O que é Taoísmo? (parte 1 de 2): Uma introdução
Descrição: O que, onde, quando e por que do Taoísmo.
- Por Aisha Stacey (© 2015 IslamReligion.com)
- Publicado em 28 Dec 2015
- Última modificação em 28 Dec 2015
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O Taoísmo é uma antiga tradição chinesa de filosofia e crença religiosa também conhecida como Daoísmo, que se diz ser a maneira mais precisa de dizer a palavra chinesa em português. O Tao (em Taoísmo) é geralmente traduzido como "o caminho". É muito difícil estimar o número de taoístas no mundo, especialmente no continente da China, onde a religião foi banida sob a severa norma comunista. Entretanto, as estimativas vão de 30 a 300 milhões somente na China. Acredita-se que existam mais de 30 milhões de taoístas em Taiwan, Macau e Hong Kong e populações menores espalhadas pelo Vietnã, Coreia, Laos e Tailândia. Estima-se que nos EUA e no Reino Unido existam populações de taoístas de aproximadamente 30.000 cada. Embora seja uma religião pouco conhecida fora da Ásia, seus adeptos compõem uma proporção bem significativa da população mundial do século 21.
E apesar de sabermos muito pouco sobre a filosofia e as crenças filosóficas do Taoísmo, é improvável que não tenhamos sido influenciados por uma ou mais práticas taoístas. É a filosofia / religião responsável pela acupuntura, feng shui, o popular símbolo do yin e yang, Zen e da arte marcial Tai Chi. A influência do Taoísmo também pode ser vista na medicina chinesa à base de ervas muito na moda e na prática da meditação.
A origem do Taoísmo é obscura. Os primeiros ensinamentos são geralmente atribuídos a Lao Tzu que, no século quinto AEC escreveu o influente texto taoísta, o Dao De Jing (O caminho e seu poder). Enquanto a única outra filosofia chinesa popular na época, o Confucionismo, enfatizava a ação ética, o Taoísmo encorajava a virtude de Wu Wei (não ação) ou ir com o fluxo. O poder do vazio, do desapego, da receptividade, da espontaneidade, a força da suavidade, o relativismo dos valores humanos e a busca por uma vida longa são outros temas taoístas. O taoísta proficiente estava preocupado na época com alcançar a imortalidade e isso levou ao desenvolvimento da alquimia e de métodos de meditação.
O Taoísmo forneceu uma alternativa para a tradição confuciana na China e as duas tradições têm coexistido facilmente, algumas vezes dentro do mesmo indivíduo. Entretanto, com o passar dos séculos o Taoísmo se viu em competição direta com o Budismo. Para sobreviver o Taoísmo incorporou práticas budistas e folclore chinês antigo, para criar uma dimensão religiosa que se adequa aos preceitos filosóficos dos primeiros professores. O Taoísmo original e mais filosófico inspirou pintores e poetas chineses através dos tempos.
Conceitos, crenças e práticas taoístas
De acordo com os taoístas o Tao é o princípio absoluto inerente ao universo e combina dentro de si os princípios de yin e yang. Significa o caminho ou código de comportamento. O poder do Caminho é chamado de Te. O Tao, dizem, flui por toda a vida e um crente se empenha para se harmonizar com essa força. No que diz respeito aos taoístas, o Ser Supremo ou verdade final está além de palavras ou entendimento conceitual. Isso é semelhante às ideias de outras religiões sobre Deus, mas os taoístas raramente se referem a ou usam a palavra Deus. Entretanto, o Taoísmo tradicional não acredita na existência de um Criador. Era não-teísta e os ensinamentos de Lao Tzu nunca deram a impressão de que o Tao ou (Caminho) pudesse em qualquer circunstância ser considerado como Deus.
Os taoístas não reconhecem o tema de bem contra o mal, mas veem a interdependência de todas as dualidades e, por isso, o conceito de opostos yin e yang. Qualquer ação tem algum aspecto negativo (yin) e algum positivo (yang). Assim, quando se rotula algo como bom, automaticamente se cria o mal.[1] Os taoístas também não aceitam a dualidade de salvação versus danação. Não há conceito de paraíso ou inferno e o objetivo final é retornar ao Tao - a força de vida universal. Viver simplesmente em harmonia com o Tao e não buscar excessivamente riqueza material, estatura ou prestígio, levará a uma vida feliz.
