A Primeira Migração (parte 1 de 2): Ligados pelo amor ao profeta Jesus
Descrição: O profeta Muhammad envia um pequeno grupo de muçulmanos para a Etiópia.
- Por Aisha Stacey (© 2015 IslamReligion.com)
- Publicado em 12 Jan 2015
- Última modificação em 01 Sep 2019
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A Etiópia é um país que a maioria de nós sabe pouco a respeito. Você pode reconhecer o nome, mas sabe que é um dos países na região conhecida como Chifre da África? É a segunda nação mais populosa na África e frequentemente sujeita a fome severa. A região que agora chamamos de Etiópia foi antes conhecida como Abissínia. Também foi anteriormente conhecida como Reino de Axum e considerada por Mani (216–276 CE)[1] como um dos quatro grandes poderes de seu tempo, junto com Pérsia, Roma e China. Axum permaneceu um império forte e um poder comercial até o surgimento do Islã no século 7. Entretanto, ao contrário das relações entre os poderes islâmicos e a Europa cristã, Axum estava em bons termos com seus vizinhos islâmicos. Para os muçulmanos a Etiópia era sinônimo de estar livre de perseguição e medo.
Nos primeiros anos do Islã os muçulmanos eram perseguidos e torturados pelas famílias que governavam Meca. Havia até casos de pessoas maltratando membros de suas próprias famílias. Entre os novos convertidos ao Islã estavam os pobres e os fracos, que eram incapazes de aguentar a dor e fome que eram forçados a passar. Para protegê-los e à sua religião recém-fundada, o profeta Muhammad, que Deus o exalte, enviou aproximadamente 80 pessoas, inclusive uma de suas próprias filhas, para a Etiópia. Esse evento é conhecido como a primeira Hégira (migração).
O rei da Etiópia, às vezes conhecido como Negus e possivelmente um dos últimos governantes do império de Axum, era conhecido por ser um homem justo e confiável. Era um cristão com profundas convicções religiosas. O profeta Muhammad acreditava que seus seguidores seriam bem cuidados se migrassem para um país cuja religião fosse o Cristianismo - uma religião baseada em escritura e cujo profeta era Jesus, filho de Maria. Os migrantes partiram em sua viagem arriscada carregando com eles uma carta de apresentação para o rei. O que se segue é uma tradução daquela carta.
Começo com o nome de Deus, o Clemente, o Misericordioso, de Muhammad, o Mensageiro de Deus para Negus Al-Asham, rei da Abissínia (Etiópia).
Que a paz esteja sobre você, louvo a Deus e testemunho que Jesus, filho de Maria, é o servo de Deus. Foi criado pelo comando de Deus e Maria, a virgem, a boa, a pura, concebeu Jesus. Como Deus criou Adão, criou Jesus. Eu o chamo para Deus, o Único sem parceiro, e à Sua obediência, e a seguir-me e acreditar no que veio para mim, porque sou o mensageiro de Deus.
Envio a você meu primo Jafar com vários muçulmanos e quando chegarem peço que os entretenha e os receba. Que a paz esteja sobre todos que seguem a Verdadeira Orientação.
Quando os governantes de Meca ouviram sobre a migração, se apressaram a enviar seus próprios emissários para a corte etíope. Temiam que se um governante desse as boas-vindas aos muçulmanos credenciaria à nova religião e legitimaria suas crenças. Planejaram convencer o rei a expulsar os muçulmanos dando-lhe presentes e espalhando fofocas e calúnias sobre a nova religião e os imigrantes. Entretanto o rei era um homem sábio, nobre e justo e estava preparado para encontrar e ouvir ambos os grupos.
Os dois delegados de Meca reiteraram suas acusações. Disseram: "Sua Majestade, sabe bem que um grupo de tolos se tornaram renegados e receberam asilo em seu país. Não abraçaram sua religião, mas ao contrário inventaram a própria religião que nenhum de nós conhece. Somos pessoas de alta posição relacionadas aos pais, tios e tribos deles e pedimos que nos entregue esses renegados."
O rei então perguntou ao grupo de muçulmanos por que tinham escolhido essa nova religião, ao invés de aderir à religião de seus antepassados ou abraçar a religião estabelecida do Cristianismo. Jafar, o filho de Abu Talib e primo do profeta Muhammad, levantou-se para falar em nome dos imigrantes e do Islã. Ele disse:
Ó sua majestade, costumávamos ser um povo de ignorância. Adorávamos ídolos, comíamos animais mortos, cometíamos grandes pecados, cortávamos os laços familiares e o mais forte entre nós abusava do fraco. Éramos assim até que Deus enviou dentre nós um profeta que era conhecido por sua descendência nobre, sua honestidade, confiabilidade e decência. Ele nos convidou a adorar somente a Deus e a nos abstermos de adorar pedras e ídolos. Ele nos ordenou a não falar nada além da verdade e a retornar o que nos foi confiado a quem de direito. Além disso, nos ordenou manter os laços familiares intactos, sermos bons com nossos vizinhos e nos abster do que é proibido. Também nos ordenou a não fazer o mal, não fazer declarações falsas, não nos apropriarmos da propriedade dos órfãos, não acusar mulheres castas de infrações sem prova ou testemunha. Ele nos comandou a adorar somente a Deus , sem associar nada a Ele e a orar, dar zakat e jejuar.
