Como sabemos que Deus é Único? Uma perspectiva filosófica e teológica (parte 2 de 3)
Descrição: A existência de Deus e Sua Unicidade são conhecidos por meio de razão e revelação. Parte 2 discute mais três argumentos racionais para a singularidade de Deus.
- Por Hamza Andreas Tzortzis
- Publicado em 13 Jun 2016
- Última modificação em 18 Jun 2016
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Argumento lógico
A lógica determina que seria um caos se houvesse mais de um Deus que criou o universo e não haveria o nível de ordem que encontramos no cosmos. Entretanto, você pode destacar que nosso carro foi feito por mais de um criador, uma pessoa ajustou os volantes, outra instalou o motor e outra o sistema de computador. Assim, a partir desse exemplo, pode haver mais de um criador e a coisa criada exibir ordem e estabilidade.
Para responder a esse argumento o que precisa ser compreendido é que a melhor explicação para as origens do universo é o conceito de Deus e não "projetista" ou "criador". Pode haver a possibilidade de múltiplos projetistas ou criadores, como destacado pelo exemplo do carro, mas não pode haver mais que um Deus. Isso porque Deus, por definição, é o ser que tem uma vontade ilimitada e imponente e se houver dois ou mais Deuses, isso significaria uma competição de vontades que resultaria em caos e desordem. Você pode argumentar que eles podem concordar em ter a mesma vontade ou cada um ter seu próprio domínio, mas isso significaria que suas vontades estão agora limitadas e passivas, e não seriam mais Deuses por definição!
Isso é bem explicado por Ibn Abi Al-Izz em seu comentário de ‘Aqeedah at-Tahawiyyah’:
"O argumento mais comum é conhecido como o argumento de exclusão. Esse argumento se desenvolve da seguinte forma. Se houver dois criadores e eles discordarem sobre algo, tal como um quisesse mover X, enquanto que outro não quisesse que isso se movesse, ou um quisesse fazer Y um ser vivo, enquanto que outro quisesse deixá-lo sem vida, então, falando logicamente, só existem três possiblidades. Primeiro, as vontades dos dois são ambas levadas adiante; segundo, somente a vontade de um deles é levada adiante; terceiro, a vontade de nenhum deles é levada adiante. O primeiro caso não é possível porque requer a existência de contrários. A terceira possibilidade também é excluída porque implicaria que um corpo se move e não se move e isso é impossível. Também implicaria que ambos são incapazes de levar adiante suas vontades, o que os desqualificaria de ser Deus. Finalmente, se a vontade de um é realizada e a do outro não, somente ele merecerá ser Deus e aquele cuja vontade não é realizada não pode ser considerado Deus.
Diferenciação conceitual
O que nos faz apreciar diferença e dualidade? Como diferenciamos entre duas pessoas caminhando na rua? A resposta reside no que se chama de diferenciação conceitual. Esses conceitos incluem espaço, distância, forma e características físicas. Leve em consideração o diagrama a seguir:
A razão pela qual você pode identificar dois objetos acima se deve às diferenças em cor, tamanho e forma, incluindo seu posicionamento. Em outras palavras, há uma distância entre eles. Na ausência desses conceitos você identificaria os dois objetos, ou quaisquer objetos? Não, porque esses conceitos são necessários para identificar qualquer número de entidades. Agora, uma vez que a causa do universo está fora do universo (se a causa fosse parte do universo, significaria que o universo criou a si próprio. Isso é absurdo, porque exigiria que o universo existisse e não existisse ao mesmo tempo!), você pode supor com segurança que não existem diferenciadores conceituais como distância, forma, cor e tamanho, porque esses conceitos só fazem sentido dentro do universo. Portanto, se não existem diferenciadores conceituais conhecidos não podemos alegar uma multiplicidade de causas, já que expliquei acima a impossibilidade de identificar pluralidade ou multiplicidade na ausência desses conceitos.
Uma vez que não existem conceitos para reconhecer uma pluralidade de causas, isso significa que não pode existir uma causa única? Não, porque se não houvesse causa para o universo então significaria que o universo, nas palavras de Bertrand Russell: "Simplesmente está lá e isso é tudo". Em outras palavras, significaria que o universo é infinito. Mas não pode ser o caso, como mencionado acima o universo começou a existir. Portanto, uma única causa independente é necessária racionalmente para explicar o fato de que o universo começou a existir e que uma pluralidade de causas não pode ser identificada devido à ausência de diferenciadores conceituais.
Singularidade
A causa do universo deve ser única, como diz o Alcorão: "Não há nada como Ele". Se a causa do universo não fosse única, significaria que existem algumas semelhanças entre a causa do universo e o universo em si. Isso não é possível, porque colocaria a causa do universo dentro do universo (se você define o universo como a soma de toda a matéria) e isso levaria a um absurdo, já que implicaria que o universo criou a si mesmo. Agora você pode perguntar: por que a causa do universo não pode se parecer com o universo? A resposta é direta: essa causa deve ser imaterial porque criou a soma de toda a matéria - que é o universo em si - e outro princípio que apoia isso é a primeira lei da termodinâmica, que afirma: "A energia não pode ser criada ou destruída". Colocando de forma simples, a energia (em outras palavras, a matéria) não pode criar a si mesma. Se a causa fosse material desafiaria esse princípio, já que significaria que matéria e energia criaram a si próprias. Então você pode concluir que a causa do universo deve ser imaterial e, portanto, única.
Como isso se relaciona com a unicidade de Deus? Bem, se houvesse mais de uma causa para o universo significaria que elas não são mais únicas. Entretanto, você ainda pode argumentar que pode haver duas causas imateriais e eu responderia: o que isso significa? Pareceria que você está violando a Navalha de Ocam e eu indicaria a você o primeiro argumento, como referência.
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