Imprecisão bíblica e João 3:16 (parte 1 de 5)
Descrição: Uma análise do famoso versículo bíblico "Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu seu único filho, para que aquele que nele crê não pereça mas tenha vida eterna.” Parte 1: A confiabilidade do evangelho de João.
- Por Laurence B. Brown, MD
- Publicado em 22 May 2017
- Última modificação em 29 May 2022
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Para muitos o debate cristão-muçulmano revolve em torno da questão da imprecisão bíblica. Sou um dos muitos autores que abordaram esse tópico em tudo, desde pequenos panfletos a livros inteiros. Para o propósito desse artigo, entretanto, gostaria de focar em apenas um exemplo da escritura - um versículo que lança luz em muitos assuntos e argumentos pertinentes.
Cristãos evangélicos - como pilar de sua religião - apresentam João 3:16: "Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu seu único filho, para que aquele que nele crê não pereça mas tenha vida eterna." Esse é o versículo que se vê promovido em tudo desde camisetas e adesivos de Tim Tebow e cartazes no esporte e outros eventos públicos.
Qual é o encanto de João 3:16? Bem, os cristãos evangélicos querem que acreditemos que esse versículo promete à humanidade uma salvação sem esforço, baseada somente na crença cristã - que chama de redenção pela fé. Mas, como sabemos, a beleza ou apelo de uma proposta não a torna verdadeira. Posso propor muitas ideias maravilhosas, mas uma pessoa seria tola em acreditar nelas sem verificar a validade.
Então, vamos fazer isso com João 3:16 - vamos dar uma olhada de perto e ver se devemos acreditar nele. Se for verdadeiro, a salvação barata que oferece deveria ser o negócio de uma vida. Por outro lado, se nada apoiar sua validade, seríamos loucos em arriscar nossa salvação em "escritura" falsa.
Para começar, quem é o autor desse "livro" do Novo Testamento ou escrito individual da escritura cristã chamada "João"? O discípulo? Contrário ao que podemos esperar, não. Bart D. Ehrman nos diz: "Mateus, Marcos, Lucas e João não escreveram os evangelhos."[1] Além disso, "Dos vinte e sete livros do Novo Testamento, somente oito quase que certamente voltam ao autor do qual carregam o nome: as sete inquestionáveis cartas de Paulo (Romanos, Coríntios 1 e 2, Gálatas, Filipenses, Tessalonicenses 1 e Filemon) e o Apocalipse de João (embora não estejamos certos de quem era esse João)."[2]
O famoso estudioso da Bíblia, Graham Stanton, concorda: "Os evangelhos, ao contrário dos escritos greco-romanos, são anônimos. Os títulos familiares que dão o nome de um autor ("O evangelho de acordo com...") não eram parte dos manuscritos originais, porque foram adicionados somente no início do século dois."[3] Adicionados por quem? "Por figuras desconhecidas na igreja primitiva. Na maioria dos casos os nomes são adivinhações ou, talvez, o resultado de desejos piedosos."[4] Dificilmente o níveo de precisão escolástica esperado de um livro de revelação.
O fato de que "O evangelho segundo João" não foi escrito por João, o discípulo, não é de conhecimento comum entre os leigos. Entretanto, Ehrman nos diz: "A maioria dos estudiosos hoje abandonaram essas identificações e reconhecem que os livros foram escritos por cristãos desconhecidos, mas relativamente bem-educados que falavam (escreviam) em grego, durante a segunda metade do primeiro século."[5]
Várias fontes reconhecem que não há evidência, além de testemunhos questionáveis de autores do segundo século, para sugerir que o discípulo João foi o autor do evangelho de "João".[6],[7] Além disso, Atos 4:13 nos diz que João era "iletrado". Em outras palavras, ele era analfabeto.
Stanton apresenta essa pergunta convincente: "A decisão final de aceitar Mateus, Marcos, Lucas e João foi correta? Hoje em geral há um consenso de que nem Mateus e nem João foram escritos por um apóstolo. E que Marcos e Lucas podem não ter sido associados dos apóstolos."[8]
O professor Ehrman é mais incisivo: "Estudiosos críticos estão muito unidos hoje no pensamento de que Mateus não escreveu o primeiro evangelho e nem João escreveu o quarto, de que Pedro não escreveu Pedro 2 e possivelmente nem Pedro 1. Nenhum outro livro do Novo Testamento alega ser escrito por um dos discípulos terrenos de Jesus."[9] Por que, então, nossas Bíblias rotulam os quatro evangelhos como Mateus, Marcos, Lucas e João? Alguns estudiosos sugerem algo semelhante à marca - o termo moderno de publicidade para a prática comercial de solicitar o endosso de uma celebridade para vender um produto.[10] Os cristãos do século dois que favoreceram esses quatro evangelhos tinham uma escolha - reconhecer a autoria anônima dos evangelhos ou falsificá-la. O blefe se tornou irresistível e escolher atribuir os evangelhos a autoridades apostólicas, dando uma "marca" autoritativa aos evangelhos de maneira ilegítima.
No fim, não temos evidência de que qualquer livro da Bíblia, incluindo os evangelhos, tenham autoria dos discípulos de Jesus. Além disso, a maioria dos estudiosos aceita a autoria de Paulo somente na metade dos trabalhos atribuídos a ele. Independentemente de quem foi o autor do que, corrupções e inconsistências resultaram em mais variantes do manuscrito do que palavras no Novo Testamento! Por último, até mesmo estudiosos de criticismo textual não chegam a um acordo.[11] Por que? Porque "considerações dependem, veremos, de probabilidades e às vezes o crítico textual deve pesar um conjunto de probabilidades em relação a outro."[12] Além disso, com relação a problemas textuais mais complexos, "as probabilidades são divididas de maneira muito mais uniforme e os críticos às vezes devem se contentar com escolher a leitura menos inadequada ou até admitir que não há base clara para qualquer escolha."[13]
Ampliando esse pensamento, "Ocasionalmente nenhuma das leituras variantes se qualificará como original e alguém [ou seja, um crítico textual] será compelido a escolher a leitura que é considerada a menos inadequada ou ceder a correção conjectural."[14] Hmm. Correção conjectural, correção conjectural - não é conversa de estudioso para "bom palpite"?
