Uthman Ibn Affan (parte 1 de 2): Generoso e devoto
Descrição: Como o terceiro sucessor do profeta Muhammad abraçou o Islã.
- Por Aisha Stacey (© 2013 IslamReligion.com)
- Publicado em 09 Dec 2013
- Última modificação em 09 Dec 2013
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Uthman ibn Affan foi o terceiro dos sucessores do profeta Muhammad. Era conhecido como o líder dos crentes e governou por aproximadamente 12 anos. Os primeiros seis anos foram tempos de relativa tranquilidade e paz. Entretanto, os últimos anos de seu reinado foram marcados por conflitos internos e focos de rebeldes tentando provocar estragos em todo o califado. Uthman é lembrado como um homem devoto, gentil e amável, conhecido por sua modéstia e timidez e admirado por sua generosidade. Governou com justiça imparcial e políticas humanas e amenas, baseadas em sua obediência a Deus e seu amor pelo profeta Muhammad e a nação muçulmana.
Uthman, que Deus esteja satisfeito com ele, nasceu sete anos depois do profeta Muhammad, que a misericórdia e bênçãos de Deus estejam sobre ele, e pertencia ao ramo omíada da tribo coraixita. Os omíadas eram o clã mais influente dos coraixitas. Eram os mais fortes e ricos e Uthman era sua “criança dourada”, o mais amado, devido às suas boas maneiras e timidez. Como seu predecessor Omar ibn Al Khattab, Uthman era capaz de ler e escrever. Essa não era uma habilidade comum na Arábia pré-islâmica e Uthman se tornou um comerciante bem-sucedido e negociante de roupas. Durante toda sua vida foi conhecido como um homem amável e generoso e mesmo antes de sua conversão ao Islã distribuía dinheiro para ajudar os necessitados.
Foi seu amigo próximo Abu Bakr quem introduziu Uthman ao Islã, que abraçou a nova religião com a idade de trinta e quatro anos. Foi durante os primeiros anos do Islã, quando os homens de Meca estavam sistematicamente insultando e torturando quaisquer convertidos ao Islã. Apesar dos insultos Uthman não abriu mão de seu Islã e com o tempo casou-se com a filha do profeta Muhammad, Ruqiayah, fortalecendo assim sua relação com o profeta.
Os insultos e tortura continuaram e a riqueza da família de Uthman e o status na sociedade como negociante não o protegeram. Foi insultado e torturado até por membros de sua própria família; seu tio algemou suas mãos e pés e o fechou em um quarto escuro. O mau tratamento contínuo por seus familiares próximos levou Uthman e sua esposa a participar na primeira migração para a Abissínia. O profeta Muhammad louvou seu caráter paciente e disse: “Depois de Ló, Uthman é o primeiro homem que, com sua esposa, abriu mão do conforto de sua casa por causa de Deus.” Depois de algum tempo Uthman e Ruqiayah retornaram à Meca para estar com os muçulmanos em luta e seu amado pai e profeta.
Uthman formou uma relação muito próxima com o profeta Muhammad e obteve conhecimento intrincado sobre a religião do Islã. Narrou 146 tradições diretamente do profeta e foi uma das pouquíssimas pessoas que foram capazes de registrar o Alcorão por escrito. Uthman também se tornou um ponto de referência para os que tentavam aprender os rituais de adoração. Compreendia e era capaz de instruir os demais nos rituais de ablução, oração e outras obrigações islâmicas. Uthman também participou na migração para Medina e lá auxiliou o profeta Muhammad no estabelecimento da nação muçulmana. O profeta Muhammad até se referia a ele como seu assistente.
Em Medina a água era escassa e o controle dos poços era rigorosamente mantido por vários homens. Como era um comerciante e negociador habilidoso, Uthman se empenhou em tentar comprar um poço para o uso dos muçulmanos. Negociou um preço pela metade de um poço; teria controle um dia e o outro proprietário no dia seguinte. Entretanto, Uthman dava sua água aos muçulmanos gratuitamente e, então, ninguém queria pagar pela água nos dias alternados. O proprietário original do poço não teve alternativa a não ser vender sua metade do poço para Uthman que, entretanto, pagou um preço justo por ele. Uthman continuou permitindo que a água fosse usada livremente por todos e nunca lembrava o povo de sua caridade. Era humilde e modesto.
