Juros e Seu Papel na Economia e na Vida (parte 6 de 8): Os Males dos Juros I
Descrição: As várias formas com as quais os juros têm prejudicado a sociedade.
- Por Jamaal al-Din Zarabozo (© 2011 IslamReligion.com)
- Publicado em 11 Jul 2011
- Última modificação em 11 Jul 2011
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Os Males dos Juros
Os economistas podem tentar apresentar várias justificativas para o pagamento de juros, mas o teste real é estudar os efeitos que os juros têm. É importante destacar que quando algo é proibido por Deus, não significa que não exista absolutamente nada benéfico no item ou prática proibida. De fato, pode-se encontrar algo benéfico até em itens proibidos. Por exemplo, Deus diz no Alcorão sobre o álcool:
“Interrogam-te [Ó Muhammad]a respeito da bebida inebriante e do jogo de azar; Dize: Em ambos há benefícios e malefícios para o homem; porém, os seus malefícios são maiores do que os seus benefícios.” (Alcorão 2:219)
Assim, o ponto essencial não é se existe algo benéfico em determinada coisa, mas se o prejuízo supera seu benefício. Portanto, os economistas podem ser capazes de encontrar uma justificativa para pagamento de juros, mas isso definitivamente não supera os danos que os juros causam, como veremos nessa seção.
Mesmo que os juros fossem considerados algum tipo de pagamento a um fator de produção, eles têm características únicas que os destacam de pagamentos a qualquer outro fator de produção. Devido a essa natureza única, levam a alguns resultados perturbadores.
Primeiro, os juros levam a uma distribuição desigual de renda. Isso pode ser visto adotando o exemplo de três pessoas. Suponha que existem três pessoas que consomem todo seu rendimento em um determinado ano e ainda assim um deles começa com $ 1.000 em economias, um segundo com $ 100 e um terceiro com zero. A uma taxa de 10% de juros ao ano, no final do ano a primeira pessoa terá $ 1.100, a segunda $ 110 e a terceira terá zero em suas respectivas contas. Se o mesmo cenário acontecer no ano seguinte, a primeira pessoa terá $ 1.210, a segunda $ 121 e a terceira terá zero. Pode-se ver como a distribuição entre eles aumenta todo ano, mesmo entre os que têm suas próprias economias. Esse cenário piorará se a pessoa mais rica for capaz também de aumentar suas economias. Suponha que acrescenta mil no final de cada ano. Terá 1.100 no final do primeiro ano, acrescenta $ 1.000 e continua com seus 10% de juros e terá $ 2.310 no final do segundo ano e assim por diante. Seria uma coisa se esse dinheiro fosse pago devido algum fator positivo de produção, mas na realidade esse argumento não pode ser usado nesse caso. O dinheiro que as pessoas ganham através dos juros pode ter sido desperdiçado, perdido ou até roubado pelas pessoas que o tomaram emprestado, mas ainda assim se teria que pagar os juros. Pode ter sido investido em um projeto completamente fracassado e, consequentemente, não produziu nada. Mas nada disso importa, porque os juros têm que ser pagos independente de se aquele “fator de produção” produz alguma coisa ou não. Esse é simplesmente um dos aspectos únicos de dinheiro e pagamentos ao dinheiro. Ninguém pode argumentar que é justo e seus resultados são a distribuição desigual de dinheiro.
Além disso, a distribuição de renda se torna cada vez mais distorcida com o passar do tempo. Pode-se imaginar alguns indivíduos lidando com milhões, enquanto outros lidam com centenas ou milhares. Essa disparidade nos rendimentos de seus juros será de fato cada vez maior cada ano. Em outras palavras, levará a uma situação na qual o rico fica cada vez mais rico e o pobre fica relativamente mais pobre. Note que os que têm dívidas e pagam juros que crescem a cada ano não foram adicionados à equação. No caso deles os juros continuam a crescer e os seus rendimentos são consumidos mais e mais pelos juros, exacerbando ainda mais a distribuição desigual de renda.
Pode-se perguntar por que a distribuição desigual de renda deve ser considerada um assunto importante. Além dos efeitos psicológicos sobre os pobres, especialmente considerando os anúncios da mídia de massa que enfatiza a vida boa e a necessidade de consumir, existem efeitos muito importantes sobre o mercado como um todo. Em uma economia de mercado a produção girará em torno daqueles que têm dinheiro para pagar pela produção, independente do quanto outros bens podem ser necessários para a sociedade. Se o rico deseja, exige e está disposto a pagar muito dinheiro por utilitários e veículos a gasolina, eles serão produzidos (independente do quanto os conservacionistas podem reclamar). À medida que a distribuição de renda se torna cada vez mais distorcida, mais e mais recursos serão devotados para as demandas das classes mais ricas. Uma vez que os recursos são, de certa forma, “fixos”, isso significa que menos e menos será devotado às necessidades das classes mais pobres. Além disso, os menores recursos devotados aos bens que os pobres consomem reduzem a oferta e elevam os preços desses bens, prejudicando ainda mais a situação econômica geral dos pobres. Por exemplo, pode-se encontrar várias clínicas médicas cuidando dos ricos (que podem pagar esses tratamentos) mesmo que não os necessitem, como os vários locais para cirurgia plástica cosmética e assemelhados. Ao mesmo tempo, é muito difícil encontrar clínicas para os pobres e que atendam suas necessidades básicas. Se pudessem pagar mais por esses serviços essenciais em uma economia de mercado, com certeza se encontraria mais desses tipos de clínicas, mais recursos seriam devotados para os necessitados com um preço mais barato a longo prazo para aquilo que precisam. (Além disso, essa distribuição distorcida também tem fortes implicações para a saúde da democracia; entretanto, essa discussão está além do escopo desse trabalho.)