Então talvez não devamos nos surpreender que, assim como Jeremias lamentou as "penas falsas" dos escribas do Velho Testamento, o padre da igreja do século três, Origen, lamentou as "penas falsas" dos escribas do Novo Testamento: "As diferenças entre os manuscritos se tornaram grandes, seja por meio de negligência de alguns copistas ou por meio da audácia perversa de outros. Negligenciavam a verificação do que tinham transcrito ou, no processo de checagem, faziam adições ou deleções a bel prazer."[15] Essa era uma voz de um pai da igreja do século três, comentando logo nos primeiros duzentos anos de Cristianismo. Temos que nos perguntar o quanto a situação piorou desde então. E isso será tema do próximo artigo nessa série.
Sobre o autor:
Laurence B. Brown, MD, é autor de vários artigos e livros e seu website oficial
é www.leveltruth.com onde também pode ser contatado na página "Contato".
Notas de rodapé:
[1] Ehrman, Bart D. 2009. Jesus, Interrupted. HarperOne. p. 5.
[2] Ehrman, Bart D. Jesus, Interrupted. p. 112.
[3] Stanton, Graham N. 1989. The Gospels and Jesus. Oxford University Press. p. 19.
[4] Funk, Robert W., Roy W. Hoover, and the Jesus Seminar. The Five Gospels: The Search for the Authentic Words of Jesus. p. 20.
[5] Ehrman, Bart D. 2005. Lost Christianities. Oxford University Press. p. 235.
[6] Kee, Howard Clark (Notes and References by). 1993. The Cambridge Annotated Study Bible, New Revised Standard Version. Cambridge University Press. Introduction to gospel of "John."
[7] Butler, Trent C. (General Editor). Holman Bible Dictionary. Nashville: Holman Bible Publishers. Sob "João, o evangelho de."
[8] Stanton, Graham N. pp. 134–135.
[9] Ehrman, Bart D. Lost Christianities. p. 236.
[10] Ibid., p. 235.
[11] Metzger, Bruce M. A Textual Commentary on the Greek New Testament. Introduction, p. 14.
[12] Ibid., p. 11.
[13] Metzger, Bruce M. e Ehrman, Bart D. The Text of the New Testament: Its Transmission, Corruption, and Restoration. p. 316.
[14] Ibid., p. 343.
[15] Metzger, Bruce M. 1963. "Explicit References in the Works of Origen to Variant Readings in New Testament Manuscripts," em J. N. Birdsall e R. W. Thomson (ed.), Biblical And Patristic Studies In Memory Of Robert Pierce Casey. Herder: Frieburg. pp. 78–79.
Imprecisão bíblica e João 3:16 (parte 2 de 5)
Descrição: Uma análise do famoso versículo bíblico "Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu seu único filho, para que aquele que nele crê não pereça mas tenha vida eterna.” Parte 2: Afirmações de estudiosos da Bíblia sobre a autenticidade e preservação da Bíblia.
- Por Laurence B. Brown, MD
- Publicado em 22 May 2017
- Última modificação em 22 May 2017
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Nesse artigo continuamos nossa análise da imprecisão bíblica, tomando como exemplo o versículo famoso, João 3:16: "Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu seu único filho, para que aquele que nele crê não pereça mas tenha vida eterna."
Algo que perturba muitos leitores é por que os tradutores da Bíblia usam letras maiúsculas para pronomes que se referem a Jesus Cristo. Colocar maiúsculas em "ele" e "dele" no meio de uma frase quando se refere a Jesus Cristo, mas não quando se refere a outras pessoas, baseia-se em preconceito doutrinário e não em convenção literária. Como diz o provérbio latino: Corruptio optimi pessima: O melhor, quando corrompido, torna-se o pior.
A decisão de colocar em maiúsculas "ele" e "dele" em referência a Jesus Cristo não tem base nos manuscritos fundamentais. O grego koiné, a língua a partir da qual o Novo Testamento foi predominantemente traduzido, não tem letras maiúsculas (ver New Catholic Encyclopedia. Vol 13, p. 431). Assim, os não tão originais manuscritos gregos a partir dos quais a Bíblia é traduzida, não se referem a Jesus Cristo em letras maiúsculas. Ao contrário, os tradutores da Bíblia colocaram maiúsculas em "ele" e "dele" para ficarem em conformidade com as convicções doutrinárias de "fazer Jesus parecer Deus". As maiúsculas na tradução da Bíblia são mais resultado de convicção religiosa do que de precisão escolástica, concebidas mais por conta da doutrina do que da fidelidade às narrativas bíblicas. Para um exemplo gritante, compare Mateus 21:9 com Salmos 118:26. Salmos 118:26 escreve "aquele" com minúsculas: "Bendito aquele que vem em nome do Senhor;" Entretanto, quando Mateus 21:9 cita Salmos 118:26 se referindo a Jesus como o "aquele" que "vem em nome do Senhor", os tradutores da Bíblia convenientemente convertem o "aquele" em minúsculas do Salmos 118:26 para um "Ele" em maiúsculas, em um esforço de fazer Jesus parecer divino. Caso alguém queira dar desculpas, esse não é um erro tipográfico. Mateus 23:39 duplica o exagero. Essa manipulação textual é gritante, indicando claramente que alguém desonrou o texto.