Uthman distribuiu livremente de sua fortuna para agradar a Deus e Seu mensageiro Muhammad. Relatos históricos islâmicos mencionam que toda sexta-feira Uthman comprava escravos com o propósito de libertá-los e que, embora fosse rico, geralmente era visto sem servos por causa desse hábito. Quando o profeta Muhammad e as tropas muçulmanas estavam indo combater os bizantinos em Tabuk, conclamou os mais ricos a contribuírem de sua fortuna e bens para apoiar e equipar os soldados. Uthman apresentou 200 camelos selados e 200 onças de ouro. Também deu 1.000 dinares. O profeta Muhammad continuou pedindo doações na esperança de inspirar outros a doar tão livremente quanto Uthman. Entretanto, foi Uthman quem ultrapassou todos eles e deu um total de 900 camelos equipados.[1]
O retrato que fizemos de Uthman é o de um homem generoso, despretensioso e amável. Era conhecido por sua humildade, modéstia e devoção. Uthman frequentemente passava as noites em oração e era conhecido por jejuar com frequência, às vezes em dias alternados. Apesar de sua fortuna, vivia de forma simples e geralmente dormia envolvido em um cobertor na areia da mesquita. Uthman foi designado como o terceiro líder dos muçulmanos após o profeta Muhammad por um conselho de seis homens. Continuou o governo justo e humano do profeta Muhammad, Abu Bakr e Omar. Cuidou dos muçulmanos e expandiu o califado islâmico até o Marrocos, Afeganistão e Azerbaijão. Por seis anos seu reino foi de paz e calmaria, mas os ventos da mudança estavam soprando sobre o império.
Uthman ibn Affan, como seus predecessores, era um homem do povo. Era modesto, tímido e humilde, mas ainda assim seu reinado foi marcado por insurreições e rebeliões. Deus havia escolhido Uthman para ser o terceiro líder, mas o povo da dissensão planejou removê-lo de sua nobre posição. O profeta Muhammad havia profetizado que Uthman seria colocado em uma situação muito difícil quando disse: “Talvez Deus venha a vesti-lo com uma túnica Uthman e se as pessoas quiserem tirá-la de você, não a remova por elas.” Uthman não removeu sua túnica, seu amor por Deus e seu mensageiro o manteve forte e humilde em face da velhice e extremas dificuldades.
Uthman Ibn Affan (parte 2 de 2): O Possuidor de Duas Luzes
Descrição: A vida e os trabalhos estimulantes do terceiro líder muçulmano.
- Por Aisha Stacey (© 2013 IslamReligion.com)
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Uthman Ibn Affan[1] era um homem tão amado pelo Profeta, que a misericórdia e bênçãos de Deus estejam sobre ele, que era chamado o possuidor de duas luzes. Uthman foi casado com a filha do profeta Muhammad, Ruqiayah, e quando ela morreu ele se casou com outra filha de Muhammad, Umm Kulthum, possuindo assim duas luzes.
Uthman Ibn Affan foi nomeado Califa (líder da nação muçulmana) através de um processo de consulta e deliberação cuidadosa. Em seu leito de morte Omar ibn Al Khattab nomeou um conselho de seis homens para escolher um novo líder. Era uma época de confusão e caos para os muçulmanos, pequenos desentendimentos estavam se tornando obstáculos. Algumas pessoas queriam apontar Ali ibn Abu Talib porque era da família do profeta Muhammad, enquanto outros queriam apontar Uthman porque era de uma das grandes tribos de Meca. Ibn Kathir, o respeitado sábio muçulmano do século 14 sugere que o líder do conselho, Abdu Rahman ibn Awf sabatinou a ambos e então escolheu Uthman.
Abdurrahman perguntou a Ali: “Jura governar pelo glorioso livro de Deus (Alcorão) e a Sunnah (tradições) de Seu mensageiro?” Ao que ele respondeu: “Espero agir de acordo com meus melhores conhecimentos e capacidade.” Quando Abdurrahman fez a Uthman a mesma pergunta, ele simplesmente respondeu: “Juro”. Seria muito simplista sugerir que a decisão foi feita exclusivamente pela resposta a essa pergunta, mas foi parte de um processo de reflexão e deliberação. Ambos estavam entre os vários que eram eminentemente qualificados para liderar a nação muçulmana. Uthman era um homem conhecido por ser devoto, generoso e modesto. Talvez sua resposta simples tenha refletido sua personalidade. Um homem tímido de poucas palavras, mas cujo coração estava cheio de amor a Deus e Seu mensageiro.
Imediatamente após ser eleito, Uthman Ibn Affan dirigiu-se ao povo do púlpito anteriormente usado pelo profeta Muhammad. Olhou para os muçulmanos e louvou a Deus, enviou bênçãos sobre o profeta Muhammad e relembrou as pessoas que esse mundo estava cheio de ilusão. Aconselhou as pessoas a abandonar as vidas de luxo e buscar um lugar na outra vida, cheio de felicidade e paz.
