Xintoísmo (parte 1 de 2): O que é o Xintoísmo?
Descrição: Um olhar breve na origem do Xintoísmo, seu papel na cultura japonesa e o espírito conhecido como Kami.
- Por Aisha Stacey (© 2016 IslamReligion.com)
- Publicado em 05 Sep 2016
- Última modificação em 04 Sep 2016
- Impresso: 12
- 'Visualizado: 14,788 (média diária: 5)
- Classificado por: 0
- Enviado por email: 0
- Comentado em: 0
De acordo com o dicionário Princeton online, o Xintoísmo é a religião indígena antiga do Japão. Não tem um dogma formal e é caracterizado pela veneração de espíritos da natureza e dos ancestrais.[1]
O nome Xintoísmo vem dos caracteres chineses para Shen ("ser divino") e Tao ("caminho") e significa "Caminho dos espíritos."[2]
É extremamente difícil estimar o número de adeptos do Xintoísmo em todo o mundo. Algumas fontes dão números na faixa de 2,8 a 3,2 milhões. Outros afirmam que 40% dos japoneses adultos seguem o Xintoísmo; se fosse esse o caso, seriam em torno de 50 milhões de adeptos. Ainda assim fontes afirmam que em torno de 86% dos japoneses adultos seguem uma combinação de Xintoísmo e Budismo, que colocaria o número de adeptos do Xintoísmo em 107 milhões.[3]
O Xintoísmo se preocupa com o ritual, ao invés do dogma e, assim, o povo japonês não o considera como uma religião e sim um aspecto da vida japonesa. É por essa razão que o Xintoísmo tem existido facilmente com o Budismo por séculos. Não existem esforços missionários no Xintoísmo, raramente é praticado fora do Japão e não há livro ou manual. O Xintoísmo e seus rituais são transmitidos de geração a geração.
Também não existe escritura sagrada no Xintoísmo, mas existem livros de mitologia e folclore japoneses, o Kojiki ou "Registro dos assuntos antigos" (712 EC) e o Nihon-gi ou "Crônicas do Japão" (720 EC).[4] De acordo com o Kojiki, acredita-se que os deuses criaram o Japão como a imagem do paraíso na terra e o governante do Japão, o imperador, é um descendente direto da deusa do sol Amaterasu. O conceito japonês de divindade do imperador é muito mal compreendido por aqueles fora do Japão. Nem o imperador, nem a maioria de seu povo jamais pensou que o imperador fosse Deus no sentido de ser um ser supremo sobrenatural. Entretanto, no passado os mitos levaram alguns japoneses a acreditarem que o Japão e seu povo são especiais e mais merecedores de proteção do que os de etnias diferentes.
O Xintoísmo começou por volta de 500 AEC e era originalmente "uma mistura amorfa de adoração à natureza, cultos da fecundidade, técnicas de adivinhação, adoração a heróis e xamanismo."[5] É politeísta, pois seus adeptos veneram objetos naturais que acreditam conter seres espirituais; incluem montanhas, rios, água, pedras e árvores. Os ancestrais também são reverenciados e adorados. A moralidade e a ética xintoístas são baseadas no que mais beneficia toda a comunidade.[6] "O Xintoísmo enfatiza prática correta, sensibilidade e atitude." Toda vida e natureza humanas são sagradas.
A essência do Xintoísmo, entretanto, é a devoção aos seres espirituais invisíveis chamados Kami. Não são Deus ou deuses, mas espíritos preocupados com o povo japonês. Se são tratados adequadamente com devoção ritual, intervirão nas vidas das pessoas com muitos benefícios, como saúde e sucesso. A maioria dos Kami não têm nome e são chamados de Kami de tal e tal lugar. Entretanto, existem três tipos de Kami que têm importância particular. O primeiro deles são os Ujigami, os ancestrais; os humanos se tornam Kami depois da morte e são reverenciados por suas famílias como Kami ancestrais.[7] O segundo tipo são os Kami de objetos naturais e as forças da natureza, e o terceiro tipo são as almas de pessoas mortas particularmente devotas. Toda a humanidade é considerada como filhos de Kami e os crentes reverenciam os "musuhi", os poderes criativos e harmonizantes do Kami, e aspiram ter makoto, ou sinceridade.[8] Entretanto, nem todos os Kami são bons. Aparentemente, alguns podem ser muito maus.
Os textos primitivos falam brevemente sobre a "planície do paraíso" e uma "terra escura", a terra impura dos mortos, mas fazem pouca menção da vida após a morte porque o Xintoísmo é totalmente devotado à vida nesse mundo e enfatiza a bondade essencial da humanidade. Aparentemente o Kami mau entra no mundo externamente e afeta a humanidade com coisas como doenças e decadência. Quando as pessoas agem de maneira errada, permitem a poluição e o mal no mundo, obstruindo o fluxo de energia boa. Consequentemente, o propósito da maioria dos rituais xintoístas é manter afastados os maus espíritos pela purificação, orações e oferendas aos Kami.
A introdução do Budismo no Japão no século sexto EC não provocou o abandono do Xintoísmo. Ao invés disso, ambas as religiões se expandiram e figuras budistas adotaram identidades xintoístas complementares. Assim, os novos convertidos ao Budismo não eram obrigados a abandonar suas crenças tradicionais. No Japão, os locais xintoístas de adoração são chamados de santuários, enquanto que os locais budistas são chamados de templos. Os Kami moram nos santuários e cada aldeia, cidade ou distrito tem seu próprio santuário. É raro os santuários terem estátuas, mas se existirem não são adoradas. Representam certos animais, como a raposa ou cavalo, que servem o Kami. A adoração xintoísta é altamente ritualizada e pode ocorrer nos santuários ou nas casas.
Muitos lares japoneses contêm um local reservado como santuário, chamado Kami-dana. É aqui que são feitas as oferendas de flores ou alimentos e orações. O Kami-dana é uma prateleira que geralmente contém uma réplica muito pequena do santuário local. Também pode incluir amuletos para assegurar boa sorte ou absorver azar e um espelho que conecta a prateleira ao Kami.
O Xintoísmo permeia a vida japonesa em todos os níveis. A cultura japonesa inclui arquitetura e formas antigas de arte xintoístas como o teatro Noh, caligrafia japonesa e gagaku. Também inclui música e dança antigas que se originaram nas cortes da China Tang (618 - 907). Em todo o Japão, um grande número de cerimônias de casamento é realizado no estilo xintoísta. A morte, entretanto, é considerada uma fonte de impureza e, assim, não existem cemitérios xintoístas e a maioria dos funerais são feitos no estilo budista.[9]
Na parte dois compararemos o Kami com seres espirituais do Islã, os jinns (gênios). Veremos de perto os festivais e rituais e discutiremos o fato de que os seguidores do Xintoísmo estão presos à superstição ritual, que geralmente é associada com as religiões politeístas.
Notas de rodapé:
[1] (wordnetweb.princeton.edu/perl/webwn)
[2] (http://www.bbc.co.uk/religion/religions/shinto/ataglance/glance.shtml)
[3] (http://www.religioustolerance.org/shinto.htm)
[4] (http://www.beliefnet.com/Faiths/Shinto/index.aspx)
[5] (http://www.shinreikyo.or.jp)
[6] (http://www.trincoll.edu/)
[7] (http://www.japan-guide.com/e/e2056.html)
[8] (http://www.religioustolerance.org/shinto.htm)
[9] (http://www.japan-guide.com/e/e2056.html)
Adicione um comentário