Alguns podem defender a Bíblia por essa ser uma corrupção muito pequena. Mas qualquer grupo que adota a Bíblia como um livro de orientação se vê encurralado pelo alerta bíblico de que "quem é injusto no mínimo, também é injusto no muito" (Lucas 16:11) Como, então, essa citação se aplica aos escribas e tradutores da Bíblia? Por que se sendo injustos no que é mínimo significa que são, de acordo com sua própria escritura, "também injustos no muito", como podemos confiar no resto de seu trabalho?
Um problema é que a Bíblia apresenta opiniões diferentes e as pessoas podem elaborar uma miríade de religiões em torno dela. E, de fato, é exatamente o que elas têm feito. Campos teológicos diferentes têm divergido sobre quais livros devem ser incluídos na Bíblia. Um apócrifo de um campo é escritura de outro. Mesmo entre os livros que foram canonizados, as muitas variantes dos textos fontes carecem de uniformidade. Essa falta de uniformidade é tão onipresente que The Interpreter’s Dictionary of the Bible afirma: "É seguro dizer que não há uma frase no NT na qual o MS [manuscrito] seja todo uniforme."[1]
O fato é que existem mais de 5.700 manuscritos gregos de todo ou parte do Novo Testamento.[2] Além disso, "dois desses manuscritos são exatamente iguais em todos os seus particulares... E algumas dessas diferenças são significativas."[3] Leve em conta aproximadamente dez mil manuscritos da Vulgata, acrescente muitas outras variantes antigas (ou seja, siríaca, copta, armênia, georgiana, etíope, núbia, gótica, eslava) e temos muitos manuscritos que não se correspondem em lugares críticos e que até se contradizem, às vezes. Os estudiosos estimam o número de variantes de manuscritos em centenas de milhares, alguns estimam que cheguem a 400.000.[4] Nas palavras agora famosas de Bart D. Ehrman: "Possivelmente seja mais fácil colocar a questão em termos comparativos: existem mais diferenças em nossos manuscritos do que existem palavras no Novo Testamento."[5]
Como isso aconteceu não importa aqui. O que é importante é que as inconsistências nos manuscritos fundamentais são tão prevalentes e profundas que conclusões religiosas baseadas na Bíblia só podem ser vistas pelas lentes de ceticismo saudável. Considere o fato de que nenhum dos manuscritos originais sobreviveu ao período cristão primitivo.[6] [7] Os manuscritos completos mais antigos (Vatican MS. No. 1209 e o Códice Sinaítico) datam do século quatro, trezentos anos depois do ministério de Jesus. Mas os originais se perderam. E as cópias dos originais? Também se perderam. Nossos manuscritos mais antigos, em outras palavras, são cópias das cópias das cópias de ninguém-sabe-quantas cópias dos originais.
O que é, claro, apenas uma razão para serem diferentes.
Erros de cópia não seriam surpresa nas melhores mãos. Entretanto, pela admissão dos estudiosos do Cristianismo, os manuscritos do Novo Testamento não estavam nas melhores mãos. Durante o período das origens cristãs os escribas eram destreinados, incompetentes, não eram confiáveis e, em alguns casos, eram analfabetos.[8] Aqueles com dificuldades visuais podem ter cometido erros com letras e palavras parecidas, enquanto que aqueles que tinham problemas de audição podem ter errado ao registrar a escritura, já que era lida em voz alta. Com frequência os escribas estavam sobrecarregados de trabalho e, portanto, inclinados aos erros que acompanham a fadiga.
Nas palavras de Metzger e Ehrman: "Uma vez que a maioria, se não todos, [os escribas] devem ter sido amadores na arte de copiar, um número relativamente grande de erros entrou em seus textos enquanto eles os reproduziam."[9] Pior ainda, alguns escribas permitiram que o preconceito doutrinário influenciasse sua transmissão da escritura.[10] Como Ehrman afirma: "Os escribas que copiaram os textos os modificaram."[11] Mais especificamente: "O número de alterações deliberadas feitas no interesse da doutrina é difícil de avaliar."[12] E ainda mais especificamente: "Na linguagem técnica do criticismo textual - que retenho por suas ironias significativas - esses escribas "corromperam" seus textos por razões teológicas."[13]
Os erros foram introduzidos na forma de adições, deleções, substituições e modificações, mais comumente de palavras ou linhas, mas ocasionalmente de versículos inteiros.[14] [15] De fato, "várias mudanças e acréscimos entraram no texto",[16] com o resultado de que "todas as testemunhas conhecidas do Novo Testamento são em maior ou menor medida textos misturados, e mesmo vários dos primeiros manuscritos não estão livres de erros graves."[17]
Em Misquoting Jesus, Ehrman apresenta evidência persuasiva de que a história da mulher pega em adultério (João 7:53-8:12) e os últimos doze versículos de Marcos não estão nos evangelhos originais, mas foram adicionados posteriormente por escribas.[18] Além disso, esses exemplos "representam apenas dois de milhares de lugares nos quais os manuscritos do Novo Testamento foram mudados pelos escribas."[19]
De fato, livros inteiros da Bíblia foram forjados.[20] Isso não significa que seu conteúdo esteja necessariamente errado, mas certamente também não significa que esteja correto. O que podemos dizer com certeza é que essas fraquezas fazem com que a Bíblia não seja confiável como preservação da revelação divina.
