Juros e Seu Papel na Economia e na Vida (parte 7 de 8): Os Males dos Juros II

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Descrição: As várias formas com as quais os juros têm prejudicado a sociedade.  Parte 2: Os males devastadores dos juros a um nível internacional.

  • Por Jamaal al-Din Zarabozo (© 2011 IslamReligion.com)
  • Publicado em 11 Jul 2011
  • Última modificação em 11 Jul 2011
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Interest_and_its_Role_in_Economy_and_Life_(part_7_of_8)_PT-BR_001.jpgA um nível internacional, a situação é muito mais devastadora e perigosa.  Não há dúvida que quando vemos de uma perspectiva internacional, os juros matam pessoas.  O saneamento de dívidas de países menos desenvolvidos é tão grande que devem sacrificar necessidades básicas nutricionais e de saúde.  É assombroso pensar que números incontáveis de crianças morrem diariamente em países menos desenvolvidos devido à “ferramenta” do capitalismo moderno: juros.  Alguns países africanos são forçados a gastar mais com saneamento de dívidas do que gastam em saúde ou educação.[1]

Nesse contexto a PDNU (1998) previu que se a dívida externa dos 20 países mais pobres do mundo fosse perdoada, poderia salvar as vidas de 20 milhões de pessoas antes do ano 2000. Em outras palavras, isso significa que a dívida não cancelada foi responsável pelas mortes de 130.000 crianças por semana até o ano de 2000.[2]

Ken Livingston, prefeito de Londres, alegou que o capitalismo global mata mais pessoas por ano do que as que foram mortas por Adolf Hitler.  Culpou o FMI e o Banco Mundial pelas mortes de milhões devido às suas recusas em aliviar o fardo da dívida.  Susan George afirmou que a cada ano desde 1981 entre 15 e 20 milhões de pessoas morrem desnecessariamente devido ao fardo da dívida “porque os governos do Terceiro Mundo têm tido que fazer cortes em programas de água potável e de saúde para atender seus reescalonamentos de dívida.[3]

A dívida, com sua quantidade crescente de juros compostos, é perigosa para qualquer nação porque significa perda de soberania e controle.[4] Esse aspecto, não é por acaso.  Países menos desenvolvidos – especialmente suas elites e governantes corruptos – não estão isentos de culpa quando se trata da dívida que acumularam.  Ao mesmo tempo, se não fizerem empréstimos e se endividarem, definitivamente serão pressionados a fazê-lo.  Caufield destacou:

Assim tem sido com o Banco Mundial; operações de refinanciamento têm tido participação cada vez maior em suas operações de empréstimo.  O resultado tem sido um acúmulo de dívida dos tomadores de empréstimo do banco – e uma perda gradual da soberania também.  Nenhum credor está disposto a manter o refinanciamento para sempre sem exercer algum controle sobre a forma como o credor conduz seus negócios.  Antigamente os grandes poderes não hesitavam em usar força militar para submeter os devedores recalcitrantes às suas vontades.  Em seu ensaio clássico, “Débitos Públicos”, publicado em 1887, o economista americano Henry Carter Adams escreveu que “a concessão de créditos estrangeiros é o primeiro passo em direção ao estabelecimento de uma política externa agressiva e, sob certas condições, leva inevitavelmente à conquista e ocupação.”

A abordagem do banco aos seus devedores não é tão bruta.  Ao invés de enviar os fuzileiros navais, oferece aconselhamento sobre como os países devem gerir suas finanças, fazer suas leis, prover serviços ao seu povo e se conduzirem no mercado internacional.  Seus poderes de persuasão são grandes, devido à convicção universal de que se decidir levar ao ostracismo um tomador de empréstimo, todos os principais poderes nacionais e internacionais seguirão sua orientação.  Assim, através do empréstimo excessivo – nascido de uma inconsistência fundamental de sua missão – o banco tem aumentado seu próprio poder e destruído os dos seus tomadores de empréstimo.[5]

O agora famoso Confessions of an Economic Hit Man (“Confissões de um Assassino Econômico”, em tradução livre) [6] de John Perkins detalha intrigas econômicas contemporâneas.  Ao descrever seu trabalho de avaliar projetos, ele escreve:

O aspecto não mencionado de todos esses projetos era serem voltados para criar grandes lucros para os contratantes e fazer um punhado de famílias ricas e influentes nos países recebedores muito felizes, ao mesmo tempo em que asseguravam a dependência financeira de longo prazo e, consequentemente, a lealdade política de governos ao redor do mundo.  Quanto maior o empréstimo, melhor.  O fato de que o fardo da dívida colocado sobre um país privaria seus cidadãos mais pobres de saúde, educação e outros serviços sociais por décadas não era levado em consideração.[7]

O trabalho de Perkins foi seguido agora por A Game as Old as Empire: The Secret World of Economic Hit Men and the Web of Global Corruption (“Um Jogo tão Velho quanto o Império: O Mundo Secreto do Assassino Econômico e a Rede de Corrupção Global”, em tradução livre) editado por Steven Hiatt.[8]Hiatt escreve:

A dívida mantém o Terceiro Mundo sob controle.  Dependente de ajuda, reescalonamento e rolagem de dívidas para sobreviver - sem nunca de fato se desenvolver - tem sido forçado a reestruturar suas economias e reescrever suas leis para atenderem as condições estabelecidas nos programas de ajuste do FMI e às condições do Banco Mundial.[9]

A situação de dívida atual, com o papel principal que os juros desempenham, está potencialmente muito devastadora para o mundo como um todo.  Em Global Trends 2015 (Tendências Globais 2015) a CIA reconheceu:

