O que é a Sunnah? (parte 1 de 2): Uma Revelação como o Alcorão

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Descrição: Um breve artigo destacando o que constitui a Sunnah e seu papel na Lei Islâmica.  Parte Um: A definição de Sunnah, o que constitui e os tipos de revelação.

  • Por Equipe Editorial do Dr. Abdurrahman al-Muala (traduzido por islamtoday.com)
  • Publicado em 04 Jan 2010
  • Última modificação em 31 Aug 2014
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What_is_the_Sunnah_(part_1_of_2)_-_A_Revelation_like_the_Quran_PT_001.jpgA Sunnah, de acordo com os estudiosos de hadith, é tudo que foi relatado a partir do Mensageiro, que a misericórdia e bênçãos de Deus estejam sobre ele, de suas afirmações, ações, aprovações tácitas, personalidade, descrição física ou biografia.  Não importa se a informação sendo relatada se refere a algo antes ou depois do início de sua missão profética.

Explicação dessa definição:

As afirmações do Profeta incluem tudo que o Profeta disse por várias razões em diferentes ocasiões.  Por exemplo, ele disse:

“Verdadeiramente as ações valem pelas intenções e toda pessoa receberá somente aquilo que intencionou.”

As ações do Profeta incluem tudo que o Profeta fez que nos foi relatado por seus Companheiros.  Inclui como ele fez abluções, realizou as orações e como fez a peregrinação.

As aprovações tácitas do Profeta incluem tudo que seus Companheiros disseram ou fizeram que ele demonstrou estar a favor, ou pelo menos não fez objeção.  Qualquer coisa que teve a aprovação tácita do Profeta é tão válida quanto algo que ele próprio disse ou fez.

Um exemplo é a aprovação que foi dada aos Companheiros quando usaram seu entendimento para decidir quando orar durante a Batalha de Bani Quraydhah.  O Mensageiro de Deus tinha lhes dito:

“Nenhum de vocês deve orar a oração da tarde até que chegue a Bani Quraydhah.”

Os Companheiros só chegaram a Bani Quraydhah depois do pôr do sol.  Alguns deles adotaram as palavras do Profeta literalmente e adiaram a oração da tarde, dizendo: “Não oraremos até chegarmos lá.” Outros entenderam que o Profeta só estava indicando a eles que deviam correr durante sua viagem. Então pararam e oraram a oração da tarde no horário.

O Profeta ficou sabendo do que os dois grupos tinham decidido, mas não criticou nenhum deles.

Com relação a personalidade do Profeta, incluiria a seguinte afirmação de Aisha (que Deus esteja satisfeito com ela):

“O Mensageiro de Deus nunca era indecente ou vulgar, nem era espalhafatoso. Nunca respondia com abusos aos abusos de outros. Ao contrário, era tolerante e perdoador.”

A descrição física do Profeta é encontrada em afirmações como a relatada por Anas (que Deus esteja satisfeito com ele):

“O Mensageiro de Deus não era exageradamente alto nem baixo. Não era excessivamente branco nem negro. Seu cabelo não era excessivamente encaracolado nem liso.”

A Relação entre a Sunnah e Revelação

A Sunnah é revelação de Deus a Seu Profeta (que a misericórdia e bênçãos de Deus estejam sobre ele).  Deus diz no Alcorão:

“... vos revelou no Livro, com sabedoria,...” (Alcorão 2:231)

A Sabedoria se refere a Sunnah.  O grande jurista al-Shafi disse: “Deus menciona o Livro, que é o Alcorão. Ouvi das pessoas que considero autoridades do Alcorão que a Sabedoria é a Sunnah do Mensageiro de Deus (que a misericórdia e bênçãos de Deus estejam sobre ele).” Deus diz:

De fato, Deus conferiu um grande favor aos crentes quando enviou um Mensageiro em seu meio, que recitasse para eles Seus sinais e os purificasse e instruísse no Livro e na Sabedoria.

É claro dos versículos precedentes que Deus revelou a Seu Profeta tanto o Alcorão quanto a Sunnah e que Ele o ordenou a transmitir ambos para as pessoas.  O hadith profético também atesta o fato que a Sunnah é revelação.  Está relatado de Mak’hul que o Mensageiro de Deus disse:

“Deus me deu o Alcorão e o que é semelhante a ele da Sabedoria.”

