Unitarianismo (parte 1 de 2)

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Descrição: O Unitarianismo é uma ramificação do Cristianismo. Sua história inicial e influência do Islã é traçada junto com a comparação com a fé Bahai e o Cristianismo.

  • Por Imam Mufti (© 2017 IslamReligion.com)
  • Publicado em 14 Aug 2017
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Introdução

Unitarianism_(part_1_of_2)_por-BR._001.jpgComo outros ramos do Cristianismo, o Unitarianismo não é exceção para uma grande diversidade de crenças, adoração e uma história complexa. Nos EUA, historicamente o Unitarianismo tem sido relacionado de maneira muito próxima com o Universalismo e conhecido com Universalismo Unitário ou UU, abreviado. O Universalismo, fundado por um inglês chamado John Murray, é uma crença de que o amor de Deus redimirá todas as pessoas do pecado. Em palavras simples, todos serão salvos. Alguns consideram o UU parte do Cristianismo liberal, outros não. O UU atualmente está presente em vinte e nove países.

Desenvolvimento histórico inicial

Os unitários remontam a 325 EC e o Concílio de Niceia, no qual a igreja votou que Deus e Jesus tinham uma relação de pai e filho. Os unitários primitivos afirmavam ter a fé original, pré-Niceia, que foi condenada como heresia. Ário (256-336 EC), um padre de Alexandria, afirmou que Jesus não era Deus. Suas ideias foram rejeitadas no Concílio de Niceia em 325 EC. O "universalismo" também foi condenado como heresia dois séculos depois em 553 EC, em Constantinopla, no Quinto Concílio Ecumênico.

Historicamente o Unitarianismo teve uma presença global e os universalistas existem somente na América do Norte. O Unitarianismo tem uma história longa remontando ao movimento humanista italiano do século 15, que criou igrejas unitárias na Polônia, Grã-Bretanha e colônias britânicas.

Influência do Islã e tolerância dos muçulmanos

Miguel Servet (1511-1553 EC) da Espanha reviveu a ideia de que a trindade não era baseada na Bíblia. Foi influenciado pelos muçulmanos que viviam na Península Ibérica na época. Na realidade usou o Alcorão, o texto sagrado muçulmano, para atacar a trindade em seu livro "The Restoration of Christianity" (A Restauração do Cristianismo, em tradução livre) [1] e negou o conceito de pecado original. No fim foi queimado na estaca, em 1553 EC. É considerado um dos fundadores do Cristianismo liberal. Os unitários/antitrinitários se espalharam junto às fronteiras da Cristandade com o império muçulmano Otomano, já que seu povo era forçado a lidar com outros pontos de vista, tornando os cristãos dessas áreas mais tolerantes[2]. E "por causa das interações interculturais com o Islã, um tipo de Cristianismo pode emergir cujo profeta não era divino, mas mais como Mohammed." [3]

Os muçulmanos mostraram tolerância em relação aos unitários. Solimão I, do império muçulmano Otomano, deu apoio à monarquia de João Sigismundo, o único rei unitário na história. Solimão enviou um emissário para testemunhar a rainha Isabella amamentando o jovem príncipe, depois de saber de seu nascimento em 1540. Então, no ano seguinte o sultão enviou tropas para resgatar o exército de Isabella em Buda, que estava prestes a ser derrotado por Ferdinando do império de Hasburgo. A historiadora Susan Ritchie argumenta que há uma influência direta da tolerância islâmica sobre o Édito de Torda, que foi a "primeira articulação moderna do princípio de tolerância religiosa pelos europeus, a nível de norma de estado." [4]

Unitarianismo e fé Bahai

De algumas formas, o UU é para o Cristianismo o que a fé Bahai é para o Islã. Ambos se originaram de uma religião principal da qual tomaram emprestado alguns elementos e também tomaram emprestado fortemente de outras religiões e filosofias. Nenhuma delas tem uma escritura ou credo[5] como referência. Ambas são uma combinação de humanismo, religião e outras filosofias com um número bem pequeno de seguidores.