Acreditamos nele e na mensagem de Deus para ele. Adoramos somente a Deus. Rejeitamos o que costumávamos associar com Ele como Seus parceiros. Consideramos ilícito o que ele nos disse que é ilícito e lícito o que ele nos disse que é lícito. Somente por essa razão nosso povo nos atacou, torturou e nos forçou a deixar nossa religião. Pretendem fazer com que revertamos à adoração de ídolos, ao invés de louvar a Deus. Querem que consideremos lícitas as más ações que costumávamos fazer no passado. Quando nos torturaram e nos cercaram e ficaram entre nós e nossa religião, partimos para o seu reino, escolhendo-o porque precisamos de sua proteção. Esperamos ser tratados de forma justa enquanto estivermos aqui, ó rei!
O rei ouviu essa troca com paciência e atenção e quando os mecanos e os muçulmanos tinham falado, ele se voltou para Jafar e disse: "Você tem algo do que foi enviado de Deus para seu profeta?" O que aconteceu em seguida fez o rei e seus bispos chorarem até que suas barbas ficassem ensopadas de lágrimas e aprenderemos sobre o que foi na parte 2.
Notas de rodapé:
[1] O fundador do Maniqueísmo, uma religião gnóstica do fim da antiguidade que já foi muito difundida, mas agora está extinta.
A Primeira Migração (parte 2 de 2): Um termo comum entre nós e vós
Descrição: Um refúgio para os primeiros muçulmanos e uma conversão secreta.
- Por Aisha Stacey (© 2015 IslamReligion.com)
- Publicado em 19 Jan 2015
- Última modificação em 19 Jan 2015
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"Para aqueles que praticam o bem neste mundo haverá uma recompensa. A terra de Deus é vasta! Aos perseverantes, ser-lhes-ão pagas, irrestritamente as suas recompensas!" (Alcorão 39:10)
Os muçulmanos frequentemente dizem para os de fé cristã: "Também amamos Jesus." Os muçulmanos têm profunda afeição pelo profeta Jesus como têm por todos os profetas de Deus. Esse ponto ficou óbvio para o rei da Etiópia e fez com que o rei, seus sacerdotes e possivelmente outros em sua corte compreendessem o quanto as duas religiões, o Islã e o Cristianismo, eram próximas.
"... mais próximos do afeto dos crentes são os que dizem: "Somos cristãos!" Porque possuem sacerdotes e não ensoberbecem de coisa alguma." (Alcorão 5:82)
Vamos revisitar o que aprendemos na parte 1. No quarto ano de sua missão profética o mensageiro de Deus Muhammad, que Deus o exalte, enviou um pequeno grupo de muçulmanos para a Etiópia. Entre eles estavam os convertidos mais fracos à nova religião. O profeta Muhammad acreditava que o rei da Etiópia, por ser um cristão devoto, daria santuário ao seu povo e os trataria com compaixão. Os líderes de Meca, entretanto, se recusaram a permitir que os novos muçulmanos encontrassem alívio e correram para enviar seus próprios emissários para caluniá-los e difamá-los.
O rei, que era sábio e justo, assegurou-se de ouvir ambos os lados do debate. Quando cada lado havia declarado seu caso, ele pediu para ouvir algo da recitação enviada de Deus. Jafar recitou os versículos de abertura do capítulo 19 do Alcorão, chamado Mariam em honra à mãe de Jesus. A seguir está uma pequena parte de Mariam.
(O anjo) disse:‘Eu sou apenas um mensageiro de seu Senhor, (para te anunciar) a dádiva de um filho virtuoso.’ Ela disse:‘Como hei de ter um filho, se nenhum homem me tocou e nunca fui mundana?’Ele disse:"Ele disse, ‘Assim será,’ teu Senhor disse:Certamente isso é fácil para Mim.E (Nós desejamos) apontá-lo como um sinal para a humanidade e misericórdia de Nossa parte. Este é um assunto decretado (por Deus). E quando concebeu, retirou-se, com um rebento a um lugar afastado." (Alcorão 19:19-22)
O rei e os que estavam com ele chegaram às lágrimas. Lágrimas silenciosas rolaram por seus rostos e encharcaram suas barbas. As palavras sublimes do Alcorão amoleceu seus corações, como já havia feito em Meca. A maioria das pessoas na corte etíope não compreendia o árabe, mas ainda assim a eloquência e sutileza do Alcorão as emocionou. As palavras foram então traduzidas para elas. Nesse ponto na história é fascinante perceber que Deus descreveu os cristãos como aqueles cujas lágrimas transbordam quando ouvem a verdade.