Al-Miqdam b. Ma’dee Karab relata que o Mensageiro de Deus disse:

“Me foi dado o Livro e algo semelhante a ele.”

Hisan b. Atiyyah relata que Gabriel costumava vir para o Profeta com a Sunnah da mesma maneira que vinha com o Alcorão.

Uma opinião do Profeta não era meramente seus próprios pensamentos ou deliberações sobre um assunto, era o que Deus revelou a ele.  Dessa forma, o Profeta era diferente de outras pessoas.  Era apoiado por revelação.  Quando exercício seu próprio raciocínio e estava correto Deus o confirmava, e se cometesse um erro em seu pensamento Deus o corrigia e o guiava para a verdade.

Por essa razão é relatado que o Califa Omar disse no púlpito: “Ó povo! As opiniões do Mensageiro de Deus estavam corretas porque Deus as revelava a ele. Quanto às nossas opiniões, não são nada além de pensamentos e conjecturas.”

A revelação que o Profeta recebeu foi de dois tipos:

A.    Revelação informativa: Deus o informava de algo através de revelação de uma forma ou outra como mencionado no seguinte versículo corânico:

“É inconcebível que Deus fale diretamente ao homem, a não ser por revelações, ou veladamente, ou por meio de um mensageiro, mediante o qual revela, com o Seu beneplácito, o que Lhe apraz; sabei que Ele é Prudente, Altíssimo.” (Alcorão 42:51)

Aisha relatou que al-Harith b. Hisham perguntou ao Profeta como a revelação chegava até ele e o Profeta respondeu:

“Às vezes o anjo vem para mim como o ressoar de um sino e é o mais difícil para mim. Joga seu peso sobre mim e memorizo o que ele diz. E às vezes o anjo vem para mim na forma de um homem, fala comigo e memorizo o que ele diz.”

Aisha disse:

“Eu o vi quando a revelação veio em um dia extremamente frio. Quando acabou, sua fronte estava cheia de suor.”

Às vezes ele era consultado sobre algo, mas permanecia em silêncio até a revelação chegar.  Por exemplo, os pagãos de Meca perguntaram a ele sobre a alma, mas o Profeta permaneceu em silêncio até que Deus revelou:

“Perguntar-te-ão sobre o Espírito. Responde-lhes: O Espírito está sob o comando do meu Senhor, e só vos tem sido concedida uma ínfima parte do saber.” (Alcorão 17:85)

Também foi consultado sobre como a herança devia ser dividida, mas não respondeu até que Gabriel revelou:

“Deus vos prescreve acerca da herança de vossos filhos...”  (Alcorão 4:11)

B.    Revelação afirmativa: Era quando o Profeta exercia seu próprio julgamento em uma questão.  Se a opinião dele fosse correta, a revelação vinha confirmando-a e se fosse incorreta a revelação vinha para corrigi-lo, como qualquer outra revelação informativa.  A única diferença aqui é que a revelação vinha como resultado de uma ação que o Profeta primeiro atuou por conta própria.

Nessas situações o Profeta usava seu próprio critério.  Se escolhesse o que era correto então Deus confirmava sua escolha através de revelação.  Se escolhesse o que estava errado Deus o corrigia para proteger a integridade da fé.  Deus nunca permitia que Seu Mensageiro transmitisse um erro às pessoas, porque faria seus seguidores incorrerem em erro também.  Isso se oporia a sabedoria por trás do envio de Mensageiros, que era fazer com que as pessoas não tivessem nenhum argumento contra Deus.  Dessa forma, o Mensageiro era protegido de incorrer em erro, porque se ele errasse a revelação o corrigia.

Os Companheiros do Profeta sabiam que a aprovação tácita do Profeta era na verdade a aprovação de Deus, porque se fizessem algo contrário ao Islã durante a vida do Profeta a revelação viria condenando o que fizeram.

Jabir disse: “Costumávamos praticar coitus interruptus[1] quando o Mensageiro de Deus estava vivo.”  Sufyan, um dos narradores desse hadith, comentou: “Se algo desse tipo fosse proibido, o Alcorão teria proibido.”