O Unitarianismo moderno é cristão?

O UU é cristão? A resposta depende do local e do indivíduo. Próximo da Romênia, é. Na Grã-Bretanha e Irlanda, geralmente é cristão. Nos EUA e Canadá, não é. Nos EUA, a fé não exige crença no Cristianismo para salvação e promove que outras religiões são válidas. Existem membros que acreditam em Deus e membros que não.

Unitarianismo & Cristianismo comparados

O Unitarianismo é considerado uma religião ética, não uma religião baseada em um credo. O UU é baseado na ética cristã, mas, ao mesmo tempo, não é tradicionalmente cristão. O Cristianismo predominante acredita que a morte de Jesus revelou Deus para a humanidade e a ressurreição de Jesus é o pilar de seu credo, enquanto que o UU não exige uma crença no sobrenatural. Os unitários negam a trindade com não razoável e não bíblica. Os unitários não aderem ao padrão cristão de aceitar Jesus Cristo como Senhor e Salvador. São contra o batismo de crianças. É por isso que é possível ser unitário budista ou hindu.

O UU carece de uma estrutura visível. Não existem orações ou rituais específicos. Muitos não usam a Bíblia de forma alguma, alguns têm serviços irregulares baseados na Bíblia. A meditação budista e a ioga são ativamente encorajadas. A fé é mostrada por meio de trabalho social.

A prática unitária britânica difere da americana. Nos EUA existem algumas congregações que usam livros de orações e outras que nem ao menos dizem a palavra "oração".



Notas de rodapé:

[1] Peter Hughes, "Servetus and the Qur’an," The Journal of Unitarian Universalist History, Volume xxx

(2005), p. 61.

[2] Diarmaid MacCulloch, The Reformation: A History (Nova Iorque: Viking Penguin, 2003), p. 255.

[3] ‘Introduction to the Unitarian and Universalist Traditions’ de Andrea Greenwood & Mark Harris, p. 21

[4] Susan Ritchie, "The Pasha of Buda and the Edict of Torda: Transylvanian Unitarian/Islamic Ottoman

Cultural Enmeshment and the Development of Religious Tolerance," Journal of Unitarian Universalist

History, Volume xxx (2005), p. 37.

[5] ‘Introduction to the Unitarian and Universalist Traditions’ de Andrea Greenwood & Mark Harris, p. 3

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Unitarianismo (parte 2 de 2)

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Descrição: Separação de Deus, vazio de adoração, falta de apoio em ensinamentos proféticos e a falta de identidade religiosa resultante entre os unitários é o foco desse artigo.

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Ausência de Deus & vazio da adoração unitária

Unitarianism2.jpgControvérsias sobre a crença em geral, até mesmo crença em Deus, tem criado confusão entre os unitários.  Philip Hewett, um ministro unitário há muito tempo, de Vancouver, Columbia Britânica, diz: "A verdadeira razão por que é tão difícil definir o Unitarianismo em poucas palavras é que suas características distintas não são encontradas no campo das crenças e doutrinas... Dentro do Cristianismo tradicional essa autoridade é encontrada na Bíblia ou na Igreja, ou nos ditos registrados dos fundadores. Os unitários a encontram na razão e consciência do indivíduo." [1] Dessa forma, não pode haver unidade teológica quando a orientação principal para encontrar a verdade é a experiência individual. 

Em 1967 muitos unitários e universalistas concordaram que o termo "Deus" não representava um ser sobrenatural.  28 por cento da denominação na América considerava o conceito de Deus "irrelevante", com um adicional de 2 por cento chamando-o de "prejudicial". Em uma publicação do UU, "Unitarian Universalist Views of God," Robert Storer disse que: "por mais de um século esse Deus personificado foi declarado inadequado pelas... igrejas."