Em acréscimo, o fardo dos juros sobre os pobres que se endividam os coloca em uma situação na qual não podem avançar social ou economicamente, ampliando a lacuna entre ricos e pobres. A dívida em si é uma situação difícil para qualquer indivíduo. Entretanto, são os pagamentos de juros que fazem das dívidas um alvo em movimento, muitas vezes um que o indivíduo simplesmente não consegue acompanhar. É um fator de produção espúrio, mas funciona para permitir ao rico ficar mais rico, enquanto coloca um grande fardo sobre aqueles que se endividam. Talvez todos os leitores estejam familiarizados com o fato dos Estados Unidos, o país mais rico no mundo, ter se tornado uma sociedade devedora. Isso afligiu não apenas as classes mais baixas, mas muitos da classe média também. Alguns tristes indivíduos não percebem que se pagarem somente o mínimo em suas faturas de cartão de crédito, por exemplo, nunca pagarão sua dívida.[1] Mas, claro, são os mais pobres que são atingidos de forma mais dura. De fato, o sistema se volta contra eles uma vez que quanto mais pobre um indivíduo é, pior é sua classificação de crédito e mais alta é a taxa de juros que será forçado a pagar. Income, Debt and the Quest for Rich America: The Economic Tale of Small and Mid-Sized US Cities (“Renda, Débito e a Busca pela América Rica: A Lenda Econômica das Cidades Americanas de Pequeno e Médio Porte”, em tradução livre) de Mirza Shahjahan é um estudo de como a dívida e o fardo de seus juros correspondentes afligiu muito da “média América”.[2] A má situação dos fazendeiros de pequeno porte forçado a recorrerem a empréstimos devido aos preços mais baixos de sua produção foi bem documentada. Muitos deles empenharam seus preciosos pertences ou perderam suas fazendas que tinham estado em suas famílias por gerações simplesmente devido ao pagamento de juros que não puderam acompanhar. Shahjahan constatou que alguns dos pobres pagam mais de 15% de seu rendimento anual somente em juros (com a maioria pagando entre 8% e 12%) – sem mencionar o fardo de ligações e ameaças de seus credores que os pobres recebem com frequência. Nas conclusões Shahjahan afirma:
Os fardos monetários e reais da dívida mantiveram muitos devedores em uma luta de uma vida inteira para sanar suas dívidas. O tamanho médio da dívida de lares endividados para o período 1990-1993 foi $32.493, atingindo quase 100% da renda desses lares. Nossa estimativa da dívida per capita de cada família para 1990-1993 chega a $12.571. Uma dívida dessa magnitude, combinada com um emprego temporário e baixa renda, pode ser deprimente e produzir condições psicológicas esmagadoras.
Alguns pagamentos de juros excedem 15% de seus rendimentos. Esse custo alto de juros tem sido uma fonte de erosão significativa do rendimento familiar...
A maioria das residências – milhões em número – em cidades de médio porte lutam diariamente para atender suas necessidades básicas de vida. Milhares deles não conseguem prover uma vida decente para suas famílias ou pagar pela educação superior de seus filhos. Vivem e morrem em dívida. Essa situação os faz sentir que não vivem uma vida plena...
Essas famílias são pegas em uma situação de servidão econômica na qual as rotas de fuga mais óbvias estão bloqueadas por forças institucionais. Adquirir habilidades ou educação superior pode ser a chave que abre o caminho para a oportunidade real, mas educação superior é cara e fora do alcance da maioria das famílias nessas cidades. Essas famílias não têm oportunidade de se sobressaírem e não se qualificam para as posições que desejam. Essa é a natureza do sofrimento das famílias das classes trabalhadoras nas cidades de pequeno e médio porte de nossa nação.[3]
Footnotes:
[1] Shahjahan nota: “A maioria das famílias não está de fato consciente do nível de erosão de sua renda que resulta dos altos pagamentos de juros das dívidas pendentes.” Mirza Shahjahan, Income, Debt and the Quest for Rich America: The Economic Tale of Small and Mid-Sized US Cities (“Renda, Débito e a Busca pela América Rica: A Lenda Econômica das Cidades Americanas de Pequeno e Médio Porte”, em tradução livre) (Beltsville, MD: Writers’ Inc. International, 2000), p. 103.
[2] Shahjahan, passim.
[3] Shahjahan, pp. 224-236.
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