O curso crescente da economia global criará muitos vencedores econômicos, mas não içará todos os barcos.  Criará conflitos internos e externos assegurando uma lacuna ainda maior entre vencedores e perdedores regionais do que a que existe hoje.  A evolução da globalização será árdua, marcada por volatilidade financeira crônica e um divisão econômica que se amplia.  As regiões, países e grupos deixados para trás enfrentarão estagnação econômica profunda, instabilidade política e alienação cultural.  Promoverão extremismo político, étnico, ideológico e religioso, junto com a violência que geralmente os acompanha.[10]

Noreena Hertz tem um excelente capítulo em seu trabalho The Debt Threat: How debt is destroying the developing world… and threatening us all (“A Ameaça da Dívida: Como a dívida está destruindo o mundo em desenvolvimento... e ameaçando a todos nós”, em tradução livre), delineando muitos dos perigos do débito maciço – e, novamente, que não seria tão maciço sem o sempre crescente aspecto dos juros – apresentam para o mundo hoje.  Ela detalha os perigos do extremismo, terrorismo, destruição de recursos naturais do mundo e mais.  Para citar apenas um aspecto, ela escreve:

O infame produto da dívida – pobreza, desigualdade e injustiça – também é utilizado para justificar e até legitimar atos de maior violência.  Poucas semanas após o ataque ao World Trade Center, o destacado comentarista africano Michael Fortin escreveu: “Temos que reconhecer que esse ato deplorável de agressão pode ter sido, pelo menos em parte, um ato de vingança da parte de pessoas desesperadas e humilhadas, esmagadas pelo peso da opressão econômica praticada pelas pessoas do Ocidente.” A linguagem de Fortin – “esmagado”, “opressão”, “desesperado”, “humilhado” – é deliberadamente evocativa.  E é manifestamente claro que existe uma audiência com quem essas palavras ressoam de maneira poderosa.[11]

Na realidade, existem ainda outros males relacionados aos juros que poderiam ser discutidos, mas os apresentados acima devem ser suficientes para os propósitos aqui.



Footnotes:

[1] Cf., Noreena Hertz.  The Debt Threat (“A Ameaça da Dívida”, em tradução livre (Nova Iorque: HarperBusiness, 2004), p. 3.

[2] Ali Mohammadi e Muhammad Ahsan, Globalisation or Reconolisation?  The Muslim World in the 21st Century (“Globalização ou Recolonização? O Mundo Muçulmano no Século 21”, em tradução livre) (Londres: Ta-Ha Publishers, Ltd. 2002), p. 38.

[3] Mohammadi e Muhammad Ahsan, p. 43.

[4] Mais uma vez, a simples remoção dos juros dessas dívidas faria maravilhas para aliviar a posição dos mais pobres do mundo. A quantidade de juros pagos por esses países pobres é astronômica. Caufield destacou: “Até 1978, um quarto de todo o dinheiro tomado emprestado pelos países do Terceiro Mundo não filiados à OPEC era usado para pagar juros sobre dívidas existentes. A situação era particularmente ruim na América Latina, onde a tomada de empréstimos dobrou entre 1976 e 1982, and 70 por cento dos novos empréstimos eram para pagar juros sobre as dívidas antigas... Por volta de 1982, a situação tinha se tornado realmente absurda. A América Latina devia centenas de bilhões de dólares ao ano e gasto tudo – mais – para manter os pagamentos de suas dívidas antigas.” Catherine Caufield, Masters of Illusion: The World Bank and the Poverty of Nations (“Mestres da Ilusão: O Banco Mundial e a Pobreza das Nações”, em tradução livre) (Londres, Inglaterra: Pan Books, 1996), p. 137.  Mesmo quando um “alívio na dívida” é concedido, os pagamentos são adiados, mas é exigido que os juros continuem a se acumular. De acordo com Gwynne, “Embora os bancos possam permitir que um país como a Polônia “reescalone” sua dívida – concedendo vinte anos para pagar ao invés de dez, por exemplo – os pagamentos de juros continuam. E são os juros que servem de apoio para os resultados do balanço de perdas e lucros do banco.” S. C. Gwynne, “Selling Money-and Dependency: Setting the Debt Trap,” (“Vendendo Dinheiro e Dependência: Estabelecendo a Armadilha da Dívida”, em tradução livre) em A Game as Old as Empire: The Secret World of Economic Hit Men and the Web of Global Corruption (“Um Jogo tão Velho quanto o Império: O Mundo Secreto do Assassino Econômico”, em tradução livre) editado por Steven Hiatt (São Francisco: Berrett-Koehler Publishers, Inc., 2007), p. 35.  Payer destacou esse fenômeno desde 1974, mas virtualmente nada foi feito para corrigi-lo. Ver Cheryl Payer, The Debt Trap: The International Monetary Fund and the Third World (“A Armadilha da Dívida: O Fundo Monetário Internacional e o Terceiro Mundo”, em tradução livre) (Nova Iorque: Monthly Review Press, 1974), p 46.

[5] Caufield, p. 336

[6] John Perkins, Confessions of an Economic Hit Man “Confissões de um Assassino Econômico”, em tradução livre) (São Francisco: Berrett-Koehler Publishers Inc., 2004), passim.

[7] Perkins, p. 15.

[8] Steven Hiatt, ed.  A Game as Old as Empire: The Secret World of Economic Hit Men and the Web of Global Corruption (“Um Jogo tão Velho quanto o Império: O Mundo Secreto do Assassino Econômico e a Rede de Corrupção Global”, em tradução livre) (São Francisco: Berrett-Koehler Publishers, Inc., 2007)

[9] Hiatt, p. 23.

[10] Citado de Hertz, p. 156.

[11] Hertz, p. 161.

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