Consequentemente, os unitários também lutam por identidade religiosa.  Como pode ser uma fé universal? Uma fé tem que ter alguns limites, alguma noção de certo e errado, e algum ensinamento e verdades transcendentais.  O Unitarianismo tem dificuldades nessas áreas.  O Islã, ao contrário, soluciona o dilema de ser uma fé universal que fala de verdade e realidade.  Os muçulmanos acreditam que o Islã - adoração e submissão a Deus - foi ensinado por todos os profetas incluindo Abraão, Moisés, Jesus e Muhammad, que a paz esteja sobre todos eles.  Seus seguidores verdadeiros eram todos muçulmanos.  Entendido dessa forma, o Islã é de fato uma fé universal cuja essência permaneceu inalterada com o tempo.

Separada de uma noção significativa de Deus, a adoração unitária é geralmente destituída de emoção.  Ralph Waldo Emerson, poeta americano famoso, acusou-a de ser "um corpo frio".[2]

Uma falta de tradição e rituais, sem indicação de uma vida melhor, ou progresso para um ideal celestial, nem mesmo um Deus para adorar, mantém a filiação muito limitada.  A fé não é promissora.  As duas maiores congregações no mundo são a Associação Universalista Unitária (AAU) e o Conselho Internacional de Unitários e Universalistas (CIUU).  Oficialmente existem 160.000 membros na AAU e meio milhão no CIUU em todo o mundo.

Os unitários modernos têm dificuldade em passar sua crença para os filhos.  O dilema unitário é como uma instituição fornece identidade religiosa às crianças se essa identidade deve ser de livre escolha?

Os unitários enfatizam razão sobre revelação e o mundo material e ação adotada nele são a fonte de todo significado.  O engajamento nesse mundo é o foco principal, ao invés da outra vida.  O Islã, por outro lado, equilibra esse mundo e o próximo.  Embora o trabalho social e o serviço para a humanidade sejam enfatizados no Islã, estão vinculados com a recompensa na próxima vida.

A tolerância religiosa é um princípio central dos unitários.  Dessa forma, tratam todas as crenças como válidas.  Uma ideia tentadora, mas com problemas sérios.  Como religiões com afirmações contraditórias podem ser todas verdadeiras? Por exemplo, os cristãos afirmam que Jesus é o filho de Deus, que morreu e foi ressuscitado dos mortos. O Islã é absolutamente claro em sua posição de que Deus não teve filho e Jesus foi um profeta.  Ambas não podem ser verdadeiras ao mesmo tempo, porque são contraditórias.  Isso não significa que muçulmanos e cristãos não possam ou não devam ter um diálogo tolerante e civilizado sobre seus entendimentos religiosos.

Questão fundamental

O Unitarianismo sofre de uma falha fundamental e compreensível: falta de crença em profetas.  Muito pouco é sabido de forma confiável sobre Jesus a partir de fontes cristãs e não cristãs.  A própria Bíblia não é um documento estabelecido entre os cristãos. A Bíblia católica é maior que a protestante.  Naturalmente cada denominação interpretou a "escritura" com base em seu entendimento.  O Unitarianismo é o resultado natural de abrir mão de revelação e substituí-la com a razão, enquanto mantém uma crença vazia em Deus, se tanto. 

Os muçulmanos preservaram os ensinamentos do profeta Muhammad completamente porque têm boas razões para acreditar que possuem a verdade.  Confiam na supremacia da revelação, sem suspender a racionalidade.  A revelação de Deus, de acordo com os muçulmanos, distingue o certo do errado, verdade do erro e orientação de desorientação.  Para os muçulmanos, enviar orientação revelada foi a promessa de Deus para a humanidade na época da "queda" de Adão.  A essência do entendimento islâmico é que Deus comunica à humanidade a mensagem final (ou seja, o Alcorão), que foi preservada.  Isso guiou os unitários no passado e pode fazê-lo novamente.



Notas de rodapé:

[1] Phillip Hewett, Unitarians in Canada (Don Mills, on: Fitzhenry and Whiteside, 1978), p. 2.

[2] Ralph Waldo Emerson, The Heart of Emerson’s Journals, ed. Bliss Perry (Boston, ma: Houghton, Mifflin and Co., 1926), p.218.  Essa referência é de 1 de maio de 1846.

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