Então, quais livros foram forjados? Efésios, Colossenses, 2 Tessalonicenses, 1 e 2 Timóteo, Tito, 1 e 2 Pedro e Judas - nove dos vinte e sete livros e epístolas do Novo Testamento - são suspeitos de alguma forma.[21] Muitos dos livros remanescentes têm autoria desconhecida ou anônima. Até os autores dos evangelhos são desconhecidos, por mais incrível que pareça.[22]
A lista continua e os interessados em explorar esse tópico podem fazê-lo em qualquer um dos muitos livros que focam nesse assunto, incluindo o meu.
Sobre o autor:
Laurence B. Brown, MD, é autor de vários artigos e livros e seu website oficial é www.leveltruth.com onde também pode ser contatado na página "Contato".
Notas de rodapé:
[1] Buttrick, George Arthur (Ed.). 1962 (1996 Print). The Interpreter’s Dictionary of the Bible. Volume 4. Nashville: Abingdon Press. pp. 594-595 (Under Text, NT).
[2] Ehrman, Bart D. 2005. Misquoting Jesus. HarperCollins. P. 88.
[3] Ehrman, Bart D. 2003. Lost Christianities. Oxford University Press. P. 78.
[4] Ehrman, Bart D. Misquoting Jesus. P. 89.
[5] Ehrman, Bart D. The New Testament: A Historical Introduction to the Early Christian Writings. 2004. Oxford University Press. P. 12.
[6] Ehrman, Bart D. Lost Christianities. P. 49.
[7] Metzger, Bruce M. 2005. A Textual Commentary on the Greek New Testament. Deutsche Bibelgesellschaft, D—Stuttgart. Introduction, p. 1.
[8] Ehrman, Bart D. Lost Christianities and Misquoting Jesus.
[9] Metzger, Bruce M. e Ehrman, Bart D.The Text of the New Testament: Its Transmission, Corruption, and Restoration. P. 275.
[10] Ehrman, Bart D. Lost Christianities. P. 49, 217, 219-220.
[11] Ehrman, Bart D. Lost Christianities. P. 219.
[12] Metzger, Bruce M. e Ehrman, Bart D.The Text of the New Testament: Its Transmission, Corruption, and Restoration. P. 265. Veja também Ehrman, Orthodox Corruption of Scripture.
[13] Ehrman, Bart D. 1993. Orthodox Corruption of Scripture. Oxford University Press. P. xii.
[14] Ehrman, Bart D. Lost Christianities. P. 220.
[15] Metzger, Bruce M. A Textual Commentary on the Greek New Testament. Introduction, p. 3.
[16] Metzger, Bruce M. A Textual Commentary on the Greek New Testament. Introduction, p. 10.
[17] Metzger, Bruce M. e Ehrman, Bart D.The Text of the New Testament: Its Transmission, Corruption, and Restoration. P. 343.
[18] Ehrman, Bart D. Misquoting Jesus. P. 62-69.
[19] Ehrman, Bart D. Misquoting Jesus. P. 68.
[20] Ehrman, Bart D. Lost Christianities. Pp. 9-11, 30, 235-6.
[21] Ehrman, Bart D. Lost Christianities. P. 235.
[22] Ehrman, Bart D. Lost Christianities. P. 3, 235. Veja também Ehrman, Bart D. The New Testament: A Historical Introduction to the Early Christian Writings. P. 49.
Imprecisão bíblica e João 3:16 (parte 3 de 5)
Descrição: Uma análise do famoso versículo bíblico "Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu seu único filho, para que aquele que nele crê não pereça mas tenha vida eterna.” Parte 3: Mais razões para duvidar da confiabilidade da Bíblia.
- Por Laurence B. Brown, MD
- Publicado em 29 May 2017
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O que se segue é um resumo do que cobrimos até agora nessa série de artigos:
1) Episódio 1: O evangelho conhecido como "João" quase que certamente não foi escrito pelo discípulo João;
2) Episódio 2: Os tradutores da Bíblia ilegitimamente usaram maiúsculas em "ele" em João 3:16 ("Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu seu único filho, para que aquele que nele crê não pereça mas tenha vida eterna"), para fazer Jesus parecer Deus;
3) Também no Episódio 2: A Bíblia não atende aos requisitos básicos de confiabilidade e, portanto, não satisfaz os padrões de escritura sagrada.
O último item nessa lista - número três - é crítico. Para dar credibilidade às alegações de João 3:16, a própria Bíblia tem que atender a análise crítica. É essa análise que continuo aqui. O artigo anterior foi mais escolástico. O que vem a seguir é mais bom senso.
Comecemos com o óbvio. Se a Bíblia é a palavra de Deus, então o que devemos fazer com os versículos que nos dizem que não são a palavra de Deus? Paradoxicamente, é precisamente isso que encontramos em 1 Coríntios 7:12: "Mas aos outros digo eu, não o Senhor:..." - indicando que o que se segue era do autor (nesse caso, Paulo) e não de Deus. Então, essa seção da Bíblia, pela própria admissão de Paulo, não é a palavra de Deus. 1 Coríntios 1:16 aponta que Paulo não conseguia lembrar se batizou alguém mais além de Crispo, Gaio e a casa de Estéfano. "Além disso, não sei se batizei alguém mais." Agora, isso parece Deus falando? Deus diria: "Paulo batizou Crispo, Gaio e a casa de Estéfano e pode ter havido outros. Mas foi há muito tempo e, bem, você sabe, muita coisa aconteceu desde então. Está tudo meio confuso para Mim agora"?