E, ao escutarem o que foi revelado ao Mensageiro, tu vês lágrimas a lhes brotarem nos olhos; reconhecem naquilo a verdade. Dizem:"Senhor nosso! Inscreve-nos entre os testemunhadores!" (Alcorão 5:83)
O rei foi vencido e exclamou: "Parece que essas palavras e aquelas que foram reveladas para Jesus vêm da mesma fonte." Voltando-se para os enviados mecanos, disse: "Não entregarei esses refugiados a vocês. Eles são livres para viver e adorar como quiserem sob minha proteção." Isso não agradou ou satisfez os mecanos. A missão deles era desacreditar os muçulmanos e, em consequência, a religião do Islã. Os mecanos levaram adiante outro plano para destruir a nova religião e em uma tentativa patética de influenciar o rei, declararam que os muçulmanos falavam sobre Jesus de maneira desrespeitosa.
Depois de ouvir o Alcorão era improvável que o rei desse muito crédito a essa afirmação, mas ele chamou os muçulmanos novamente à sua presença e perguntou sobre a crença deles em Jesus. Jafar respondeu de forma honesta e imediata. "Nossa crença em Jesus se apoia no que nosso profeta nos disse sobre ele. Jesus é um servo e mensageiro de Deus que foi criado pelo comando de Deus." Ao ouvir isso o rei declarou que essa descrição de Jesus não diferia daquela de sua própria crença cristã. O resultado foi que os mecanos deixaram a Etiópia em desgraça, enquanto que os muçulmanos viveram em paz e segurança por vários anos, antes de retornarem para Meca.
Vários anos depois o profeta Muhammad escreveu cartas para governantes diferentes em todo o mundo convidando-os a aceitar o Islã como sua religião. Entre os primeiros líderes que receberam a carta estava o rei da Etiópia. O que se segue é uma tradução aproximada daquela carta.
Começo com o nome de Deus, o Clemente, o Misericordioso, de Muhammad, o Mensageiro de Deus para Negus Al-Asham, rei da Abissínia (Etiópia).
A paz esteja com aquele que segue a orientação certa e crê em Deus e Seu mensageiro. Testemunho que não existe divindade merecedora de adoração exceto Allah. É único e não tem parceiros. Não tem esposa ou descendência. E Muhammad é Seu servo e mensageiro.
Eu o convido a aceitar o Islã. Convido a você e seu exército a se voltarem para Allah, Que é merecedor de todo o respeito e estima. Tenho assim cumprido meu dever de transmitir Sua mensagem e conselho. Se a aceitar, que a paz esteja sobre os seguidores da orientação.
"Ó Povo do Livro: Vinde, para chegarmos a um termo comum, entre nós e vós: Comprometamo-nos, formalmente, a não adorar senão a Deus, a não Lhe atribuir parceiros e a não nos tomarmos uns aos outros por senhores, em vez de Deus." (Alcorão 3:64)
O rei recebeu a carta com grande respeito e aceitou o Islã, apesar da objeção de sua família e da Igreja. Respondeu à carta dizendo: "Ó profeta de Deus, tive a honra de ler sua estimada carta. Juro por Deus que Jesus não é nada além do que você descreveu. Testemunho que é um verdadeiro profeta de Deus e fiz um voto de aliança a Deus e Seu profeta. Se assim ordenar, me apresentarei a você. Que a paz e as bênçãos de Deus estejam sobre você."
Acreditamos muito nesse capítulo final da história do rei da Etiópia, porque quando foi revelado ao profeta que o rei, a quem ele nunca encontrou, havia morrido, o profeta ofereceu a primeira oração fúnebre in absentia por ele.
A história do rei da Etiópia é pequeno retrato no tempo. Ensina sobre as maneiras e diplomacia entre o profeta Muhammad e os nobres governantes da época. Lança luz sobre a proximidade das duas religiões, Cristianismo e Islã. O profeta Muhammad sabia que os cristãos verdadeiramente devotos estavam, e continuam a estar, a apenas um passo da religião do Islã. A eloquência do Alcorão é capaz de penetrar os corações de quem Deus escolher guiar e a religião do Islã é aberta a todos, rei ou plebeu, rico ou pobre, negro ou branco.
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