas para lançar luz sobre o debate eterno em relação a nossa compreensão do mundo.  Alguns desses pensadores, como Locke, afirmaram que nosso conhecimento do mundo é limitado apenas às nossas percepções. Em outras palavras, o conhecimento depende de nossa experiência da percepção, também conhecida como a posteriori em epistemologia, que forma a tradição empirista em filosofia.

Locke argumentou que nossas mentes eram uma folha em branco, uma tábula rasa, esperando para serem escritas pela experiência.  Outros pensadores, como Leibniz argumentou em seu ‘Nouveax Essais sur l’entendement humain’, que como os seres humanos temos conceitos e ideias inatos necessários para compreender o mundo ao nosso redor, conhecidos como a priori em epistemologia, o que significa que o conhecimento pode ser obtido independente da experiência de percepção, formando a tradição racionalista em filosofia.  A visão de Leibniz parece ser uma posição mais forte, já que faz mais sentido. Entretanto, alguns filósofos e cientistas negam e afirmam que não se pode pensar sobre exemplos de coisas que podemos conhecer independente de nossa experiência de percepção.  Isso não é verdade. Leve em consideração os exemplos a seguir:

·Círculos não têm cantos.

·4+4 = 8.

·O tempo é irreversível.

·Tudo que começa a existir tem uma causa.

·O todo é maior que sua metade (coma apenas metade de uma maçã!)

·Causalidade

Tomemos a causalidade como exemplo para ilustrar que não podemos apenas nos apoiar em nossa experiência de percepção.  A causalidade pode ser conhecida sem experiência porque a trazemos para toda a nossa experiência, ao invés de nossa experiência a trazer para nós.  É como usar óculos pintados de amarelo. Tudo parece amarelo, não por causa de qualquer coisa no mundo, mas por causa dos óculos por meio do qual estamos olhando para tudo.  O argumento de que isso é apenas uma suposição não é verdadeiro, porque sem a causalidade não seríamos capazes de ter o conceito do mundo real e não compreenderíamos nossa experiência de percepção.  Leve em consideração o exemplo a seguir: imagine que está olhando para a Casa Branca em Washington DC. Seus olhos podem vagar para a porta, colunas e então para o telhado e finalmente para o gramado na frente.  Agora contraste isso com outra experiência. Você está no rio Tâmisa em Londres e vê um barco passar.  O que dita a ordem na qual teve essas experiências? Quando olhou para a Casa Branca teve uma escolha para ver o chão primeiro e então as colunas e assim por diante.  Entretanto, com o barco não teve escolha, já que a frente do barco foi a primeira coisa a aparecer.

O ponto aqui é que você não seria capaz de distinguir que algumas experiências são ordenadas por você mesmo e outras de maneira independente, a menos que tivéssemos a ideia inata de causalidade.  Na ausência de causalidade nossa experiência seria muito diferente do que é.  Seria uma sequência única de experiências: uma após outra.

Assim, parece que a maneira correta de formar conclusões é usar nossas ideias inatas e as experiências do mundo ao nosso redor. Em outras palavras, usar pensamento racional ou o que algumas pessoas chamam de razão.  Apenas nos apoiarmos em nossa experiência do mundo material não seria suficiente como um método de pensamento, já que ela não seria capaz de confirmar verdades políticas, morais, matemáticas, lógicas e, não esqueçamos de mencionar, uma verdade fundamental como a causalidade.

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