1 Coríntios 7:25–26 registra Paulo como tendo escrito: "Quanto às pessoas virgens, não tenho mandamento do Senhor, mas dou meu parecer como alguém que, pela misericórdia de Deus, é digno de confiança. Por causa dos problemas atuais, penso que é melhor o homem permanecer como está." (itálico meu). 2 Coríntios 11:17 lê: "O que digo, não o digo segundo o Senhor, mas como por loucura..." De novo, alguém acredita que Deus fala assim? Paulo admitiu que respondeu sem orientação de Deus e sem autoridade divina e que ele pessoalmente acreditava em si mesmo como confiável do ponto de vista divino em um caso, mas falando como louco em outro. Paulo justificou sua presunção de autoridade com as palavras "segundo o meu parecer, e também eu cuido que tenho o Espírito de Deus" (1 Coríntios 7:40). O problema é que muitas pessoas têm reivindicado o "Espírito de Deus", enquanto o tempo todo fazem coisas muito estranhas e desprovidas de Deus. Então, a confiança de Paulo deve ser admirada ou condenada? Entretanto, respondemos a essa pergunta que o ponto é que, enquanto a confiança humana oscila às vezes, não é o caso do Criador onisciente e todo‑poderoso. Deus jamais diria: "Eu suponho..." como Paulo.
Em essência, a Bíblia é sua própria pior crítica.
Se olharmos para a Bíblia como revelação, inclusive contando a história de Jesus Cristo, temos que nos perguntar por que ela é tão inconsistente. Por exemplo, quando celebridades morrem, suas palavras finais frequentemente são imortalizadas. Ainda assim, a Bíblia nos dá dois relatos diferentes das últimas palavras de Jesus - Lucas 23:46 afirma: "E, clamando Jesus com grande voz, disse: "Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito." E, havendo dito isto, expirou." Mas João 19:30 diz algo completamente diferente: "E, quando Jesus tomou o vinagre, disse: "Está consumado." E, inclinando a cabeça, entregou o espírito."
Essa é uma contradição clara e inegável.
O ensino mais famoso e respeitado de Jesus provalvemente é o Pai Nosso, que Mateus 6:9–13 registra como: "Pai nosso, que estás nos céus, santificado seja o teu nome; Venha o teu reino, seja feita a tua vontade, assim na terra como no céu; Dê-nos nosso pão de cada dia. E perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós perdoamos aos nossos devedores; E não nos conduzas à tentação; mas livra-nos do mal. "Porque teu é o reino, o poder e a glória para sempre. Amém." Mas Lucas 11:2–5 registra a mesma oração com algumas diferenças muito cruciais: "Pai nosso, que estás nos céus, santificado seja o teu nome; Venha o teu reino, Seja feita a tua vontade, assim na terra como no céu; Dá-nos cada dia o nosso pão cotidiano; E perdoe nossos pecados, como perdoamos todos que nos estão em dívida. E não nos conduzas à tentação; mas livra-nos do mal."
Hmm. A oração mais famosa de Jesus Cristo e os dois livros do Evangelho discordam. A discrepância é tão grande que The Jesus Seminar, um órgão de estudiosos bíblicos proeminentes, anunciou que a única palavra do Pai Nosso que pode ser diretamente atribuída a Jesus é "Pai" (Newsweek. 31 de Outubro, 1988. p. 80). Essa conclusão é surpreendente, porque não só abala uma das árvores mais aceitas na floresta da fé cristã, mas questiona a legitimidade da árvore em si.
Com relação à lei, o rabino Jesus ensinou a lei do Velho Testamento. Além disso, ensinou a lei que duraria (até que o céu e a terra terminem): "Não cuideis que vim destruir a lei ou os profetas: não vim abrogar, mas cumprir. Porque em verdade vos digo que, até que o céu e a terra passem, nem um jota [grego Iota - a nona letra do alfabeto grego] ou um til jamais passará da lei, sem que tudo seja cumprido" (Mateus 5:17–18). Acrescente a isso: "Se quiserem entrar na vida, mantenham os mandamentos" (Mateus 19:17). Então isso é o que Jesus ensinou. Agora, o que Paulo ensinou? Resposta: justificação pela fé - o conceito vão de que a crença em Jesus cancela os pecados de uma pessoa. Paulo não mudou apenas um jota ou um til. Não, ele cancelou a lei inteira: "E de tudo o que, pela lei de Moisés, não pudestes ser justificados, por ele [Jesus Cristo] é justificado todo aquele que crê" (Atos 13:39). Seria difícil de conceber uma afirmação categórica mais permissiva. Podemos facilmente imaginar a voz do grito público coletivo: "Por favor, queremosmais disto!" E aqui está: "Mas agora temos sido libertados da lei, tendo morrido [ou seja, sofrido] para aquilo em que estávamos retidos; para que sirvamos em novidade de espírito, e não na velhice da letra" (Romanos 7:6). Ou, se puder parafrasear livremente: "Mas agora digo a vocês para esquecerem a lei antiga, as inconveniências com as quais vivemos por tanto tempo, e vivermos a religião de nossos desejos, ao invés de pelos mandatos antigos e desconfortáveis da revelação." De acordo com Paulo, a lei de Deus era boa o suficiente para Moisés e Jesus, mas não para o resto da humanidade.
Aperte o botão "pular". Em lugar nenhum na Bíblia Jesus ensinou a Trindade. De fato, ele ensinou o tawhid (unidade divina). Leia Marcos 12:30, Mateus 22:37 e Lucas 10:27: "O primeiro de todos os mandamentos é, Ouça, Ó Israel; o Senhor nosso Deus é o único Senhor." Mas rapidamente os teólogos paulinos adotaram a Trindade.
Então, os ensinamentos mais importantes de Jesus - suas últimas palavras, sua oração, a unicidade de Deus e a lei de nosso Criador para a humanidade - estão todos cancelados na Bíblia por Paulo, ou por teólogos paulinos que seguiram o caminho dele. Quais dos ensinamentos de Jesus, precisamente, não foram contrariados na Bíblia?
