A História do Alcorão (parte 3 de 4): Uma Revelação bem Preservada e Protegida
Descrição: Como as palavras de Deus vieram a ser compiladas em livro.
- Por Aisha Stacey (© 2012 IslamReligion.com)
- Publicado em 18 Jun 2012
- Última modificação em 17 Jun 2012
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“Nós revelamos a Mensagem e somos o Seu Preservador.” (Alcorão 15:9)
Quando Deus revelou Suas palavras de orientação para toda a humanidade - o Alcorão - Ele garantiu que o preservaria. Uma das formas nas quais foi preservado foi que os homens, mulheres e crianças ao redor do profeta Muhammad memorizaram o Alcorão, prestando muita atenção a cada palavra. Nos primeiros dias do Islã a ênfase era na memorização, mas logo aqueles que tinham se tornado mestres na arte de ler e escrever começaram a registrar as palavras do Alcorão em qualquer material de escrita disponível. Escreviam em pedras planas, cascas de árvore, ossos e até em peles de animais.
À medida que as palavras de Deus eram reveladas ao profeta Muhammad, que a misericórdia e bênçãos de Deus estejam sobre ele, pelo anjo Gabriel, diz-se que ele chamava um escriba para registrar as palavras quando começavam a fluir de seus lábios. O principal escriba era um homem chamado Zaid Ibn Thabit. Muitos companheiros relataram que o profeta Muhammad chamava Zaid dizendo “que ele traga a tábua, o pote de tinta e a omoplata.” [1] Na vida do profeta o Alcorão existiu em pedaços de material escrito, ao invés de em forma de livro.
Uma das razões porque o Alcorão não estava em forma de livro era porque não tinha sido revelado em ordem. Os capítulos e versículos foram revelados em um período de 23 anos, geralmente em resposta a acontecimentos na vida e momentos da primeira comunidade muçulmana. Entretanto, a ordem dos capítulos e versículos do Alcorão era conhecida pelo profeta Muhammad. Quando o anjo Gabriel revelava as palavras divinas de Deus, também dava instruções a quais versículos e capítulos pertenciam.
O Alcorão foi registrado sob a supervisão direta do profeta Muhammad. Uthman, um dos companheiros mais próximos do profeta, lembrava que “quando algo lhe era revelado, o profeta Muhammad chamava alguém entre os que costumavam escrever para ele e dizia “coloque os versículos no capítulo na qual isso e isso é mencionado” e se somente um versículo fosse revelado, ele dizia “coloque esse versículo nesse capítulo.”” [2]
Assim, na época da morte do profeta pedaços do Alcorão eram mantidos em confiança por muitos membros da comunidade muçulmana. Alguns tinham apenas umas poucas páginas das quais tinham aprendido a recitar e outros, como os escribas, tinham vários capítulos. Outros ainda tinham pedaços de cascas de árvore ou couro de animal contendo apenas um versículo.
Durante a época de Abu Bakr, o homem escolhido para liderar a nação muçulmana depois da morte do profeta Muhammad, a comunidade muçulmana se viu em uma época de guerra civil. Falsos profetas surgiram e muitas pessoas desnorteadas, incapazes de manter a fé sem o profeta Muhammad, deixaram o Islã. Batalhas e escaramuças ocorreram e muitos dos homens que tinham memorizado o Alcorão perderam suas vidas.
Abu Bakr temia que o Alcorão se perdesse e então consultou alguns dos companheiros mais antigos sobre compilar o Alcorão em um único livro. Pediu a Zaid ibn Thabit para supervisionar a tarefa. A princípio Zaid não se sentiu confortável fazendo algo que o profeta Muhammad não tinha especificamente autorizado. Entretanto, concordou em coletar pedaços do Alcorão, tanto escrito quanto memorizado e compilar um livro - o Mushaf. Nas tradições do profeta Muhammad encontramos a própria lembrança de Zaid ibn Thabit de como aconteceu a compilação do Alcorão.[3]
“Abu Bakr me procurou quando as pessoas de al-Yamamah foram mortas [ou seja, vários companheiros do profeta que combatiam o falso profeta Mussailima]. Fui até ele e encontrei Umar ibn al-Khattab sentado com ele. Abu Bakr então me disse: “Umar veio dizer que as perdas foram pesadas, entre aqueles que sabiam o Alcorão de cor. Temo que perdas mais pesadas possam ocorrer em outros campos de batalha e uma grande parte do Alcorão seja perdida. Portanto, sugiro que você (Abu Bakr) ordene que o Alcorão seja compilado.”
Disse a Umar: “Como pode fazer algo que o mensageiro de Deus não fez?” Umar disse: “Por Deus, é uma coisa boa.” Umar continuou me incentivando a aceitar sua proposta até que Deus abriu meu coração e comecei a compreender o bem contido na ideia. Então Abu Bakr disse (para mim). “Você é jovem e sábio, não temos qualquer suspeita a seu respeito e você costumava registrar a inspiração divina para o mensageiro de Deus. Então busque por fragmentos do Alcorão e compile-os em um livro.”
“Por Allah (Deus), se tivessem me ordenado a mover uma das montanhas, não teria sido mais pesado para mim do que isso (a ordem para compilar o Alcorão). Então eu disse a Abu Bakr: “Como pode fazer algo que o mensageiro de Deus não fez?”Abu Bakr respondeu: “Por Deus, é uma coisa boa.” Abu Bakr continuou me incentivando a aceitar sua ideia até que Deus abriu meu coração para o que tinha aberto os corações de Abu Bakr e Umar. Consequentemente, comecei a procurar pelo Alcorão e a coletá-lo do que estava escrito em folhas de palmeira, pedras claras e também de homens que o sabiam de cor, até que o tinha compilado por inteiro.
Zaid tinha memorizado todo o Alcorão e tinha sido o escriba mais confiável do profeta Muhammad; portanto, teria sido possível para ele escrever o Alcorão inteiro a partir de sua própria memória. Entretanto, ele não usou somente esse método. Foi muito cuidadoso e metódico em sua compilação do Alcorão e não registrava nenhum versículo a menos que tivesse sido confirmado por pelo menos dois dos companheiros do profeta Muhammad.
Assim, o Alcorão foi escrito e compilado em forma de livro. Permaneceu com Abu Bakr até sua morte e então passou para Umar Ibn al Khattab. Depois da morte de Umar, foi confiado a sua filha Hafsa. Esse, entretanto, não é o fim da história do Alcorão. Na época de Uthman, o terceiro líder da nação muçulmana, o livro no qual o Alcorão (as palavras de Deus) estava contido, o Mushaf, foi padronizado. O Alcorão não foi mais escrito nos vários dialetos do árabe. Na parte 4 descobriremos como o Mushaf conhecido como o Alcorão de Uthman passou a existir.
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