“Expõe-lhes o exemplo da vida terrena, que se assemelha à água, que enviamos do céu, a qual se mescla com as plantas da terra, as quais se convertem em feno, que os ventos disseminam. Sabei que Deus prevalece sobre todas as coisas. Os bens e os filhos são o ornamento da vida terrena. Mas as boas ações, perduráveis, são mais meritórias e mais esperançosas, aos olhos do teu Senhor.” (Alcorão 18:45-46)
Uthman era um homem devoto que amava e confiava em Deus completamente e, assim, sua primeira ação como líder foi assegurar às pessoas que as guiaria de acordo com o modo do profeta e dos califas Abu Bakr e Omar ibn Al Khattab. Uthman estava completando 70 anos quando se tornou líder dos muçulmanos e por muitos anos estava se abstendo dos prazeres desta vida para buscar proximidade com Deus. Depois de estabelecer um tom de devoção e preocupação para os muçulmanos que seria a marca registrada de seu reinado, Uthman voltou sua atenção para orientar os governadores e os exércitos muçulmanos.
Para os governadores Uthman expressou seu desejo de que servissem ao povo e nunca explorá-lo. Enviou companheiros proeminentes do profeta Muhammad como seus representantes pessoais às províncias, para escrutinar a conduta dos funcionários do governo e a condição do povo. Uthman lembrou os exércitos de seguirem as orientações claras estabelecidas por Omar ibn Al Khattab e pediu a eles que nunca esquecessem que estavam defendendo os crentes. Conquistas extensas foram feitas durante o reinado de Uthman, incluindo partes da Espanha, Marrocos e Afeganistão. Uthman também foi o primeiro califa a organizar uma marinha de guerra. Reorganizou as divisões administrativas do califado muçulmano, expandiu e iniciou muitos projetos públicos. Talvez a contribuição mais impressionante de Uthman para os muçulmanos tenha sido a compilação do Alcorão.
O Alcorão de Uthman
Após a morte do profeta Muhammad e durante o tempo dos califas, centenas de milhares de não-árabes se converteram ao Islã. Consequentemente, o Alcorão começou a ser recitado e escrito em vários dialetos e escritas diferentes. Durante uma viagem um dos companheiros do profeta Muhammad e amigo de Uthman, Hudhaifah, notou que havia muitas recitações diferentes do Alcorão no califado islâmico. Hudhaifah sugeriu a Uthman que houvesse uma versão oficial escrita no estilo usado na cidade de Medina.
Uthman sabia o Alcorão de cor e tinha profundo conhecimento do contexto e circunstâncias relacionados a cada versículo. O Alcorão tinha sido compilado durante a época de Abu Bakr e mantido sob a guarda da esposa do profeta, Hafsah. Uthman tomou posse dos originais e ordenou a alguns dos companheiros mais confiáveis que fizessem cópias cuidadosas. Então ordenou que todas as outras cópias não oficiais fossem queimadas ou destruídas. Cinco cópias oficiais foram enviadas para as maiores cidades do califado islâmico. Cópias originais existem até hoje em Tashkent, Uzbequistão, e no Palácio Topkapi em Istambul, Turquia.
Um fim trágico
Os seis anos finais do reinado de Uthman foram marcados por rebeliões. Alguns dos governadores que tinham sido nomeados durante o reinado de Uthman eram desajeitados e até certo ponto injustos. Dessa forma as sementes da discórdia se espalharam e muitas pessoas começaram a amar os luxos da vida contra os quais Uthman tinha alertado. Surgiram conspirações e foi difícil para Uthman distinguir o amigo do inimigo. Estava relutante em derramar sangue de qualquer muçulmano, por mais rebelde que pudesse ser. Uthman preferiu persuadir com gentileza e generosidade porque sempre se lembrava das palavras do profeta Muhammad. “Uma vez que a espada seja desembainhada entre meus seguidores, não será embainhada até o Último Dia.”
Os rebeldes convocaram Uthman a renunciar e, de fato, muitos companheiros o aconselharam a fazê-lo. Uthman, agora um homem idoso com mais de 80 anos, ouviu as palavras de seu amado profeta ecoando em seus ouvidos e se recusou a renunciar de sua posição. “Talvez Deus venha a vesti-lo com uma túnica Uthman e se as pessoas quiserem tirá-la de você, não a remova por elas.” Uthman permaneceu fiel à sua aliança, mas depois de um longo certo os rebeldes invadiram sua casa e o assassinaram. Quando a espada do assassino o atingiu, Uthman estava recitando o seguinte versículo:
“Deus ser-vos-á suficiente contra eles, e Ele é o Oniouvinte, o Sapientíssimo.” (Alcorão 2: 137)
Esse foi o fim trágico de um dos homens mais devotos, gentis e altruístas no Islã.
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