A falta de confiabilidade é um problema tão comum, que a audiência não doutrinada não sabe no que acreditar: II Samuel 24:1 diz: "E a ira do SENHOR se tornou a acender contra Israel; e incitou a Davi contra eles, dizendo: "Vai, numera a Israel e a Judá."" Entretanto, I Crônicas 21:1 afirma: "Então Satanás se levantou contra Israel, e incitou Davi a numerar a Israel." Bem, o que era? O Senhor ou Satanás? Ambos os versículos descrevem o mesmo evento na história, mas um fala de Deus e o outro de Satanás. Existe uma ligeira (total) diferença. Se um livro de "escritura" não consegue diferenciar entre Deus e Satanás, a única coisa que sabemos com certeza é que não é uma revelação pura, inalterada.
Existem tantas contradições no Novo Testamento que autores têm devotado livros a esse assunto. Por exemplo, Mateus 2:14 e Lucas 2:39 diferem sobre se a família de Jesus fugiu para o Egito ou para Nazaré (na Palestina). Mateus 6:9-13 e Lucas 11:2-4 diferem sobre as palavras do Pai Nosso. Mateus 11:13-14, 17:11-13 e João 1:21 discordam sobre se João Batista era Elias.
As coisas pioram quando entramos na arena da alegada crucificação: Quem carregou a cruz - Simão (Lucas 23:26, Mateus 27:32, Marcos 15:21) ou Jesus (João 19:17)? Jesus estava vestindo um robe escarlate (Mateus 27:28) ou púrpura (João 19:2)? Os soldados romanos colocaram fel (Mateus 27:34) ou mirra (Marcos 15:23) em seu vinho? Jesus foi crucificado antes da terceira hora (Marcos 15:25) ou depois da sexta hora (João 19:14-15)? Jesus ascendeu no primeiro dia (Lucas 23:43) ou não (João 20:17)?
Essas são apenas algumas de uma longa lista de inconsistências bíblicas, mas elas sublinham a dificuldade em confiar no Novo Testamento como escritura. E se não podemos confiar na Bíblia como um todo, como podemos confiar em qualquer parte dela em particular como... João 3:16, na qual os cristãos baseiam sua salvação?
Sobre o autor:
Laurence B. Brown, MD, é autor de vários artigos e livros e seu website ofiicial é www.leveltruth.com onde também pode ser contatado na página "Contato".
Imprecisão bíblica e João 3:16 (parte 4 de 5)
Descrição: Uma análise do famoso versículo bíblico "Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu seu único filho, para que aquele que nele crê não pereça mas tenha vida eterna.” Parte 4: Uma discussão dos conceitos cristãos de sacrifício, expiação e redenção pela fé.
- Por Laurence B. Brown, MD
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A peça fundamental de João 3:16 e, nesse sentido, de todo o conceito cristão de redenção pela fé, é o sacrifício de expiação de Jesus Cristo. João 3:16 nos diz: "Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu seu único filho, para que aquele que nele crê não pereça mas tenha vida eterna." Por outro lado, um número enorme de Estudiosos da Religião dizem que isso não é verdade. Então, em quem devemos acreditar - na Bíblia ou Neles? Para começar, sabemos quem são Os Estudiosos, enquanto que não temos ideia de quem são os autores de quaisquer dos livros do Evangelho (como discutido na parte 1 dessa série). Segundo, os tradutores da Bíblia ilegitimamente colocaram maiúsculas em "ele" em João 3:16, para fazer com que Jesus parecesse Deus (como discutido na parte 2 dessa série). Se você está prestando atenção, notou que fiz a mesma coisa acima, colocando maiúsculas em "Estudiosos da Religião", "Eles" e "Os Estudiosos". Isso faz esses estudiosos parecerem especial, não faz? Mas essa é apenas uma forma com a qual os tradutores da Bíblia enganam sua audiência. Admito, fiz isso como um estratagema. Eles não.
Por último, o que apresentei até agora está em conformidade tanto com a razão quanto com o bom senso, ao contrário da Bíblia, que é inconsistente internamente e não confiável quando se trata de fatos (partes 2 e 3 dessa série).
Nesse episódio abordo os conceitos de sacrifício e expiação e a salvação sem esforço que as pessoas buscam, por meio do conceito cristão de redenção pela fé.
A base desse conceito reside na validade do Pecado Original - a doutrina da igreja de que as crianças nascem com a culpa do primeiro pecado de Adão, algo que sabemos ser falso, porque Jesus ensinou exatamente o contrário: "Deixem vir a mim as crianças e não as impeçam; pois o Reino dos céus pertence aos que são semelhantes a elas." (Mateus 19:14) Agora, como o "reino dos céus" pode ser delas, se as não batizadas estão destinadas ao inferno? Ou as crianças nascem com o pecado original ou estão destinadas ao reino dos céus. A igreja não pode ter as duas coisas. Ezequiel 18:20 registra: "O filho não levará a iniquidade do pai, nem o pai levará a iniqüidade do filho. A justiça do justo ficará sobre ele e a impiedade do ímpio cairá sobre ele" e Deuteronômio 24:16 repete o ponto. Esse é o Velho Testamento, mas não é mais velho que Adão! Se o pecado original data do início, com Adão e Eva, não encontraríamos a desautorização desse conceito em nenhuma escritura de qualquer época posterior!
Prosseguindo para o conceito da crença no autossacrifício de Jesus como suficiente para a salvação, Jesus refuta essa alegação da seguinte maneira: "Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus" (Mateus 7:21) e "Se queres, porém, entrar na vida (vida eterna, ou seja salvação), guarda os mandamentos" Mateus 19:17. "Tiago" estava em discordância com Paulo por causa dessa doutrina e ensinou a importância de trabalhos virtuosos: "Porque, assim como o corpo sem o espírito está morto, assim também a fé sem obras é morta" (Tiago 2:26).