Footnotes:

[1] Coitus Interruptus: retirada do pênis antes da emissão de esperma durante a relação sexual. – IslamReligion.com

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O que é a Sunnah? (parte 2 de 2): A Sunnah na Lei Islâmica

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Descrição: Um breve artigo destacando o que constitui a Sunnah e seu papel na Lei Islâmica.  Parte Dois: Como a Sunnah difere do Alcorão e a posição da Sunnah na Lei Islâmica

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A Diferença entre a Sunnah e o Alcorão

O Alcorão é a base da Lei Islâmica.  É o discurso milagroso de Deus que foi revelado ao Mensageiro, que a misericórdia e bênçãos de Deus estejam sobre ele, através do anjo Gabriel.  Foi-nos transmitido com tantas cadeias de autoridade que sua autenticidade histórica é inquestionável.  É registrado em seu próprio volume e sua recitação é uma forma de adoração.

Quanto a Sunnah, é tudo que veio de Deus para o Mensageiro além do Alcorão.   Explica e fornece detalhes para as leis encontradas no Alcorão.  Também fornece exemplos de aplicação prática dessas leis.  É revelação direta de Deus ou decisões do Mensageiro que foram confirmadas por revelação.  Sendo assim, a fonte de toda a Sunnah é revelação.

O Alcorão é a revelação que é recitada formalmente como um ato de adoração e a Sunnah é revelação que não é recitada formalmente.  A Sunnah, entretanto, é como o Alcorão no sentido de que é revelação e deve ser seguida e aderida.

O Alcorão tem precedência sobre a Sunnah de duas maneiras.  De um lado, o Alcorão consiste nas palavras exatas de Deus, milagrosas em natureza, até o último versículo.   A Sunnah, entretanto, não é necessariamente as palavras exatas de Deus, mas seus significados explicados pelo Profeta.

A Posição da Sunnah na Lei Islâmica

Durante a vida do Mensageiro o Alcorão e a Sunnah eram as únicas fontes de Lei Islâmica.

O Alcorão fornece injunções gerais que formaram a base da Lei, sem entrar em detalhes e legislação secundária, com exceção de umas poucas injunções que são estabelecidas junto com os princípios gerais.  Essas injunções não estão sujeitas a mudanças ao longo do tempo ou às alterações de circunstâncias das pessoas.  O Alcorão vem com os dogmas da crença, estabelece atos de adoração, menciona as histórias das nações antigas e fornece diretrizes morais.

A Sunnah está em concordância com o Alcorão.  Explica os significados do que não está claro no texto, fornece detalhes para o que é retratado em termos gerais, especifica o que é geral e explica suas injunções e objetivos.  A Sunnah também vem com injunções que não são fornecidas pelo Alcorão, mas essas estão sempre em harmonia com seus princípios, e sempre avançam os objetivos que são esboçados no Alcorão.

A Sunnah é uma expressão prática do que está no Alcorão.  Essa expressão assume muitas formas.  Às vezes vem como uma ação executada pelo Mensageiro.  Outras vezes é uma afirmação feita por ele em resposta a algo.  E ainda outras vezes assume a forma de uma afirmação ou ação de um dos Companheiros que não foi impedida e nem objetada.  Ao contrário, ele permaneceu em silêncio ou expressou sua aprovação sobre o assunto.

A Sunnah explica e esclarece o Alcorão em muitas formas.  Explica como realizar atos de adoração e implementar as leis que são mencionadas no Alcorão.  Deus ordena aos crentes que orem sem mencionar os horários dessas orações ou a forma de realizá-las.  O Mensageiro esclarece através de suas próprias orações e ensinando aos muçulmanos como orar.  Ele disse: “Orem como me viram orar.”

Deus faz a peregrinação do Hajj obrigatória sem explicar seus rituais.  O Mensageiro de Deus explica dizendo:

“Aprendam os rituais do Hajj através de mim.”

Deus faz o tributo do Zakat obrigatório sem mencionar que tipos de riqueza e produção devem ser tributados.  Deus também não menciona a quantia mínima de riqueza que deve sofrer taxação obrigatória.  A Sunnah, entretanto, deixa tudo isso claro.