Os taoístas acreditam que existem Três Joias com as quais todo taoísta deve viver - compaixão, moderação e humildade. O aspecto religioso do Taoísmo é politeísta. Existe uma variedade de deidades, e acredita-se que cada uma seja uma manifestação de algum aspecto do Tao. Os taoístas, entretanto, não oram para essas deidades, elas não são personificadas e nem podem resolver nenhum dos problemas da vida. Os taoístas resolvem os problemas por meio de meditação e observação.
O coração do ritual taoísta é o conceito de trazer ordem e harmonia para o cosmos como um todo. Os rituais taoístas envolvem purificação, meditação e oferendas para as muitas deidades. Os detalhes dos rituais são geralmente muito complexos e técnicos e, portanto, normalmente deixados ao encargo de sacerdotes. A congregação desempenha um papel pequeno. Os rituais envolvem os sacerdotes (e assistentes) cantando, dançando e tocando instrumentos (em particular instrumentos de sopro e percussão). O Taoísmo também envolve várias práticas físicas, exercícios de respiração, massagens, artes marciais, ioga e meditação. São designados para transformar uma pessoa mental e fisicamente e levá-las a harmonia com o Tao.
O Taoísmo, o Confucionismo e o Budismo são as três religiões mais dominantes entre os chineses. Todas têm histórias longas e coloridas e todas em algum momento ou outro foram consideradas como filosofia, ao invés de como uma religião. O Taoísmo está em uma posição única ao ser uma filosofia que foi capaz de adotar aspectos religiosos derivados dos costumes folclóricos chineses e, assim, satisfazer a todos os adeptos e candidatos a adeptos.
Na parte dois aprofundaremos um pouco mais a informação sobre as três joias do Taoísmo e perguntaremos se esses são ou não os únicos aspectos do Taoísmo em comum com o Islã. Também discutiremos o conceito de Deus no Taoísmo com um pouco mais de profundidade e o compararemos com o monoteísmo do Islã.
Notas de rodapé:
[1] (http://www.beliefnet.com/Faiths/Taoism/What-Do-Taoists-Believe.aspx?p=7#ixzz1tOXjJXT7)
O que é Taoísmo? (parte 2 de 2): Virtudes comuns não formam uma conexão religiosa
Descrição: Uma breve comparação entre as crenças do Taoísmo e do Islã.
- Por Aisha Stacey (© 2015 IslamReligion.com)
- Publicado em 28 Dec 2015
- Última modificação em 28 Dec 2015
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Compaixão, moderação e humildade. Essas são as três joias ou atributos com as quais os taoístas observam para ter uma vida boa e que vale a pena. São as mesmas características morais valorizadas pelos muçulmanos. As primeiras três joias (algumas vezes conhecidas como tesouros) é ci, literalmente compaixão, ternura, amor, misericórdia, gentileza ou benevolência. Também é um termoclássico chinês para mãe. A segunda é jian, literalmente moderação, economia, comedimento, ser regrado. O terceiro tesouro é uma frase de seis caracteres chineses, ao invés de uma única palavra: Bugan wei tianxia xian. É traduzida como humildade, mas realmente significa mais que isso. De acordo com a sabedoria taoísta é uma forma de evitar morte prematura. Estar na frente do mundo é se expor, se tornar vulnerável às forças destrutivas do mundo, enquanto que permanecer para trás e ser humilde é se permitir tempo para colher plenamente os frutos.
Vejamos como isso se compara com as mesmas virtudes ensinadas no Islã. A coisa mais importante a notar é que compaixão é a primeira e é uma palavra ligada com a palavra chinesa clássica para mãe. Sabemos que no Islã Deus é conhecido como O Misericordioso. O dicionário define misericórdia como disposição a gentileza e perdão e o sentimento que motiva compaixão. O termo árabe para misericórdia érahmah e a palavra árabe para útero,raheem, é derivada da mesma palavra raiz. É significativo que exista uma conexão única entre a misericórdia de Deus e o útero. Deus nos nutre e abriga, assim como o útero nutre e abriga a criança não nascida. A conexão entre misericórdia, compaixão e maternidade é óbvia tanto no termo islâmico rahmah e na joia taoísta, compaixão.
E sobre moderação? É claramente uma virtude importante no Taoísmo, mas e no Islã? Em conformidade com a abordagem holística da vida no Islã, tudo deve ser feito com moderação. Não há razão ou desculpa para comportamento extremo ou fanático. O Alcorão se refere aqueles que verdadeiramente seguem o Islã como a comunidade do caminho do meio.