Mas onde no Novo Testamento Jesus aconselhou seus seguidores de que podiam relaxar, porque em poucos dias ele pagaria o preço e todos poderiam ir para o paraíso com base em nada além de crença? Em lugar nenhum. E quando Jesus supostamente foi ressuscitado, por que não declarou a expiação? Por que não anunciou que tinha pago pelos pecados passados, presentes e futuros do mundo? Mas não o fez e devemos nos perguntar por que. Talvez a expiação não seja verdadeira? Talvez alguém tenha rabiscado sonhos e desejos nas margens da escritura?
Não seria a primeira vez.
Então, de onde veio a "Expiação", em primeiro lugar? E alguém ficaria surpreso ao ouvir o nome, "Paulo"? Outra doutrina questionável vindo da mesma fonte questionável? Assim parece. Atos 17:18 lê: "E alguns dos filósofos epicureus e estóicos contendiam com ele; e uns diziam: Que quer dizer este paroleiro? E outros: Parece que é pregador de deuses estranhos; porque lhes anunciava a Jesus e a ressurreição."
Paulo afirma diretamente ter concebido a doutrina da ressurreição, como se segue: "Lembra-te de que Jesus Cristo, que é da descendência de Davi, ressuscitou dentre os mortos, segundo o meu evangelho" (2 Timóteo 2:8). Com certeza, o conceito de Jesus Cristo morrendo pelos pecados da humanidade é encontrado nas epístolas de Paulo (por exemplo, Romanos 5:8–11 e 6:8–9) e em mais nenhum lugar. Mais lugar nenhum? Nem de Jesus? Nem dos discípulos? É possível que eles tenham negligenciado detalhes fundamentais nos quais se apoiam a fé cristã? Improvável.
Então, de um lado temos profetas de verdade, inclusive Jesus Cristo, ensinando a salvação pela adesão às leis de Deus como transmitidas por meio de revelação - ou seja, salvação pela fé e obras. No outro lado temos o desafiante, Paulo, prometendo uma salvação sem esforço, seguindo uma vida que não está restrita pelos mandamentos - em outras palavras, salvação somente pela fé.
O que Jesus dirá, podemos imaginar, ao retornar, quando encontra um grupo de seus "seguidores" preferindo a teologia Paulina ao invés de seus próprios ensinamentos? Talvez Jesus cite Jeremias 23:32: — "Eis que eu sou contra os que profetizam sonhos mentirosos, diz o Senhor, e os contam, e fazem errar o meu povo com as suas mentiras e com as suas leviandades; pois eu não os enviei, nem lhes dei ordem; e não trouxeram proveito algum a este povo, diz o Senhor."
Quando Jesus de fato retornar, podemos estar certos de ele não vai felicitar seus "seguidores" por jogarem fora tudo que ensinou e fazerem exatamente o oposto, com base na autoridade de Paulo.
No próximo episódio questionaremos por que os cristãos acreditam em João 3:16, em face de tanta evidência em contrário.
Sobre o autor:
Laurence B. Brown, MD, é autor de vários artigos e livros e seu website ofiicial é www.leveltruth.com onde também pode ser contatado na página "Contato".
Imprecisão bíblica e João 3:16 (parte 5 de 5)
Descrição: Uma análise do famoso versículo bíblico "Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu seu único filho, para que aquele que nele crê não pereça mas tenha vida eterna.” Parte 5: Mais razões por que não devemos acreditar em João 3:16.
- Por Laurence B. Brown, MD
- Publicado em 05 Jun 2017
- Última modificação em 04 Jun 2017
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Para recapitular, nos últimos quatro episódios dessa série discutimos o seguinte em relação João 3:16"Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu seu único filho, para que aquele que nele crê não pereça mas tenha vida eterna."
1)O evangelho conhecido como "João" quase que certamente não foi escrito pelo discípulo João;
2)Em João 3:16, como em todos os outros lugares na Bíblia, os tradutores ilegitimamente colocaram maiúsculas em "ele", para fazer com que Jesus parecesse Deus;
3)Como a Bíblia é inconsistente internamente e não confiável quando se trata de fatos, não atende aos requisitos básicos esperados de uma escritura sagrada;
4)A ideologia fundamental (a crucificação, ressurreição e o sacrifício da expiação) são tão falhos que não podemos de maneira razoável nos apoiar em João 3:16 (ou, na Bíblia como um todo) para a salvação.
O que nos traz para uma discussão de por que alguém acredita que João 3:16 é verdadeiro, com tanta evidência em contrário. O fato simples é que João 3:16 apela aos cristãos, verdadeiro ou não. Nos episódios anteriores nessa série, discuti apenas algumas falácias do conceito do sacrifício de expiação de Jesus. Deixei o melhor por último é aqui está: De acordo com a Bíblia, Deus não quer um sacrifício. Agora, deixemos de lado os argumentos do bom senso (que perdão não tem um preço; que uma pessoa não pode fazer expiação por outra; que se Deus tivesse querido, teria perdoado a humanidade somente com base nisso, etc.) e nos apoiarmos exclusivamente no fato de que a Bíblia nos diz que Deus não quer sacrifício, em primeiro lugar: Oséias 6:6 lê: "Porque eu quero a misericórdia, e não o sacrifício. " Esse é o Velho Testamento, mas Mateus 9:13 e 12:7 fazem referência a esse versículo e isso se aplica ao Novo Testamento também. Então, qual é o argumento? Que Deus precisava de um sacrifício que Ele nem quer? Esse conceito é problemático, no mínimo.