A Sunnah especifica afirmações genéricas encontradas no Alcorão.  Deus diz:

“Deus vos prescreve acerca da herança de vossos filhos: Daí ao varão a parte de duas filhas...”  (Alcorão 4:11)

Essas palavras são gerais, aplicadas a toda família e transformando todos os filhos em herdeiros de seus pais.  A Sunnah faz essa regra mais específica ao excluir os filhos dos Profetas.  O Mensageiro de Deus disse:

“Nós Profetas não deixamos herança.  O que quer que deixemos para trás é caridade.”

A Sunnah qualifica afirmações não qualificadas no Alcorão.  Deus diz:

“.... sem encontrardes água, servi-los do tayamum com terra limpa, e esfregai com ela os vossos rostos e mãos...” (Alcorão 5:6)

O versículo não menciona a extensão da mão, deixando a pergunta se devemos esfregar as mãos até o punho ou cotovelo.  A Sunnah esclarece mostrando que é até o punho, porque foi dessa forma que o Mensageiro de Deus realizou a ablução seca.

A Sunnah também enfatiza o que está no Alcorão ou fornece legislação secundária para uma lei contida nele.  Inclui todos os hadiths que indicam que oração, zakat, jejum e peregrinação são obrigatórios.

Um exemplo de onde a Sunnah fornece legislação subsidiária para uma injunção encontrada no Alcorão é a regra encontrada na Sunnah de que é proibido vender frutas antes que comecem a amadurecer.  A base para essa lei é a afirmação do Alcorão:  

“Não consumam sua propriedade injustamente, exceto através de negócios ou consentimento mútuo.”

A Sunnah contém normas que não são mencionadas no Alcorão e que não vem como esclarecimentos para algo mencionado no Alcorão.  Um exemplo disso é a proibição de comer carne de jumento e de predadores.  Outro exemplo é a proibição de casar com uma mulher e com sua tia ao mesmo tempo.  Essas e outras normas fornecidas pela Sunnah devem ser observadas.

A Obrigação de Observar a Sunnah

Um requisito de crer na missão profética é aceitar como verdade tudo que o Mensageiro de Deus disse:  Deus escolheu Seus Mensageiros entre Seus adoradores para transmitir Sua Lei à humanidade.  Deus diz:

“... Deus sabe melhor do que ninguém a quem deve encomendar a Sua missão...” (Alcorão 6:124)

Deus também diz:

“Acaso, incumbe aos mensageiros algo além da proclamação da lúcida Mensagem?” (Alcorão 16:35)

O Mensageiro é protegido do erro em todas as suas ações.  Deus protegeu sua língua de proferir algo que não seja a verdade.  Deus protegeu seus membros de fazer algo que não seja o certo.

Deus o protegeu de aprovar algo contrário à Lei Islâmica.  É a mais completa e bela das criações de Deus.  Isso está claro a partir de como Deus o descreve no Alcorão:

“Pela estrela, quando cai. Que vosso camarada jamais se extravia, nem erra. Nem fala por capricho. Não é senão a inspiração que lhe foi revelada.” (Alcorão 53:1-4)

Vemos no hadith que nenhuma circunstância, por mais árdua que fosse, poderia impedir o Profeta de falar a verdade.  Estar zangado nunca afetou seu discurso.  Nunca falou falsidade nem quando estava sendo ironizado.  Seus próprios interesses nunca o afastaram de falar a verdade.  O único objetivo que buscou foi a satisfação de Deus Todo-Poderoso.

Abdullah b. Amr b. al-Aas relatou que costumava registrar tudo que o Mensageiro de Deus dizia. Então a tribo dos coraixitas o proibiu de fazê-lo, dizendo: “Você escreve tudo que o Mensageiro de Deus fala, mas ele é um homem que fala movido pelo contentamento e raiva.”

Abdullah b. Amr parou de escrever e mencionou isso ao Mensageiro de Deus que lhe disse:

“Escreva porque, por Aquele em Cujas mãos está a minha alma, somente a verdade sai daqui.”... e apontou para sua boca.

O Alcorão, a Sunnah e o consenso dos juristas apontam para o fato de que obedecer ao Mensageiro de Deus é obrigatório.  Deus diz no Alcorão:

“Ó crentes, obedecei a Deus, ao Mensageiro e às autoridades, dentre vós! Se disputardes sobre qualquer questão, recorrei a Deus e ao Mensageiro, se crerdes em Deus e no Dia do Juízo Final...”  (Alcorão 4:59)

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