"E, deste modo, (ó muçulmanos), contribuímos-vos em uma nação de centro..." (Alcorão 2:143)
A terceira joia, a humildade, também é uma virtude altamente louvável no Islã. Entretanto, o Islã enfatiza que a humildade é uma característica que nos levará a uma vida abençoada para sempre, enquanto que o Taoísmo parece colocar uma grande ênfase sobre a humildade nessa vida para uma vida plena. Ibadahé a palavra árabe para adoração, mas a raiz da palavra ubudiyyah significa expressar humildade ou simplicidade. É o sentido completo de simplicidade que toma conta de quem está totalmente submetido à vontade de Deus, o Todo-Poderoso. Adoração é submissão a Deus e a parte essencial da submissão é a humildade. Assim, somos capazes de ver que as virtudes essenciais do Taoísmo e do Islã são virtualmente as mesmas. Não é surpresa, porque a maioria das religiões enfatiza a necessidade de altos padrões morais e comportamento virtuoso.
Os locais para atividades taoístas são chamados palácios taoístas (gong) ou templos (guan). Os taoístas geralmente preferem construir seus templos em montanhas e florestas serenas, mas à medida que se espalhou mais e mais templos foram construídos em áreas urbanas. Cada um deles passou a abrigar um grande número de estátuas de deidades e imortais. Isso nos leva a fazer uma pergunta essencial: o que exatamente o Taoísmo diz sobre a base da crença islâmica, a unicidade de Deus? Como o Taoísmo vê Deus? Existe algum conceito de Deus na religião do Taoísmo. Entretanto, como aprendemos na parte 1, embora os taoístas aceitem a necessidade de um ser supremo, acreditam que seja além da compreensão humana.
Consequentemente, o Taoísmo aceita o conceito de Deus. Entretanto, de acordo com A Personal Tao (Um Tao Pessoal), "Essa pergunta é irrelevante. Deus pode ou não existir e, qualquer que seja o estado, não muda a forma como levamos nossas vidas. Nossas vidas são expressões de ação entre nós mesmos e o universo. Respeitar o ambiente que nos cerca é um aprofundamento do respeito a nós mesmos. Essa maneira de viver não muda, independente da natureza de Deus ou o Tao".[1] Na parte 1 tocamos ligeiramente no fato de que o Taoísmo foi capaz de abraçar outras filosofias e religiões existentes na China, porque é possível praticar o Taoísmo ao mesmo tempo com outras religiões. Muitos budistas chineses também são taoístas. Entretanto, isso levou a um politeísmo único no Taoísmo que não existia quando foi praticado pela primeira vez.
Há uma hierarquia de deuses e imortais no Taoísmo. No topo da hierarquia estão o Venerável Celestial do Início Primordial, o Venerável Senhor Celeste do Tesouro do Espírito Coletivo e o Venerável Senhor Celeste do Caminho e da Virtude. Abaixo deles estão os deuses de níveis mais baixos que recebem responsabilidades de acordo com suas realizações. O mais elevado entre eles é o Imperador de Jade, seguido pelas quatro maiores deidades e outros seres celestiais e imortais. Deidades e imortais diferentes têm responsabilidades diferentes. Entre os mais conhecidos estão os seres celestiais encarregados do vento, chuva, trovão, raio, água e fogo, o Deus da Fortuna, o Deus da Cozinha, o Deus da Cidade e o Deus da Terra.[2]
A idolatria e o politeísmo não têm lugar no Islã, nem os muçulmanos acreditam que seja possível praticar mais de uma religião ao mesmo tempo. Embora existam semelhanças especialmente na área de comportamento virtuoso, elas não conectam as duas religiões de forma alguma. Os muçulmanos acreditam em um Deus Único e incomparável, Que sozinho é o Todo-Poderoso, o Criador, o Soberano e o Provedor de tudo em todo o universo. Somente Ele deve ser adorado e somente para Ele devemos dirigir nossas súplicas e direcionar todos os atos de adoração. Ele não precisa de nada de Sua criação, mas sim Sua criação que depende Dele para todas as suas necessidades. O Islã dá um propósito claro de vida e deu leis que levam uma pessoa a uma vida bem-sucedida e feliz nesse mundo e bênção eterna na Outra Vida.
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