Existem muitas outras razões por que não devemos acreditar em João 3:16 e uma das melhores não é que não podemos acreditar em João 3:16, mas que não podemos estar certos sobre qualquer coisa no "evangelho de João". Apesar do fato de que ninguém saber quem é o autor de "João", o Jesus Seminar analisou as palavras atribuídas a Jesus no evangelho de João e "foram incapazes de encontrar um único dito que pudessem rastrear com certeza ao Jesus histórico... As palavras atribuídas a Jesus no Quarto Evangelho são, na maioria, a criação do evangelista."[1] Agora, por que "o evangelista" faria tal coisa? Nos é dito a razão: "Os seguidores de Jesus estavam inclinados a adotar e adaptar suas palavras para suas próprias necessidades. Isso os levou a inventar contextos narrativos baseados em suas próprias experiências, nas quais importaram Jesus como uma figura de autoridade."[2] O Jesus Seminar documenta centenas de exemplos nos livros do Evangelho, inclusive casos nos quais "os seguidores de Jesus tomaram emprestado livremente sabedoria comum e cunharam seus próprios ditos e parábolas, que então atribuíram a Jesus."[3]
Isso não tira a credibilidade apenas de João 3:16, mas de fato de todo o João. Por extensão, se a Bíblia está repleta de contradições, como podemos saber o que é verdadeiro e o que não é - em qualquer lugar na Bíblia?
Como diz o velho ditado, não é o apito que puxa o trem. Os cristãos podem gostar de como João 3:16 soa, mas isso não o torna verdadeiro. De fato, quanto mais examinamos o versículo, mais razões encontramos para desacreditar nele.
Outro antigo ditado é que a isca esconde o anzol. João 3:16 é a isca, por meio da qual os evangelistas esperam jogar o anzol e enrolar as pessoas em suas conclusões presunçosas e inteiramente ilegítimas. Eles nos dizem que Deus deu Seu "único filho", sem analisar criticamente esse conceito. Se Jesus é o "único filho de Deus", por que Salmos 2:7 diz isso sobre Davi: "O Senhor me disse: Tu és meu Filho, eu hoje te gerei." Jesus o "único filho de Deus" com Davi, um "filho", "gerado" por Deus quarenta gerações antes? A Bíblia só pode ter um "único" de algo, mas não dois "únicos" da mesma coisa!
A Bíblia descrever muitas pessoas, Israel e Adão incluídos, como "filhos de Deus." Tanto em 2 Samuel 7:13-14 quanto em 1 Crônicas 22:10 se lê, "Este (Salomão) edificará uma casa ao meu nome, e eu estabelecerei para sempre o trono do seu reino. Eu lhe serei por pai, e ele me será por filho."
Na Bíblia, "único gerado" é traduzido do grego antigo monogenes.[4] E ainda assim, "Isaque é monogenes em Hebreus 11:17."[5] Ismael nasceu quatorze anos antes de Isaque e ambos estavam vivos quando o pai, Abraão, morreu. Em momento algum Isaque foi o "único filho gerado" de Abraão. Então "único gerado" é uma má tradução de monogenes ou Hebreus 11:17 é um erro? Se é uma má tradução, então João 3:16 deve estar mal traduzido também. Se é um erro, não podemos confiar na Bíblia como um todo (um refrão repetitivo nessas discussões).
Georgie Pettie uma vez corrigiu um provérbio antigo: "Errar é humano, perdoar é divino..." adicionando "e persistir no erro é burrice." A atitude presunçosa dos seguidores de João 3:16 "tenho o Espírito Santo dentro de mim e não posso errar" é ofensiva por muitas razões, tanto quanto é errada. Por um lado, soa muito como a máximo do advogado para argumentar fatos e leis quando servem o propósito e gritar quando não servem.
Se me permitirem ecoar a conclusão de Voltaire: A dúvida não é uma condição agradável, mas certeza em face de evidência em contrário é absolutamente absurdo.
Apesar da força da evidência contra João 3:16, a maioria dos cristãos se recusa a reconhecer a ilegitimidade do versículo. E talvez não cristãos devam aceitar isso.
Em Mateus 5:9 Jesus diz, "Bem-aventurados os pacificadores, porque serão chamados filhos de Deus." Então, talvez, devamos esquecer de tentar ganhar esse argumento e fazer as pazes. Não podemos nos unir nas crenças, então pelo menos vamos nos unir em atos gentis e caritativos. Tornemo-nos os "pacificadores bem-aventurados" que são chamados de "filhos de Deus". Então, destaquemos que esse é apenas mais um versículo bíblico que contradiz o conceito exclusivo de "filho de Deus" de João 3:16. Nada diz que não podemos fazer a paz e continuar a enfatizar nosso ponto de maneira educada ao mesmo tempo. Mas isso, para mim, é um elemento importante de qualquer diálogo religioso: Mantenha-o leve e educado, mas mantenha o foco.
Sobre o autor:
Laurence B. Brown, MD, é autor de vários artigos e livros e seu website oficial é www.leveltruth.com onde também pode ser contatado na página "Contato".
Notas de rodapé:
[1] Funk, Robert W., Roy W. Hoover, and the Jesus Seminar. The Five Gospels: The Search for the Authentic Words of Jesus. p. 10.
[2] Funk, Robert W., p. 21.
[3] Funk, Robert W., p. 22.
[4] Kittel, Gerhard and Gerhard Friedrich (editores). 1985. Theological Dictionary of the New Testament. Traduzido por Geoffrey W. Bromiley. William B. Eerdmans Publishing Co., Paternoster Press Ltd. p. 607.
[5]Ibid
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